Dois dias depois de manifestantes invadirem e incendiarem o Congresso do Paraguai após um grupo de senadores aprovar uma emenda que permite a reeleição no país, a tensão política aumentou em Assunção ontem. Observado por policiais, um grupo de mais de 100 pessoas acampou em frente ao prédio do Parlamento e promete só sair de lá quando o projeto for revogado. O prefeito de Assunção, o esquerdista Mario Ferreiro, pediu que a emenda seja anulada para a "pacificação do país".
Após demitir o ministro do Interior e o diretor da Polícia Nacional, o presidente Horácio Cartes determinou a investigação da morte de um militante do Partido Liberal, vítima de policiais nas horas que se seguiram ao incêndio do Congresso.
"Exigimos que a emenda seja retirada para evitar novos episódios de violência ao longo da semana", disse Ferreiro, do Partido Revolucionário Febrerista - legenda de esquerda que tem ganhado destaque no país. A não aprovação da emenda beneficiaria Ferreiro, que divide eleitorado com o ex-presidente Fernando Lugo.
Lugo, assim como Cartes, não pode disputar outro mandato por já ter dirigido o país. Ambos se aliaram no Senado para mudar o regimento e aprovar a emenda, à revelia do comando da casa, nas mãos do Partido Liberal. Parte da imprensa e da oposição vê ruptura institucional na medida tomada pelos senadores. O próximo passo será a votação na Câmara, onde o governo tem maioria, seguido da convocação de um referendo.
"Ficaremos na frente do Congresso até que a emenda seja retirada", disse o líder dos manifestantes Daniel Echeverría.
O Partido Colorado, de Cartes, descarta desistir do projeto. "A emenda será analisada pela Câmara dos Deputados", disse o porta-voz colorado Pedro Aliana.
A oposição também recorreu à Justiça para derrubar a emenda. O prazo para análise da liminar é de 90 dias. O governo espera aprovar a emenda na Câmara e aprovar o referendo até maio, para que haja tempo de Cartes se candidatar à reeleição em abril de 2018. / AP e EFE
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.