Ministra da economia da França anuncia candidatura ao FMI

Após renúncia de Dominique Strauss-Kahn, Christine Lagarde deverá concorrer à direção do órgão

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Por Daniela Fernandes
Atualização:

PARIS - A ministra da Economia da França, Christine Lagarde, anunciou nesta quarta-feira, 25, sua candidatura à direção-geral do Fundo Monetário Internacional. "É com o objetivo de obter o mais amplo consenso que apresento minha candidatura", disse Lagarde em uma coletiva de imprensa.

 

 

O processo de escolha do próximo diretor-gerente do FMI foi aberto com a renúncia do francês Dominique Strauss-Kahn, indiciado por agressão sexual nos EUA.O governo francês declarou ter o apoio de vários países europeus, como a Alemanha, a Grã-Bretanha e a Itália, e afirmou que a candidatura de Lagarde seria "um consenso" no continente. Lagarde disse que, caso seja eleita, dará continuidade à reforma em andamento do FMI para ampliar a representatividade dos países emergentes no órgão. "A instituição deverá se ajustar aos novos equilíbrios mundiais. A emergência de novos atores como China, Índia, Brasil e Rússia leva a questionar a representatividade (atual) deles no seio da instituição", disse ela. A candidatura da ministra teria o apoio da China, segundo o porta-voz do governo francês, François Baroin, que poderá substituir Lagarde no ministério da Economia. O governo chinês, no entanto, não comentou as declarações do porta-voz. Até o momento, sabe-se que Lagarde terá como rivais na disputa o presidente do banco central mexicano Augustin Carstens e o sul-africano Trevor Manuel, ex-ministro das Finanças, além de Grigori Martchenko, presidente do banco central do Cazaquistão. O ministro belga das Finanças, Didier Reynders, também manifestou a intenção de se candidatar à direção do FMI, como ainda o polonês Leszek Balcerowicz, que comandou as reformas econômicas do país. 'Acordo' Outras economias emergentes, como o Brasil, contestam a tradição de passar a direção do FMI sempre a um europeu. Em uma carta enviada na semana passada aos representantes do G20 sobre a posição brasileira em relação à sucessão no FMI, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que "já se passou o tempo em que poderia ser remotamente apropriado reservar esse importante cargo para um cidadão europeu". "O Brasil sempre apoiou a posição de que a seleção deve ser baseada no mérito, independentemente da nacionalidade", disse Mantega. Na última terça-feira, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul divulgaram comunicado expressando "preocupação" com o processo de escolha do novo diretor-gerente do FMI e dizendo que a escolha com base na nacionalidade prejudica a legitimidade do órgão. Na coletiva desta quarta-feira, a ministra Lagarde negou que haja um "acordo" tácito entre americanos e europeus prevendo que a direção do FMI seja sempre ocupada por um europeu, enquanto o Banco Mundial seria sempre presidido por um americano. "Não existe um arranjo desse tipo. As candidaturas são examinadas de maneira transparente e aberta e com base no mérito dos candidatos. É nesse processo que a minha candidatura se insere", disse Lagarde. "Isso significa que não é necessariamente um europeu (que deve dirigir o FMI). Da mesma forma que ser europeu não representa um trunfo nem uma deficiência", afirmou. Mas a candidatura de Lagarde pode enfrentar um problema de peso perante o conselho de administração do FMI. A Justiça francesa deve anunciar no dia 10 de junho, data de encerramento para a apresentação das candidaturas ao FMI, se irá ou não abrir investigações sobre a ministra por sua suposta atuação no polêmico caso envolvendo uma indenização de 285 milhões de euros ao empresário francês Bernard Tapie. O caso se estendeu na Justiça por 15 anos. O empresário alegava ter sofrido prejuízos com a venda da Adidas, que teriam sido causados pelo banco Crédit Lyonnais, na época estatal.

 

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