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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|As memórias da Europa e a solidariedade com a Ucrânia; leia a coluna de Lourival Sant’Anna

A Ucrânia se tornou mais europeia e a guerra uniu a Europa

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Anne Frank, morta aos 16 anos em um campo de concentração na Alemanha, depois de passar dois anos em um esconderijo em Amsterdã, é um ícone do horror nazista. A fachada da escola onde ela estudou, que leva seu nome, em Amsterdã, foi pintada de azul e amarelo, as cores ucranianas, presentes em inúmeros prédios em toda a Europa.

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Logo no início da guerra, o artista italiano AleXsandro Palombo retratou a garota judia em Milão vestida de azul e amarelo, exibindo um cartaz com o “Z” usado pelas tropas russas, reestilizado como a suástica nazista.

Vladimir Putin tentou justificar a invasão da Ucrânia como guerra contra o nazismo. A Alemanha foi o único país a invadir a Rússia nos dois últimos séculos — em 1941, quando Adolf Hitler traiu um pacto firmado com Josef Stalin, de dividirem a Polônia entre si. A propaganda russa não convence os europeus.

Em vários prédios de Amsterdã, de onde escrevo, a bandeira ucraniana figura ao lado da multicolor do orgulho gay. A Ucrânia tem tradição conservadora como a Rússia, mas a homofobia, assim como a corrupção, deixaram de ser socialmente aceitas no país.

A bandeira da Alemanha aparece ao lado da bandeira da Ucrânia e da União Europeia  Foto: Odd Andersen/AFP

A Ucrânia se tornou mais europeia e a guerra uniu a Europa. A extrema direita moderou o discurso e se moveu do nativismo para o eurocentrismo. Isso contraria o objetivo geopolítico de Putin de dividir a Europa mas confirma sua retórica contra um Ocidente que ameaçaria os supostos valores morais russos.

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Muitos europeus defendem a Ucrânia em nome não apenas da integridade territorial, mas também da democracia e liberdades individuais. A partir de 2012, em meio a protestos contra sua perpetuação no poder, Putin adotou uma agenda conservadora e aprovou leis contra os direitos dos homossexuais.

Foi nesse contexto que Jair Bolsonaro visitou o autocrata russo oito dias antes da invasão e disse que ambos tinham “valores em comum: Deus e a família”. Em seguida, foi se encontrar com Viktor Orbán, que impôs a mesma agenda na Hungria.

Ao abrir o aplicativo da Uber em Amsterdã e em 80 cidades de 16 países europeus, o usuário tem a opção de pagar 1 euro a mais, destinado à compra de ambulâncias para a Ucrânia. A empresa aporta 1 euro para cada euro arrecadado. Em janeiro, o CEO da Uber, o iraniano Dara Khosrowshahi, foi a Kiev, entregar 3 milhões de euros. Praticamente todas as empresas europeias saíram da Rússia.

A Alemanha nazista levou apenas cinco dias para ocupar a Holanda em 1940. Os holandeses, como a maioria dos europeus, estão pagando pela guerra, na forma de ajuda à Ucrânia e inflação. Eles conhecem o preço de ignorar ou tentar apaziguar uma potência expansionista e não pretendem repetir esse erro.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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