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Líbia teme morte de mais de 2 mil pessoas após tempestade arrasar a costa do país

Militares estimam em até 6 mil o número de desaparecidos; país sofre com falta de governo central desde a queda de Kadafi, em 2011

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Por Redação

TRÍPOLI - A tempestade Daniel causou inundações devastadoras na Líbia que varreram bairros inteiros e destruíram casas em várias cidades costeiras no leste do país norte-africano. Autoridades locais temem que 2 mil pessoas tenham morrido.

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A destruição pareceu maior em Derna, uma cidade anteriormente controlada por extremistas islâmicos no caos que assola a Líbia há mais de uma década e a deixou com infraestrutura em ruínas. A Líbia continua dividida entre duas administrações rivais, uma no leste e outra no oeste, cada uma apoiada por milícias e governos estrangeiros.

O número confirmado de mortos nas enchentes do fim de semana era de 61 na noite de segunda-feira, de acordo com as autoridades de saúde. Mas a contagem não incluiu Derna, que se tornou inacessível, e acredita-se que muitos dos milhares de desaparecidos foram levados pelas águas.

Exército estima que chuva pode ter matado até duas mil pessoas Foto: AP / AP

Ruas viram rios

Vídeos de moradores da cidade postados online mostraram grande devastação. Áreas residenciais inteiras foram destruídas ao longo de um rio que desce das montanhas pelo centro da cidade. Partes de prédios de apartamentos de vários andares que antes ficavam bem afastados do rio afundaram na lama.

Numa entrevista por telefone à estação de TV Al-Masar, na segunda-feira, o primeiro-ministro Ossama Hamad, do governo do leste da Líbia, disse temer que 2 mil tenham morrido em Derna e milhares estão desaparecidos. Ele disse que Derna foi declarada zona de desastre.

Ahmed al-Mosmari, porta-voz das Forças Armadas do país com base no leste, disse em entrevista coletiva que o número de mortos em Derna ultrapassou 2 mil. Ele disse que havia entre 5 mil e 6 mil desaparecidos. Al-Mosmari atribuiu a catástrofe ao colapso de duas barragens próximas, causando uma inundação letal.

Na cidade de Marji, água tomou ruas inteiras  Foto: AP / AP

Estado falido

Desde a revolta de 2011 que derrubou e mais tarde matou o ditador Muamar Kadafi, a Líbia sofre com a ausência de um governo central. O caos que se seguiu significou a diminuição do investimento nas estradas e nos serviços públicos do país e também uma regulamentação mínima da construção privada. O país está agora dividido entre governos rivais no leste e no oeste, cada um apoiado por uma série de milícias.

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A própria Derna, juntamente com a cidade de Sirte, foi controlada por grupos extremistas durante anos, a certa altura por aqueles que juraram lealdade ao grupo Estado Islâmico, até que forças leais ao governo do leste os expulsaram, em 2018.

Na cidade de Bayda, pelo menos 46 pessoas morreram, disse Abdel-Rahim Mazek, chefe do principal centro médico da cidade. Outras sete foram mortas na cidade costeira de Susa, no nordeste da Líbia. Outros sete foram mortos nas cidades de Shahatt e Omar al-Mokhtar, disse Ossama Abduljaleel, ministro da Saúde. Uma pessoa foi dada como morta no domingo na cidade de Marj.

O Crescente Vermelho Líbio disse que três dos seus trabalhadores morreram enquanto ajudavam famílias em Derna. Anteriormente, o grupo disse que perdeu contato com um de seus trabalhadores enquanto ele tentava ajudar uma família presa em Bayda. Dezenas de outras pessoas foram dadas como desaparecidas e as autoridades temem que possam ter morrido nas inundações que destruíram casas e outras propriedades em várias cidades no leste da Líbia, segundo a imprensa local.

Em Derna, a mídia local disse que a situação era catastrófica, sem eletricidade ou comunicações.

Essam Abu Zeriba, ministro do Interior do governo do leste da Líbia, disse que se espera que mais de 5 mil pessoas estejam desaparecidas em Derna. Ele afirmou que muitas das vítimas foram arrastadas para o Mediterrâneo.

“A situação é trágica”, declarou ele numa entrevista ao canal de notícias por satélite Al-Arabiya, de propriedade saudita. Ele instou as agências locais e internacionais a correrem para ajudar a cidade.

Chuva na cidade de Al-Bayda, na Líbia: país vive enchentes devastadoras Foto: INSTAGRAM/@EX5TWD via REUTERS / INSTAGRAM/@EX5TWD via REUTERS

Ajuda humanitária

Georgette Gagnon, coordenadora humanitária da ONU para a Líbia, disse que os primeiros relatórios mostraram que dezenas de aldeias e cidades foram “severamente afetadas com inundações generalizadas, danos em infraestruturas e perda de vidas”.

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Numa publicação no X, a Embaixada dos EUA na Líbia disse que estava em contato com as autoridades da ONU e da Líbia para determinar como entregar ajuda às áreas mais afetadas.

No fim de semana, os líbios compartilharam imagens nas redes sociais de casas e estradas inundadas em muitas áreas do leste da Líbia. Eles imploraram por ajuda enquanto as enchentes cercavam as pessoas dentro de suas casas e em seus veículos.

Ossama Hamad, o primeiro-ministro do governo do leste da Líbia, declarou Derna uma zona de desastre depois de fortes chuvas e inundações terem destruído grande parte da cidade que está localizada no delta do pequeno Wadi Derna.

Controlando o leste e o oeste da Líbia, o comandante Khalifa Hifter enviou tropas para ajudar os residentes de Benghazi e de outras cidades do leste. Ahmed al-Mosmari, porta-voz das forças de Hifter, disse que perderam contato com cinco soldados que ajudavam famílias sitiadas em Bayda.

Governos estrangeiros enviaram mensagens de apoio na noite de segunda-feira. O xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan, líder dos Emirados Árabes Unidos, disse que seu país enviaria assistência humanitária e equipes de busca e resgate ao leste da Líbia, de acordo com a agência de notícias estatal WAM.

A Turquia, que apoia o governo do país baseado em Trípoli, no oeste, também expressou condolências, juntamente com os vizinhos Argélia e Egito, e também o Iraque./AP

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