Conhecido pela sua obra sobre a crise das democracias liberais, o cientista político Yascha Mounk começa seu quinto livro com a história de uma mãe negra que tentou, em 2020, matricular sua filha de 7 anos numa turma de escola pública de um subúrbio rico de Atlanta, na Geórgia, nos Estados Unidos. Apesar da tentativa da mãe de que a filha tivesse aulas com uma professora específica, a diretora da escola, também negra, repeliu o pedido com o seguinte argumento: “Essa não é a classe de alunos negros”.
No livro, Mounk junta esse caso, que virou uma controvérsia judicial, a outros exemplos de escolas públicas e de elite que dividem os alunos conforme sua etnia ou raça. Seu objetivo é mostrar como parte crescente das instituições nos Estados Unidos (universidades, fundações e corporações) passaram a adotar um “segregacionismo progressista” com base na ideia de que é preciso encorajar as pessoas a adquirir consciência de sua raça, assim como de outras formas de identidade, como gênero e orientação sexual, para lutar contra injustiças históricas.
Com a emergência dessa ideologia, que Mounk batiza com o nome de “síntese identitária”, antigos valores universais, como a noção de que não existe raça, estão sendo abandonadas e substituídas pelo credo de que “somos todos seres raciais”. Em “Identity Trap: a story of ideas and power in our time” (numa tradução livre, “A armadilha identitária: uma história de ideias e poder em nosso tempo”), lançado recentemente nos Estados Unidos e ainda sem publicação no Brasil, Mounk argumenta que isso é um retrocesso contraproducente. Professor da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, filho de pais poloneses que imigraram para a Alemanha Ocidental, ele diz que o identitarismo de esquerda alimenta a ascensão da extrema-direita no mundo.
Mounk acredita que, se Donald Trump for eleito para um novo mandato presidencial na Casa Branca, boa parte da explicação se deverá aos efeitos dessa ideologia. No livro, o cientista político, que se identifica como um pensador de esquerda, prega que, para se contrapor tanto ao identitarismo de esquerda como ao populismo de extrema-direita, é necessário defender os valores universais do liberalismo, como igualdade de oportunidades e liberdade de expressão.
A seguir, trechos da entrevista que ele deu ao Estadão.
Por que o senhor considera que o identitarismo ou a síntese identitária, como a batizou, é uma armadilha e é contraproducente?
O que temos visto ao longo das últimas décadas é o surgimento de uma nova ideologia, que transformou o que significa estar à esquerda. É um conjunto de ideias que diz que só podemos entender o mundo sob o prisma de categorias de identidade, como raça, gênero e orientação sexual. É uma ideologia bastante radical e que se opõe a muitos dos valores universais, que historicamente têm sido a aspiração das nossas sociedades. O apelo dessas ideias decorre da promessa de que ela seria a maneira mais íntegra e radical de lutar contra injustiças reais que continuam a moldar hoje nossas sociedades, do Brasil aos Estados Unidos.
Movimentos sociais e reformas legislativas ajudam no enfrentamento dessas injustiças, mas raramente o fazem tão rapidamente ou de forma tão abrangente quanto se espera. Assim, alguns daqueles que são legitimamente motivados pela persistência da injustiça concluem que precisamos de uma ruptura muito mais radical com o status quo.
A síntese identitária pretende estabelecer as bases conceituais para refazer o mundo, superando a reverência por princípios de longa data que supostamente restringem a nossa capacidade de alcançar a verdadeira igualdade. Seus defensores rejeitam os valores universais e as regras neutras, como a liberdade de expressão e a igualdade de oportunidades, como meras distrações que visam obstruir e perpetuar a marginalização dos grupos minoritários.
Democracia em erosão
O problema, porém, é que ela acaba por ser uma armadilha porque conduz a más políticas públicas que pioram a situação de todos. É uma armadilha porque encoraja formas de conflito político de soma zero que vão, na verdade, exacerbar as nossas tensões sociais e acabam por ajudar, em vez de prejudicar, algumas das mais perigosas forças políticas de extrema-direita. Nos Estados Unidos, cerca de 10% do eleitorado republicano é agora um novo grupo de eleitores que são predominantemente jovens, não-brancos, bastante liberais em questões sociais e culturais, mas profundamente preocupados com o papel do que eles chamam de “wokeness”(nos EUA, o termo, que pode ser traduzido como despertar, é usado para identificar políticas identitárias de esquerda) em nossas instituições. Se Donald Trump reconquistar a Casa Branca, como as pesquisas sugerem que ele poderá, estes eleitores serão uma grande parte da razão para isso.
No seu livro, o senhor descreve a mudança no discurso progressista. Há alguns anos, dizia-se que somos todos seres humanos e não existe tal coisa chamada raça. Agora, o discurso progressista passou a ser que somos todos seres raciais e há até mesmo, em alguns lugares dos EUA, uma defesa da segregação racial como ação afirmativa de combate ao racismo. Como ocorreu essa mudança?
Uma das coisas que chama a atenção nesta nova ideologia é a forma como deu tintas progressistas a ideias que são fundamentalmente de direita. Quando eu era criança na Europa, na década de 1980, a ideia de que não podemos nos entender se nascemos em grupos de identidade diferentes, ou a ideia de que deveríamos nos preocupar com a influência de grupos estrangeiros à nossa cultura, eram obviamente ideias de direita ou de extrema-direita. Hoje a afirmação de que é não possível para uma pessoa entender a realidade de outra se elas estiverem em diferentes intersecções de identidades ou a ideia de que devemos nos preocupar com formas de apropriação cultural, quando um integrante de um grupo dominante é inspirado pela cultura de um grupo marginalizado, estão no centro do discurso de esquerda. É uma transformação surpreendente e estranha.
Para compreender as raízes dessa mudança é importante compreender a história intelectual desta ideologia, cujas primeiras raízes estão no pós-modernismo, que rejeitou as ideologias existentes. Houve posteriormente uma repolitização por pensadores da tradição pós-colonial que passaram a usar as ideias dos filósofos pós-modernistas para a batalha política. Em particular, Gayatri Chakravorty Spivak (teórica de origem indiana, professora da Universidade de Columbia, nos EUA), com a teoria do essencialismo estratégico, diz que precisamos ser capazes de falar em nome de grupos identitários para podermos fazer progressos políticos. Mesmo que as noções essencialistas de identidade sejam filosoficamente duvidosas, o argumento dessa teoria é que, para fins políticos práticos, as pessoas devem se definir pela raça ou pelo gênero ou pela sua orientação sexual para lutar contra as injustiças.
Na década de 1960, os jovens radicais de esquerda queriam derrubar o capitalismo. Na meia-idade, porém, estavam integrados ao sistema capitalista. O senhor discorda, porém, que esta ideologia seja apenas uma moda passageira. Vê, ao contrário, um problema muito mais sério que pode causar alguns danos duradouros. Por que acha isso?
No livro, quis deixar claro que esta não é uma obra sobre pessoas dizendo coisas estúpidas no Twitter e sendo demitidas de empregos de maneiras ridículas. A influência dessa ideologia é muito mais profunda e vai muito mais além do que isso. Em muitas escolas nos Estados Unidos, os professores vão a salas de aula onde as crianças têm de seis a oito anos e as dividem por diferentes grupos por raça, encorajando-as a se verem como seres raciais. No auge da pandemia, o Centro de Controle de Doenças (CDC, sigla para Center for Diseases Control) rejeitou a ideia de distribuir vacinas com base na idade, o que teria salvado vidas, porque estava preocupado com o fato de os americanos mais velhos serem desproporcionalmente brancos. Portanto, essas ideias têm uma influência tremenda em instituições importantes e influentes, como as universidades, as corporações. Penso que os próximos 20 ou 25 anos na esfera intelectual vão consistir, em parte significativa, numa disputa sobre a aceitação ou não destas ideias.
Os alunos a quem dou aulas, em geral, não são ideólogos, são pessoas muito atenciosas e dispostas a ter uma conversa séria e debater sobre os problemas. Acreditam, porém, fortemente nesta ideologia porque sempre estiveram imersos nessas ideias durante toda sua educação. Sempre foram ensinados que a liberdade de expressão é um valor que deve ser encarado com considerável ceticismo. Foram ensinados que qualquer coisa que possa ser chamada de apropriação cultural é uma coisa amoral que deve ser evitada. Foram encorajados a ver o reconhecimento na sociedade, em grande parte, baseado na intersecção particular de identidades às quais pertencem e a pensar que as ideias do movimento pelos direitos civis nos EUA nunca tiveram o poder institucional que a síntese identitária alcançou nos últimos anos. É por isso que a analogia com os radicais dos anos 60 é enganosa.
O senhor vê influência dessas ideias nas manifestações de apoio ao Hamas que explodiram nas universidades dos EUA depois dos ataques terroristas a Israel de 7 de outubro?
A natureza do conflito no Oriente Médio é muito complicada e posso certamente compreender porque as pessoas chegam a conclusões diferentes sobre o assunto. Penso, porém, que a repercussão dos ataques do Hamas ilustra a influência perniciosa da síntese identitária em dois aspectos específicos.O primeiro aspecto é que as universidades nos Estados Unidos, em particular, começaram a tornar-se atores políticos parciais que expressam opiniões políticas como instituições sobre todos os tipos de questões, desde a guerra na Ucrânia até à última decisão da Suprema Corte.
Mas, de repente, após o maior massacre de civis judeus desde o Holocausto, elas não estavam dispostas a fazer uma declaração semelhante. Isso foi corretamente visto como uma falha moral significativa. A saída certa para esse dilema seria as universidades seguirem o que a Universidade de Chicago tem feito há muito tempo, que é recusar-se a tomar esse tipo de posição política. É claro que professores e estudantes podem falar a título individual, mas a universidade, a fim de manter a liberdade acadêmica geral, deve abster-se de expressar opiniões sobre esse tipo de coisas.
O segundo aspecto é que, fazendo uma distinção com as pessoas que são simpatizantes da causa palestina e se manifestaram a favor da Palestina por todo o tipo de razões que são muito legítimas, as categorias ideológicas básicas da síntese identitária ajudam a explicar o raciocínio das pessoas que especificamente não se mostraram dispostas a condenar o Hamas e, em alguns casos, celebraram explicitamente o ataque terrorista perpetrado em 7 de Outubro. Essas pessoas vêem o mundo como fundamentalmente dividido num grupo de brancos, de um lado, e de pessoas de cor, do outro; ou entre colonizadores versus colonizados. E acreditam que é impossível ser racista ou fazer algo errado contra um membro do grupo dominante. Quando aplicam essas ideias a este conflito, acabam por afirmar que os israelenses são brancos, colonizadores e, portanto, qualquer forma de resistência contra eles, mesmo que consista no assassinato de bebés ou avós, é justificável.
Mas essa é uma simplificação absurda, como qualquer pessoa que conheça um pouco a história do Oriente Médio deve reconhecer. Uma pluralidade dos judeus em Israel são de origem Mizrahi (termo usado para os judeus oriundos de países do Oriente Médio e do Norte da África). Etnicamente, eles não são visivelmente distintos dos palestinos. Eles não têm, em média, a pele mais clara do que os palestinos e foram expulsos de seus países de origem ao longo dos últimos 75 anos, sem ter para onde ir além de Israel. Então, eu acho que para as pessoas que acabaram celebrando o Hamas, especialmente para os escritores, artistas e professores que não têm nenhuma ligação pessoal com a área, essa ideologia ajuda a explicar como elas puderam cometer essa imoralidade.
Por que o senhor diz que, em oposição à “síntese identária”, é preciso reafirmar a defesa dos valores universais e do liberalismo? Vê alguma conexão entre a ascensão das ideias identitárias com a defesa do “iliberalismo” feito por autocratas como Vladimir Putin, na Rússia, ou Viktor Órban, na Hungria?
Richard Delgado, um dos autores da Teoria Crítica da Raça, na introdução ao livro, faz a afirmação explícita de que o liberalismo é o maior inimigo. O que os arquitetos dessa ideologia têm em comum com Putin e Órban é que eles olham os países ocidentais de uma forma catastrófica. Eles erram, porém, ao subestimar a força dessas sociedades e quanto progresso elas fizeram a despeito de seus problemas. Quando você olha os países mais ricos do mundo em renda per capita e com os mais altos índices de desenvolvimento humano, quando vê os países para onde as pessoas gostariam de imigrar, todas são democracias liberais.
A ideia de que países como os Estados Unidos ou a França não fizeram nenhum progresso ao lidar com as minorias sexuais ou com o racismo é simplesmente errada. As democracias liberais funcionam melhor do que sistemas alternativos como, por exemplo, a Rússia, mais pobre, mais politicamente disfuncional, com maiores índices de aborto do que os Estados Unidos. Os ideais universais são uma espécie de fundamento da democracia liberal. E eu penso que foram os valores fundamentais das democracias liberais – as liberdades individuais, a igualdade política, a autodeterminação coletiva – que nos permitiram fazer um tremendo progresso. Esses valores devem ser preservados para que continuemos a melhorar.
Como responde a alguns críticos que alegam que a defesa do liberalismo foi usada, muitas vezes, como uma espécie de disfarce para defender a imposição de um modelo ocidental ao resto do mundo? Esses mesmos críticos apontam a hipocrisia no passado de alguns proponentes do liberalismo, que abraçavam o discurso de que todas as pessoas são iguais, mas eram escravistas, colonialistas ou imperialistas.
O debate fundamental sobre como fazer progresso histórico está no cerne da contestação à ideologia da síntese identitária. Eu me alinho com as pessoas que sofreram com a injustiça do domínio colonial e com aqueles que denunciam a hipocrisia do que os oprimiram. Frederick Douglass (líder abolicionista americano do século XIX, considerado o “pai do movimento dos direitos civis” nos EUA), em um de seus mais importantes discursos, feito em um 4 de julho (data da Independência dos EUA), apontou a hipocrisia: “Como vocês falam que todos os homens foram criados iguais e ainda há homens que são escravos nesse país?”. Ele não disse, porém, que a Declaração de Independência dos EUA ou os princípios universais deveriam ser abandonados, mas que nós deveríamos lutar para que eles fossem aplicados.
É assim que fazemos progresso político. Então se desenvolveu uma tradição política nos EUA que vai de Frederick Douglass a Martin Luther King Jr a Barack Obama que permitiu aumentar vastamente os direitos dos afro-americanos. Foi a aspiração aos valores universais que levaram à abolição da escravidão e outras formas significativas de progresso.A alternativa a isso é a proclamação de que nunca fizemos nenhum progresso real, que todos os valores de que estamos falando são apenas uma tentativa de colocar uma venda em nossos olhos, e que devemos rejeitá-los por uma ideia de futuro em que a forma como nós nos tratamos e os outros dependerá explicitamente de uma ideia de identidade do grupo em que você nasceu. Isso vai apenas encorajar a forma de conflito de soma zero que inspirou historicamente guerras civis e formas ainda piores de violência política.
Historicamente, as sociedades ocidentais talvez tenham sido hipócritas em como aplicam alguns desses valores. Mas são valores fundamentalmente aplicáveis aos seres humanos, independentemente do hemisfério em que vivem. Acho a ideia de Ocidente um pouco confusa e complicada. Independentemente do que o Brasil pense de si mesmo, ou como parte do Ocidente, ou de um Extremo Ocidente ou do Sul Global, acredito que as pessoas no Brasil desejam tanto a liberdade individual, a autodeterminação coletiva e a igualdade política quanto as pessoas em qualquer outra parte do mundo. Na verdade, as afirmações dos culturalistas de que certas culturas não estão adaptadas à democracia revelaram-se sempre erradas. Muitos estudiosos chineses dizem que, devido à influência da cultura confucionista, o povo chinês, de alguma forma, não teria sido feito para a democracia. Tendo passado algum tempo em Taiwan no início de 2023, posso dizer que essa é uma ilha cuja cultura é tão confucionista e chinesa como o continente e que sustenta uma democracia muito vibrante, da qual se orgulha com razão.
O racismo, o sexismo, os danos causados pelo colonialismo em muitos países são problemas muito reais. Como argumentar contra a armadilha da identidade e não se tornar um reacionário?
A primeira atitude é ter um compromisso de princípios com os valores universais, que esteja muito atento às formas em que a aplicação desses valores esteja aquém deles. Uma das reivindicações centrais da síntese identitária é dizer que devemos sempre ver o mundo sob o prisma de raça, gênero e orientação sexual e que a defesa dos valores universais e das regras neutras são uma tentativa de nos enganar para perpetuar injustiças e, portanto, deveríamos tratar uns aos outros dependendo explicitamente do tipo de grupo ao qual pertencemos. A resposta de princípio a isso é dizer que é claro que raça e orientação sexual são importantes e que devemos estar conscientes das injustiças, mas, ao estruturar nossas sociedades, outras dimensões também são importantes, incluindo classe social, religião, patriotismo, individualidade, escolhas, preferências e idiossincrasias. Temos que ter uma visão muito mais ampla de como entender as relações sociais.
A segunda atitude é reconhecer que muitas vezes não conseguimos viver de acordo com os nossos valores. E que não se trata de defender o status quo, o que pode nos levar a ignorar as injustiças. Se quisermos construir uma sociedade melhor, é preciso lutar para viver de acordo com estes valores e para transformá-los em realidade, que foi o que nos permitiu fazer progressos históricos. É preciso argumentar de um terreno moral elevado, com a defesa de nossos próprios valores e princípios, em vez de simplesmente dizer o oposto do que diz o nosso adversário político. E é preciso focar a nossa argumentação na maioria das pessoas que é razoável, em vez de tentar atrair os extremistas políticos.
É preciso lembrar que a maioria das pessoas está aberta à persuasão mesmo quando não parece ser assim. Ao escrever esse livro, eu tinha um público em mente. Uma parte desse público são as pessoas que se sentem realmente atraídas pela síntese identitária e pela promessa de combater as injustiças da forma mais radical e mostrar a elas como isso é contraproducente. A segunda parte desse público são as pessoas que talvez já concordem comigo que esta ideologia é perigosa, mas que até agora só conseguiram recorrer às obras de pessoas de direita que rejeitam o liberalismo para obter uma crítica a essas ideias. Quero mostrar-lhes que é possível enfrentar essa ideologia de uma forma clara, corajosa e franca, sem ter de recorrer a ideias reacionárias.
Seu livro, mais do que uma obra acadêmica, é um apelo à ação. O senhor se define como uma pessoa de esquerda. Não teme que seu livro possa ser usado na desmobilização da luta contra injustiças reais ?
Penso que uma das coisas importantes a compreender sobre a síntese identitária é que não se trata de tentar uma mera correção de rumos, porque ela fundamentalmente está indo na direção errada. Se você está ensinando alunos, por exemplo, a se verem como seres raciais, isso não é estabelecer o tipo de sociedade a que deveríamos aspirar. Está a acelerar a chegada de uma forma de conflito de soma zero, em que, aliás, os grupos predominantes têm maior probabilidade de acabar por vencer do que os grupos historicamente marginalizados. Estou muito preocupado com a importância que essas ideias adquiriram em muitas instituições tradicionais e como essa é uma das explicações por que populistas como Donald Trump são atualmente tão poderosos em todo o mundo. Continuo muito preocupado com a ascensão do populismo de extrema direita em todo o mundo e estou convencido de que a melhor forma de lutar contra esse fenômeno é também distanciar as principais forças políticas do centro e de esquerda de uma ideologia popular e equivocada. Superficialmente, a síntese identitária e o populismo de extrema direita podem parecer opostos em termos práticos e políticos, mas se alimentam mutuamente. Portanto, a maneira mais eficaz de lutar contra um é lutar contra o outro ao mesmo tempo.
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