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De Beirute a Nova York

Guia para a tensão no Líbano

Meu comentário sobre a política externa de Obama e Romney na Globo News está aqui

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Por gustavochacra
Atualização:

O Líbano não terá guerra civil enquanto o xeque Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, e o opositor Saad Hariri, do grupo sunita Futuro, conseguirem controlar os seus seguidores e o Exército se mantiver coeso. Por enquanto, tem funcionado. Mas até quando, especialmente com a situação se deteriorando a cada dia?

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Primeiro, precisamos entender as divisões no Líbano. De um lado, na governista 8 de Março, temos os cristãos seguidores de Michel Aoun, os xiitas do Hezbollah e da Amal e alguns sunitas (poucos) tradicionalmente ligados a Damasco, incluindo o premiê Najib Mikati. Os aliados externos desta facção são o Irã e a Síria.

Na oposição, conhecida como 14 de Março, temos os sunitas de Saad Hariri (maioria dos sunitas) e facções cristãs comandadas acima de tudo por Samir Gegea. Não há xiitas. São aliados da Arábia Saudita e dos EUA.

Os druzos, que seguem geralmente as ordens de Walid Jumblatt, optaram por manter uma neutralidade e seguem como ponto de quilíbrio. Também vale frisar a importância do presidente Michel Suleiman, cristão, como manda a lei, respeitado pelos dois lados.

Internamente, existem diferenças, mas não a ponto de levar a um conflito. Externamente, porém, o antagonismo em relação ao futuro da Síria é enorme. A chance de o conflito atingir o Líbano cresceu muito com o atentado que matou Wissam al Hassen, um sunita aliado de Hariri. Isto é, da oposição.

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Como vemos, portanto, existe uma divisão sunita-xiita e outra intra-cristã. A guerra pode eclodir em qualquer um dos lados. Entre os cristãos, parece ser improvável, pois envolve até irmãos em lados opostos. Não se matariam.

Já entre xiitas e sunitas o ódio é enorme. Mas por que Nasrallah e Hariri não querem a guerra?

Primeiro, no caso de Hariri, porque ele perderia em todos os sentidos. Suas forças, mesmo com a inclusão de jihadistas ligados aos rebeldes sírios, seriam uma piada na hora enfrentar o Hezbollah. Seus investimentos, como o Solidere (centro de Beirute) e a marina poderiam ser destruídos.

O Hezbollah, por sua vez, não quer instabilidade interna. Primeiro porque também tem investimentos. Em segundo lugar, porque seu foco sempre foi Israel. Se quisesse tomar o poder no Líbano, já teria tomado.

O problema, no caso de Hariri, é que ele está no exílio e não se sabe até quando conseguiria controlar as ruas sunitas, especialmente os jihadistas, que não o respeitam muito.

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Neste caso, caberia ao Exército tentar frear um conflito. Neste momento, tem conseguido. Mas até quando duraria esta coesão? Um soldado sunita bateria de frente com miliciano sunita? Difícil, sem falar que os militares ainda são associados aos cristãos.

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Vejo com ceticismo, mas ainda com esperança a situação no Líbano. Diferentemente da Síria, conhecemos bem todos os atores envolvidos.

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade ColumbiaTambém é comentarista do programa Em Pauta, na Globo News. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen.No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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