BERLIM — Inundações causadas por violentas chuvas que atingiram uma faixa da Europa Ocidental já mataram 157 pessoas, segundo os números divulgados pelas autoridades locais neste sábado, 17. As chuvas, que começaram na quinta-feira, 15, arrastaram vilarejos inteiros em águas marrons e revirando carros após um temporal de verão (no Hemisfério Norte) em níveis que não eram vistos na região havia um século.
O país mais atingido foi a Alemanha, que tem até agora 133 mortos. Segundo as autoridades, 90 pessoas morreram no condado de Ahrweiler, no Estado da Renânia-Palatinado, no oeste do país, uma das áreas mais atingidas. Há pelo menos 60 pessoas desaparecidas e mais de 600 feridos. Outras 43 pessoas foram confirmadas como mortas no Estado vizinho da Renânia do Norte-Vestfália. O governo da Bélgica confirmou 24 óbitos e também espera que haja mais mortos na tragédia.
Neste sábado, 17, a maioria dos desaparecidos havia sido contabilizada, mas o recuo das águas começava a revelar a extensão dos danos. “Muitas pessoas perderam tudo o que passaram suas vidas construindo. Seus pertences, sua casa, o telhado sobre suas cabeças”, disse o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, após visitar a cidade de Erftstadt, onde casas foram arrastadas pela água e algumas desabaram.
Os militares alemães usam veículos blindados para remover carros e caminhões arrastados pelas enchentes em uma estrada próxima à cidade. Nenhuma vítima foi encontrada nos veículos, disseram as autoridades, até a tarde deste sábado (horário local).
Na área de Ahrweiler, a polícia alertou sobre um risco potencial de linhas de transmissão de energia que desabaram. Muitas áreas ainda estão sem eletricidade e telefone. Ainda neste sábado cerca de 700 pessoas foram evacuadas de parte da cidade alemã de Wassenberg, na fronteira com a Holanda, após a ruptura de um dique no rio Rur.
Na Bélgica, o primeiro-ministro Alexander de Croo apelou por ajuda internacional. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro visitaram cidades danificadas pelas enchentes neste sábado, de acordo com a emissora estatal belga RTBF.
Inundações severas também afetaram a Holanda, Luxemburgo e Suíça, e alertas foram emitidos em mais de uma dúzia de regiões da França.
No sul da Holanda, voluntários trabalharam durante a noite para escorar diques e proteger as estradas. Milhares de moradores foram autorizados a voltar para casa na manhã de sábado, após terem sido evacuados na quinta e sexta-feira.
O primeiro-ministro interino Mark Rutte, que visitou a região na sexta-feira, disse que “em breve as pessoas terão que trabalhar na limpeza e recuperação”. “É desastre após desastre após desastre. Mas não vamos abandonar Limburg ”, disse. Seu governo declarou as enchentes em estado de emergência, abrindo fundos nacionais para os afetados.
Falando de Washington, onde está em visita oficial para se encontrar com o presidente Joe Biden, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que palavras como chuva forte e inundação são insuficientes para descrever o nível da tragédia. “Nessas horas, lugares pacíficos estão passando por uma catástrofe”, disse Merkel, descrevendo seu choque ao ver relatos de pessoas presas em telhados em seu país. Segundo ela, algumas pessoas morreram afogadas nos porões de suas casas, e alguns bombeiros morreram ao tentar resgatá-las.
A tempestade – em níveis não vistos na região nos últimos 100 anos – desencadeou apelos para que se acelerem as ações contra as mudanças climáticas e a proteção contra enchentes em meio a eventos climáticos irregulares.
A tragédia ocorre um dia depois de a União Europeia anunciar planos ambiciosos para reduzir, em menos de uma década, as emissões líquidas de gases do efeito estufa em pelo menos 55% abaixo dos níveis de 1990.
Nas partes mais atingidas da Alemanha, a precipitação em apenas 24 horas foi o dobro da média normal para todo o mês de julho, de acordo com o Deutscher Wetterdienst, a agência meteorológica alemã.
Vídeos mostraram as ruas da cidade transformadas em rios turbulentos e outras tomadas por deslizamentos de terra. Carros foram revirados e jogados de lado como destroços amassados. Vistos de cima, alguns vilarejos pareciam ter desaparecido quase completamente, apenas os topos das casas apareciam nas enchentes.
“Fiquei totalmente surpreso. Pensei que um dia entraria água aqui, mas nada parecido com isso”, disse Michael Ahrend, morador de Ahrweiler, à agência Reuters. “Isso não é uma guerra, é simplesmente a natureza atacando. Finalmente devemos começar a prestar atenção nisso.” / W. POST, AP, AFP e REUTERS
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