Junta militar de Mianmar retoma pena de morte e enforcará ativista pró-democracia

Governo militar também executará ex-deputado do partido da líder destituída Aung San Suu Kyi e mais dois homens acusados de matar informante do regime

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Atualização:

O governo militar instalado em Mianmar anunciou nesta sexta-feira, 3, que executará um ex-legislador do partido da líder deposta Aung San Suu Kyi e um veterano ativista pró-democracia condenados por violar a Lei Antiterrorista do país, informou a mídia local. A pena de morte não era aplicada no país havia 30 anos.

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Dois meios de comunicação online, Voice of Myanmar e NP News, disseram que outros dois homens condenados por matar uma mulher que acreditavam ser uma informante dos militares também serão executados, além do ex-deputado Phyo Zeya Thaw e do ativista Kyaw Min Yu, conhecido como Ko Jimmy. Todos serão levados à forca.

O porta-voz do governo, o major-general Zaw Min Tun, foi citado dizendo que a decisão de realizar as execuções foi confirmada depois que os recursos legais dos quatro foram rejeitados. Segundo o porta-voz, elas serão realizadas de acordo com os procedimentos da prisão. De acordo com a lei, as execuções devem ser aprovadas pelo chefe do governo. Não foi divulgado quando elas realizadas.

A líder opositora Aung San Suu Kyi durante um discurso em janeiro de 2020; ela também continua presa pelo regime  Foto: Aung Shine Oo/AP

A Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos, que rastreia prisões e assassinatos conduzidos pelo Estado, diz que os tribunais de Mianmar condenaram à morte 114 “criminosos políticos”, incluindo duas crianças, desde que o Exército tomou o poder do governo eleito de Suu Kyi em fevereiro do ano passado.

A tomada de poder pelo Exército desencadeou protestos populares em todo o país, que se transformaram em uma insurgência de pequeno alcance depois que manifestações não violentas foram recebidas com força mortal pelo Estado. A associação estima que 1.887 civis morreram nas mãos da polícia e dos militares na repressão contra os opositores do regime militar.

Alguns grupos de resistência se envolveram em assassinatos, tiroteios e bombardeios em áreas urbanas. As principais organizações de oposição, no entanto, rejeitam essas atividades, ainda que apoiem a resistência armada nas áreas rurais, que são mais frequentemente sujeitas a ataques militares brutais.

Acredita-se que a última execução judicial a ser realizada em Mianmar tenha sido de outro condenado político, o líder estudantil Salai Tin Maung Oo, em 1976, sob um governo militar anterior liderado pelo ditador Ne Win.

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Em 2014, as sentenças dos prisioneiros no corredor da morte foram comutadas para prisão perpétua, mas várias dezenas de condenados receberam sentenças de morte entre essa data e a tomada do poder no ano passado.

Phyo Zeya Thaw, o ex-legislador, também conhecido como Maung Kyaw, e Kyaw Min Yu foram condenados à morte sob a Lei de Contraterrorismo do país em janeiro deste ano por um tribunal militar fechado. Eles foram considerados culpados de crimes envolvendo explosivos, bombardeios e financiamento do terrorismo.

Phyo Zeya Thaw era músico de hip-hop antes de se tornar membro do Generation Wave, um movimento político formado em 2007. Thaw foi eleito para o Parlamento pela Liga Nacional para a Democracia (LND), partido de Aung San Suu Kyi, em 2015. O ex-deputado foi preso em novembro sob a acusação de posse de armas e munições, segundo reportagem de um jornal estatal da época. Ele disse ter sido detido com base em depoimento de presos por atirar em seguranças.

O conhecido ativista pró-democracia Kyaw recebeu a mesma sentença. Ele ficou famoso durante as revoltas estudantis de 1988 contra a antiga junta militar e foi condenado à morte por “incitar a rebelião” com suas publicações nas redes sociais.

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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou a decisão do conselho, chamando-a de “flagrante violação do direito à vida, liberdade e segurança da pessoa”, segundo seu porta-voz, Stephane Dujarric.

Guterres pediu que os dois ativistas pró-democracia fossem libertados e que todas as acusações contra eles fossem retiradas. “O secretário-geral considera que a pena de morte não pode ser conciliada com o pleno respeito ao direito à vida”, disse Dujarric a repórteres.

“A abolição [da pena de morte] é necessária e desejável para a valorização da dignidade humana e o desenvolvimento progressivo dos direitos humanos”, acrescentou./AP e AFP

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