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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Interesses da Índia podem afetar os objetivos e o equilíbrio dentro do Brics; leia a análise

Índia quer expandir o Brics, mas não tem interesse em isolar o grupo do Ocidente

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Atualização:

Domingo passado, discuti a expansão do Brics do ponto de vista do Brasil. Hoje, vou analisar a situação da Índia, o outro país que saiu perdendo. Para isso, ouvi três especialistas indianos, que conheço há décadas.

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Índia e China são adversárias. Têm disputa territorial, que periodicamente leva a conflitos na fronteira. A China é aliada do Paquistão, inimigo da Índia. A população indiana ultrapassou a chinesa este ano. O PIB nominal é o sexto atualmente. Deve passar o dos EUA em 2075, ficando atrás apenas do chinês, estima o banco Goldman Sachs.

Ao mesmo tempo, a Índia pertence a duas estruturas lideradas pela China: o Brics e a Organização de Cooperação de Xangai (SCO), que tem caráter militar e se projeta sobre a Ásia Central.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, fala durante uma conferência de imprensa com o primeiro-ministro grego na Mansão Maximos, em Atenas, a 25 de agosto de 2023. Foto: SPYROS BAKALIS / AFP

Em ambas está também a Rússia, que depois do isolamento do Ocidente provocado pela invasão da Ucrânia se tornou dependente da China.

A Índia integra o Brics e a SCO — que em princípio não têm caráter hostil a ela — para observar de perto e, quando possível, evitar movimentos indesejáveis da China. Esse não foi o caso da expansão do Brics.

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Jayati Ghosh, professora de economia da Universidade Jawaharlal Nehru, aponta uma dependência da Índia, que importa da China produtos essenciais como medicamentos, semicondutores, eletrônicos, equipamentos médicos e científicos e aço para automóveis.

Segundo Mohan Guruswamy, presidente do Centro para Alternativas de Políticas, de Nova Délhi, a Índia gostaria de ver a entrada no Brics de Indonésia, Vietnã e Turquia, e a aproximação da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) e da Organização da União Africana (OUA), como contrapeso ao G7.

Mas não tinha interesse em “transformá-lo num grupo antiocidental, como os chineses e russos parecem pretender, ao incluir o Irã”.

Dos convidados, “só Irã e Egito fazem sentido em termos de tamanho, estabilidade e projeção de poder”, pondera Guruswamy. “Os Emirados Árabes Unidos são uma Suíça favorecida por traficantes de dinheiro.

Para onde irá a Arábia Saudita, uma nação tribal, depois da transição do petróleo para as baterias elétricas? A Etiópia está mergulhada na guerra civil. A Argentina é um garoto-propaganda de má política econômica.”

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A embaixadora Neelam Deo, pesquisadora do Conselho Indiano de Relações Globais, sente falta de grandes economias, como o México, a Nigéria e a Argélia, se o desejo era contemplar América Latina e África.

“A Índia manifestou vontade de considerar uma expansão com base em critérios bem definidos, e sua relutância em ser forçada a um processo sumário e à aceitação de demasiados países, pois isso prejudicaria os objetivos e o equilíbrio dentro do Brics.” O Itamaraty, também.

Mas a China mostrou quem manda.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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