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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|O que une Silvio Berlusconi, Boris Johnson e Donald Trump? Leia a coluna de Lourival Sant’Anna

Esta semana, cada um à sua maneira teve um acerto de contas com um legado de confronto à verdade e às instituições

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Silvio Berlusconi, Boris Johnson e Donald Trump construíram carreiras confrontando a verdade, as convenções e as instituições de seus países. Esta semana, cada um à sua maneira teve um acerto de contas com esse legado.

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Os três ingressaram na política rejeitando-a. Aproveitaram as frustrações que os políticos causam aos cidadãos comuns, com seus conchavos, a cultura de corrupção, mentiras e manipulação que caracterizam a política tradicional. As personas deles, porém, revelaram-se um disfarce, uma distração para esconder os mesmos defeitos, quando não mais graves.

Berlusconi, Johnson e Trump foram flagrados agindo como se estivessem acima da lei. Enquanto se vendiam como representantes das pessoas comuns, contra uma elite insensível, fizeram uso privado do que era público.

O ex-premiê italiano Silvio Berlusconi morreu nesta semana, vítima de leucemia 

Berlusconi, o pioneiro dos ‘fatos alternativos’

Berlusconi, que morreu na segunda-feira aos 86 anos, vítima de leucemia, foi pioneiro dos “fatos alternativos”. Antes de as redes sociais traduzirem isso em algoritmos, os canais de TV de seu grupo Mediaset brindaram a audiência italiana com uma realidade diferente da apresentada pelos veículos convencionais, ajustada aos objetivos do “Cavaliere”.

Berlusconi respondeu a 20 processos, incluindo estupro, e foi condenado em apenas um deles, por fraude fiscal. Trump também responde por ambos os crimes, entre outros.

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Boris e as distorções da realidade

Aos 23 anos, Johnson foi dispensado como estagiário do jornal The Times depois de atribuir falsamente a seu padrinho, o historiador Colin Lucas, uma pesquisa sobre um caso homossexual do rei Edward II. Tornou-se correspondente em Bruxelas do Daily Telegraph e publicou inúmeras histórias distorcidas ou totalmente inventadas ridicularizando os eurocratas e ilustrando como interferiam na vida dos cidadãos.

Suas distorções da realidade durante a campanha do plebiscito do Brexit, em 2016, já como deputado, o tornaram réu na Alta Corte de Londres. Johnson induziu a rainha Elizabeth II a suspender o Parlamento para abreviar os debates sobre seu plano de Brexit, o que foi considerado ilegal pela Suprema Corte.

Finalmente teve de renunciar ao cargo de primeiro-ministro por causa das festas em seu gabinete durante o lockdown. Investigações de uma comissão com maioria de correligionários seus concluíram na quinta-feira que ele “enganou deliberadamente” o Parlamento acerca do caso.

Boris Johnson corre o risco de ser punido pelo Parlamento britânico Foto: Matt Dunham/AP

Trump e a afronta à democracia

Trump tornou-se réu na quarta-feira em um processo federal no qual é acusado de reter ilegalmente documentos sigilosos e de escondê-los da Justiça. Deverá responder também pelas tentativas de reverter a derrota eleitoral em 2020.

Com seus abusos, esses três personagens realizaram uma façanha, contra seu desejo: tornar os políticos tradicionais um mal menor.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

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