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Medo da fome faz com que moradores do Sudão do Sul fujam de áreas de conflito

Crise alimentar explodiu mesmo com previsões de safra agrícola positiva, mas confrontos entre governo e oposição obrigaram milhares de pessoas a abandonarem suas terras para buscar refúgio em centros da ONU

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JUBA - "Perdi a esperança de que a situação melhore no Sudão do Sul. Não podemos fazer nossas colheitas em razão à falta de segurança e, antes que a fome nos mate, decidi deixar a região com minha família e ir para um campo de refugiados, já que as pessoas aqui estão morrendo de fome", disse Rosa Ufuhu.

Antes de iniciar sua fuga rumo ao campo de refugiados de Kakuma, no Quênia, Rosa realiza os últimos preparativos para sua saída do país. Seu lar está situado na região de Nadapal, na fronteira sul com o Quênia e onde o conflito no Sudão do Sul ameaça provocar uma grave crise de fome em razão da incapacidade dos agricultores de realizarem suas colheitas pelos constantes ataques.

Novos refugiados chegam do Sudão do Sul e aguardam por atendimento em filas no Centro de Recepção Kuluba, no distrito de Koboko, em Uganda Foto: AFP PHOTO / ISAAC KASAMANI

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Outra região afetada é o Estado de Alto Nilo, onde há fortes temores entre os camponeses de que neste ano não será possível proceder com suas colheitas em razão dos incessantes ataques que começaram a ser lançados pela oposição armada contra a cidade de Alrank, no extremo norte do Estado.

"É verdade que sofreremos uma crise de fome se não conseguirmos colher o milho que semeamos em uma superfície de 1 milhão de 'fedanes' (4,2 mil km²), e que seria suficiente para nossa região e os Estados de Bahr Al Gazal e Equatória", disse o camponês Deng Thon, de Alrank. Ele denuncia que, assim como seus companheiros, foi vítima de ataques por parte dos insurgentes que tinham a intenção de destruir suas colheitas.

A crise alimentar explodiu mesmo com as previsões de uma safra agrícola positiva, com colheitas abundantes em várias regiões do país. No entanto, o aumento dos conflitos entre o governo e a oposição obrigou milhares de pessoas a abandonarem suas terras para buscar refúgio em centros da ONU e acampamentos de deslocados em países vizinhos, como Uganda e Quênia.

No Estado de Equatória, no extremo sul do país, muitos de seus habitantes se deslocaram para Quênia e Uganda. Além disso, os civis que optaram por permanecer em suas áreas nos Estados de Alto Nilo e de Unidade não podem transitar com liberdade para efetuar as colheitas da safra, e os combates nesta última área levaram milhares de habitantes a buscar refúgio em centros da ONU.

Depois que a situação se estabilizou gradualmente com a assinatura de um acordo de paz no início do ano, esses cidadãos começaram a retornar a seus lares. Agora, eles voltam a fugir com a explosão de novos confrontos, o que os obriga a retornar para os centros de acolhimento.

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"No início deste ano, saímos do centro da ONU no qual havíamos nos refugiado depois da assinatura do acordo de paz e do retorno de uma delegação da oposição a Juba, por isso começamos a semear de novo", relatou Wiego Samsun, camponês de Bantiu, capital de Unidade. No entanto, ele lamenta que o aumento dos combates tenha impedido os camponeses de efetuar suas colheitas, obrigando-os a voltar ao centro da ONU "por medo de uma crise de fome".

Além disso, mais de 1 milhão de sul-sudaneses fugiram do país, 90% deles mulheres e crianças, segundo dados do Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês). Mais de 4 mil civis entram por dia em território ugandense para se refugiar no acampamento de Bidi Bidi, que foi aberto em agosto e atualmente acolhe mais de 188 mil sul-sudaneses.

A porta-voz do Programa Mundial de Alimentos, Bitina Lusher, afirmou recentemente que a desnutrição supera 15% da população - o que é um nível de emergência - em 7 dos 10 Estados que compõem o Sudão do Sul, e que ela chega a 30% em Bahr Al Gazal do Norte.

Apesar dos números, o vice-ministro de Informação do país, Akol Paul Kordit, afirmou que seu país sofre "uma crise econômica, que não pode ser qualificada como uma crise de fome, como alegam algumas organizações humanitárias". Por isso, Kordit pediu a essas instituições que intensifiquem seus "esforços para ajudar as pessoas no país com alimentos e remédios, ao invés de escreverem relatórios negativos". / EFE

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