Filas imensas nos postos no país da gasolina 

Para conter contrabando de combustível, Venezuela reduz oferta do produto em áreas fronteiriças com a Colômbia

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Foto do author Luiz Raatz
Por Luiz Raatz , San Cristóbal e Venezuela
Atualização:

SAN CRISTÓBAL, VENEZUELA - Conhecida pela gasolina abundante e barata, a região da fronteira da Venezuela vive um paradoxo. Nos Estados do oeste do país, perto da fronteira com a Colômbia, a falta do combustível tornou-se comum. Filas para abastecer são longas, levam mais de uma hora e começam ainda de madrugada. O motivo é que o governo do presidente Nicolás Maduro tenta combater o contrabando de combustível reduzindo a oferta de gasolina para áreas como a de Táchira, uma das mais próximas do território colombiano.

Em San Cristóbal, capital do Estado de Táchira, a cena é muito comum. As filas nos postos se estendem por mais de um quarteirão. A reportagem do Estado percorreu em dois dias mais de dez postos de gasolina em diferentes horários e presenciou filas em todos. A exceção ocorre em estações onde é vendida a gasolina de fronteira - 60 vezes mais cara que a comum da Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA).

Espera: filas nos postos de San Cristóbal,no Estado Venezuelano de Táchira, começam cedo Foto: Luiz Raatz / Estadao

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Ali, as bombas de gasolina estão vazias. “Todo dia perco pelo menos uma hora e meia na fila para abastecer. Isso me tira 30% do rendimento diário”, disse o motorista Rolando Herrera. “As filas começam bem cedo, antes das 6 da manhã.”

Controle. Nos Estados fronteiriços, os veículos são equipados com um chip que verifica a venda de combustível. Carros comuns podem comprar até 30 litros por dia. Taxistas e outros que dependem do automóvel para transportar cargas e pessoas têm direito a até 50 litros. Nas bombas comuns, o litro da gasolina de 91 octanos é vendido a 6 bolívares (US$ 0,01, pelo câmbio oficial mais barato). Nas chamadas bombas internacionais - sem filas e com o combustível mais caro - o litro sai por 232 bolívares. É comum também ver alguns postos fechados na cidade.

“O chip serve também para evitar o contrabando, porque ele marca por qual posto de controle você passou”, explica o policial aposentado José Suárez. “Então, se você vai muito de San Cristóbal a San Antonio de Táchira (última cidade venezuelana antes da fronteira com a Colômbia), a Guarda Bolivariana tem como desconfiar”, explica Suárez.

As filas também provocam grandes problemas no trânsito. É comum ver carros parados em filas duplas nas imediações dos postos à espera da vez para abastecer. “Há fila para tudo. Fila para encher o tanque, fila para comprar comida, fila para comprar remédio”, reclamou Suárez. “Ninguém aguenta mais. É muito duro viver assim.”

Mapa de cidades fronteiriças com a Venezuela no Brasil e na Colômbia 

Diversas vezes, o presidente Maduro prometeu mão pesada no combate ao contrabando na fronteira com a Colômbia. As ferramentas escolhidas foram reduzir a oferta de combustível e ampliar o controle de venda. Além do limite diário de gasolina e do chip, de San Cristóbal a San Antonio há pelo menos três postos de controle da Guarda Bolivariana. Frequentemente, carros e caminhões são parados para inspeções.

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“Agora, o contrabando é feito pelas montanhas, não pelas estradas. Pelo menos é o que se ouve”, disse Suárez. No Estado vizinho de Mérida, também há filas nos postos de gasolina, principalmente na cidade de El Vigia, a cerca de 3 horas de San Cristóbal.

Ali, muitos motoristas preferem dirigir mais uma hora e meia até Mérida para abastecer sem ter de enfrentar filas. “Para passar uma hora e meia aqui parado e uma hora e meia guiando até Mérida, é melhor ir para lá”, disse o taxista Nelson Acuña.

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