A falta de limpeza em Paris com a greve dos garis se tornou um símbolo de resistência contra a reforma da previdência proposta pelo presidente Emmanuel Macron. A paralisação chegou ao fim nesta quarta-feira, 29, e os trabalhadores do setor começaram a retirada de 6,6 mil toneladas de lixos das vias públicas acumulados durante três semanas.
A decisão de suspender a paralisação foi tomada pela poderosa central sindical francesa Confederação Geral do Trabalho (CGT). Segundo o jornal francês Le Monde, até terça-feira, 28, o 23.º dia da greve, havia cerca de sete mil toneladas de lixo não coletados, em comparação com 10 mil toneladas na sexta-feira passada, 24.
No entanto, o sindicato garantiu ao Le Monde que o fim da greve não representa o final dessa reivindicação. Já que alguns coletores de lixo voltaram a trabalhar, o sindicato decidiu encerrar a paralisação para coordenar um retorno com ainda mais adesão. A intenção é “entrar em greve novamente, com mais força”.
Embora os residentes de Paris concordem com o propósito da paralisação, o fim da greve dos lixos é motivo de alívio. Além do mau cheiro, o acúmulo de lixos também atraia ratos e insetos. “É bom que o lixo seja recolhido. É muito anti-sanitário, e alguns residentes já têm problemas com ratos. Pode ser perigoso ficar tempo demais assim”, disse o artista Gil Franco, 73, à AP.
O perfil oficial da cidade de Paris publicou no Twitter que, na manhã desta quarta-feira, 137 caçambas saíram das garagens para iniciar a coleta de lixo. “Isso é 25% a mais do que uma quarta-feira normal”, comparou o perfil.
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Outra questão também preocupava os parisienses com a greve: a violência. Nas cidades ocidentais de Nantes e Rennes, por exemplo, alguns manifestantes atearam fogo a carros, móveis e latas de lixo. A repressão policial também contracenou manifestações violentas. Imagens ao vivo da Reuters mostravam a polícia atacando os manifestantes em meio a nuvens de gás lacrimogêneo.
“Todos nós conhecemos alguém que foi espancado ou que esteve sob custódia da polícia”, comentou Lou Boudet Marin, 21, que compareceu ao protesto de estudantes franceses nesta terça, 28, com dois amigos.
Organizações internacionais denunciam o uso da força policial contra manifestantes. “Há um uso desproporcional da força que já havíamos denunciado durante os coletes amarelos”, disse à AFP Jean-Claude Samouiller, da ONG Anistia Internacional, lembrando o protesto social em 2018 e 2019.
O ritmo de vida mais tranquilo faz falta aos residentes da Cidade Luz. “As pessoas estão cansadas disso. Tem havido muita violência. Paris está um desastre, e eu quero continuar com a vida normal”, disse a residente de Paris, Amandine Betout, 32 anos, à AFP.
Um novo dia de mobilização já é previsto pelos sindicatos para a próxima quinta-feira, 6 de abril, segundo o jornal francês Le Figaro, poucos dias antes da decisão final do Conselho Constitucional sobre a reforma.