Ex-carcereiro do Khmer Vermelho é condenado por tribunal do Camboja

Duch coordenou a prisão de Tuol Sleng, onde 17 mil cambojanos teriam sido torturados e mortos

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Por BBC Brasil
Atualização:

PHNOM PENH - O ex-chefe carcerário do Khmer Vermelho, Kaing Guek Eav, conhecido como Duch, foi considerado culpado nesta segunda-feira, 26, no Camboja, por crimes contra a humanidade. O veredicto foi anunciado pelo tribunal de crimes de guerra do Camboja, que conta com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU).

 

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Duch, de 67 anos, foi condenado a 35 anos de prisão. Ele admitiu ter coordenado a tortura e execução de milhares de homens, mulheres e crianças na conhecida prisão de Tuol Sleng e pediu perdão por seus atos. Esse é o primeiro veredicto emitido pelo tribunal. Sentença reduzida A promotoria havia pedido uma sentença de 40 anos de prisão aos juízes. Duch, no entanto, não cumprirá os 35 anos a que foi condenado. Ele teve a sentença reduzida em 16 anos, cinco por ter sido mantido preso por um período considerado muito longo antes do julgamento e os outros 11 anos por causa do tempo que já cumpriu em detenção durante o processo. Segundo o correspondente da BBC em Phnom Penh, Guy Delauney, a redução causou revolta em algumas pessoas, mas outras ficaram aliviadas de ver um alto líder do Khmer Vermelho finalmente condenado após três décadas. Vestindo uma camisa azul, o ex-chefe carcerário do Khmer Vermelho parecia pensativo e afundou em sua cadeira detrás de uma tela à prova de balas durante os procedimentos. Ao ler a sentença, o presidente do painel de cinco juizes disse que ela reflete a natureza "chocante e atroz" dos crimes. Uma multidão compareceu ao tribunal especialmente construído nos arredores da capital cambojana, Phnom Penh para ouvir o veredicto, que também foi transmitido ao vivo pela mídia do país. Tortura A prisão de Tuol Sleng era o destino de "inimigos" do regime do Khmer Vermelho cambojano. Cerca de dois milhões de pessoas morreram por causa das políticas do grupo, no poder no Camboja entre 1975 e 1979. Entre as práticas do Khmer estavam a evacuação de cidades, trabalho forçado em plantações de arroz e a execução sumária dos considerados inimigos da revolução. Apesar de ter reconhecido seu papel em Tuol Sleng, que também era conhecida como S-21, Duch insistiu que estava apenas cumprindo ordens de seus superiores. No último dia de seu julgamento, em novembro, ele chocou vários cambojanos ao pedir para ser absolvido. Mas os procuradores disseram que Duch ordenou o uso de métodos brutais de tortura para extrair "confissões" dos detentos, incluindo arrancar unhas e administrar choques elétricos, além de ter aprovado todas as execuções. Arquivista meticuloso, ele reuniu um enorme arquivo de fotos, confissões e outras evidências documentando a passagem dos detentos por Tuol Sleng. Em um memorando guardado por ele, um guarda perguntava a Duch o que fazer com seis meninos e cinco meninas acusados de traição. "Mate todos eles", foi a resposta. Depois que o Khmer Vermelho foi derrubado, Duch desapareceu por quase duas décadas, vivendo sob diferentes nomes no noroeste do Camboja e se convertendo ao cristianismo. Ele acabou sendo descoberto por acaso por um jornalista britânico e foi preso em 1999. Acredita-se que 17 mil pessoas morreram na prisão. Apenas cerca de dez detentos de Tuol Sleng sobreviveram, três dos quais ainda estão vivos. O líder do Khmer Vermelho, "Camarada Número Um" Pol Pot, morreu em 1998. Duch, que era professor de matemática antes de atuar na prisão, é o primeiro dos cinco líderes do grupo que ainda estão vivos a ser julgado. Os outros líderes do Khmer Vermelho que ainda aguardam julgamento são o "Camarada Número Dois" Nuon Chea, o ex-chefe de Estado Khieu Shampnah, o ex-ministro das Relações Exteriores Ieng Sary e sua mulher Ieng Thirith, que era ministra de Questões Sociais.

 

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