ATENAS - O governo da Macedônia concordou na noite da terça-feira 12 em mudar o nome do país para encerrar um impasse de décadas com a Grécia e poder integrar a União Europeia e a Otan. O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, afirmou que o novo nome do país vizinho será República da Macedônia do Norte.
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Há anos, o governo grego protesta contra o nome "Macedônia" do vizinho alegando que ele sugere aspirações territoriais sobre uma região ao norte da Grécia que possui o mesmo nome. "Estou totalmente convencido de que o acordo é um sucesso diplomático e uma oportunidade histórica", afirmou Tsipras.
A Grécia, que havia bloqueado a entrada da Macedônia a UE e Otan, afirmou que o acordo facilita o caminho do vizinho para as duas alianças enquanto as providências são tomadas para que o novo nome seja adotado formalmente. Não foi informada uma data para isso.
"Nós dissemos 'sim' para o futuro da Macedônia. E o futuro está em fazer parte da UE e da Otan", afirmou o primeiro-ministro macedônico, Zoran Zaev. "Estamos resolvendo uma disputa de 25 anos, que nos impediu de prosperar". O acordo foi o resultado de anos de negociações mediadas pela ONU, intensificadas nos últimos seis meses.
A discussão que durou décadas trata do legado de Alexandre, o Grande, morto na Babilônia há 2.300 anos, e o direito de uso do termo Macedônia. Há um quarto de século a simples existência da República da Macedônia enfurece a Grécia, que acusa a vizinha de roubar o nome de sua província com a qual faz fronteira.
A Grécia (particularmente sua região norte, onde nasceu Alexandre) fazia o que podia para impedir a ex-república iugoslava da Macedônia de ser reconhecida internacionalmente com esse nome.
Histórico. Em abril de 2008, Atenas bloqueou uma tentativa da Macedônia de se tornar membro da Otan. E vem boicotando sistematicamente as recomendações da Comissão Europeia (CE) para que sejam iniciadas conversações visando o acesso do país à União Europeia (UE).
Em 2011, o Tribunal Internacional de Justiça decidiu que, sob os acordos existentes, não podia bloquear as conversações de acesso. Como a decisão não teve impacto algum, o governo macedônico passou numa retaliação bizarra a batizar tudo que podia com o nome de Alexandre, e a levantar estátuas do antigo rei país afora. No centro de Skopje, a capital do país, há uma delas, enorme. Os gregos não gostaram nada.
Após a admissão da Macedônia na Organização das Nações Unidas (ONU) sob a designação em inglês de The Former Yugoslav Republic of Macedonia (Ex-República Iugoslava da Macedônia), começou um novo desentendimento sobre onde se sentaria o embaixador da Macedônia na Assembleia-Geral. Normalmente, o critério usado para determinar a posição é a ordem alfabética. No entanto, mais uma vez seria mais fácil falar do que fazer. O governo de Skopje recusou-se a ocupar a localização no plenário determinada pela letra “F”, de “Former”. Ao mesmo tempo, o governo de Atenas bloqueava taxativamente a localização que levava em conta a letra “M”. A solução foi improvisar uma cadeira sob a letra “T”, de “The” Former Republic...
Uma nova esperança de acordo surgiu com a decisão do novo governo de Skopje de melhorar as relações com a Bulgária, que também tem seu histórico de problemas. E, com a UE saindo de uma hibernação nas discussões sobre a situação dos Bálcãs, tornou-se mais urgente negociar com a Macedônia.
Esse é apenas mais um capítulo da saga de disputas e conflitos da Macedônia. No fim do Império Otomano, a complexa mistura cultural e étnica da região abriu caminho a sucessivos conflitos internacionais – a Primeira e a Segunda Guerras dos Bálcãs levaram à Terceira Guerra, que rapidamente se tornou a 1ª Guerra Mundial.
No início dos anos 1990, a ONU deslocou para a Macedônia uma força de paz preventiva, com participação dos Estados Unidos. Menos de duas décadas atrás, o país quase se fracionou, em parte num reflexo da Guerra de Kosovo, ocorrida alguns anos antes.
Para se cumprir o acordo, serão necessárias determinação e coragem política. É pouco provável que venha ajuda de Moscou. Ao contrário: há certamente forças na Rússia ansiosas para atiçar as paixões nacionalistas nos Bálcãs e impedir a ampliação tanto da UE quanto da Otan na região. / WASHNGTON POST e NYT
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