WASHINGTON - O procurador interino americano de Washington, Michael Sherwin, contradisse seus colegas do Arizona e afirmou nesta sexta-feira, 15, que não há “evidências claras” para sugerir que os manifestantes que invadiram o prédio dos Capitólio dos Estados Unidos constituíram “equipes de captura para matar”.
Os comentários de Sherwin pareciam constituir um esforço para reverter as alegações que promotores federais do Estado do Arizona fizeram em um processo judicial, no qual alegavam haver evidências de que manifestantes pretendiam “capturar e assassinar autoridades eleitas”.
Sherwin afirmou que seu gabinete está liderando os esforços da promotoria, mas como os escritórios locais ajudam a alcançar suspeitos em suas regiões, pode ter havido uma “desconexão” nas evidências obtidas até ao momento nos casos.
Na quinta-feira, os promotores do Arizona haviam apresentado a nova avaliação do cerco ao Capitólio dos Estados Unidos por extremistas pró-presidente Donald Trump em um processo no qual pedem a um juiz a prisão de Jacob Chansley, homem do Arizona que pertence ao movimento de teoria da conspiração QAnon, fotografado usando chifres enquanto estava na mesa do vice-presidente Mike Pence no Senado dos EUA.
O memorando de detenção, escrito por procuradores do Departamento de Justiça no Arizona, dá mais detalhes sobre a investigação do FBI sobre Chansley, revelando que ele deixou um bilhete para Pence alertando que “é apenas uma questão de tempo, a justiça está chegando”.
“Fortes evidências, incluindo as próprias palavras e ações de Chansley no Capitólio, sustentam que a intenção dos desordeiros do Capitólio era capturar e assassinar autoridades eleitas no governo dos Estados Unidos”, escreveram os promotores.
Os detalhes, inseridos nos papéis do tribunal, lançaram uma nova luz sobre a seriedade do motim. Eles sugerem que os investigadores acreditam que houve um esforço muito mais organizado em andamento, apesar das afirmações dos manifestantes de que o ataque foi uma explosão espontânea de raiva após a derrota do presidente Trump.
Durante o motim, Pence e líderes do Congresso foram conduzidos para fora da prédio pelo Serviço Secreto e pela Polícia do Capitólio dos EUA, antes que os manifestantes invadissem a sala.
Gerald Williams, o advogado de Chansley, não retornou um telefonema e um e-mail nesta sexta-feira pedindo comentários.
O FBI tem investigado se algum dos manifestantes planejou sequestrar membros do Congresso e mantê-los como reféns, com foco principalmente nos homens vistos carregando algemas de plástico e spray de pimenta. Entre eles, estaria um ex-oficial da Força Aérea. Até agora, o Departamento de Justiça não divulgou publicamente nenhuma evidência específica sobre as conspirações ou explicou como os desordeiros planejavam executá-las.
Chansley, que se autodenomina o “shaman do QAnon” e há muito participa dos comícios de Trump, se entregou no escritório do FBI em Phoenix no último sábado.
Chansley disse aos investigadores que veio ao Capitólio "a pedido do presidente de que todos os 'patriotas' fossem a D.C. (Washington) em 6 de janeiro de 2021". Ele é acusado de desordem civil, obstrução de processo oficial, conduta desordenada em um prédio restrito e manifestação em um prédio do Capitólio.
Mais de 80 pessoas estão enfrentando acusações decorrentes do ataque, 40 delas em tribunais federais. Outras dezenas foram presas por violar o toque de recolher naquela noite. As acusações federais apresentadas até agora são principalmente por crimes como entrada ilegal, mas os promotores disseram que alguns manifestantes devem enfrentar acusações mais sérias. Alguns eram ex-militares e policiais altamente treinados.
Membros do Congresso envolvidos
A presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, disse nesta sexta-feira, 15, que se membros do Congresso foram cúmplices do ataque, eles devem ser processados.
Em uma entrevista coletiva, Pelosi foi questionada se ações seriam tomadas contra parlamentares que possam ter organizado visitas ao Capitólio em 5 de janeiro, um dia antes do ataque no qual cinco pessoas morreram, incluindo um policial, e dezenas de pessoas ficaram feridas.
“Se de fato for constatado que membros do Congresso foram cúmplices dessa insurreição, se eles ajudaram e incitaram os crimes, ações devem ser tomadas além do Congresso, em termos de processo”, disse a democrata.
Mais de 30 democratas pediram aos agentes de segurança da Câmara e do Senado e ao chefe interino da Polícia do Capitólio informações sobre quem estava no prédio legislativo em 5 de janeiro.
Pelosi também nomeou o tenente-general aposentado Russel Honoré para liderar uma revisão de segurança. /REUTERS e AP