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Ministro da Defesa da China está sendo investigado pelo governo Xi, dizem autoridades dos EUA

Recente ausência do general Li Shangfu do olhar público, que ocorre após a remoção de dois comandantes de alto escalão, levanta questões sobre a confiança de Xi Jinping em seus militares

Por Chris Buckley e Julian Barnes
Atualização:

O ministro da defesa da China, general Li Shangfu, está sendo investigado pelo governo chinês, de acordo com duas autoridades norte-americanas, alimentando especulações sobre novas mudanças nas forças armadas após a remoção abrupta de dois comandantes de alto escalão responsáveis pela força nuclear do país.

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O General Li não é visto em público há mais de duas semanas. Esperava-se que ele participasse de uma reunião na semana passada no Vietnã, mas não houve notícias de sua presença. Questionada por repórteres na sexta-feira, 15, sobre o paradeiro do General Li, Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse que não tinha informações.

A investigação levanta questões sobre a confiança do líder do Partido Comunista, Xi Jinping, em suas próprias forças armadas, que são um pilar de suas ambições no exterior e de seu domínio no país.

O ministro da Defesa da China, Li Shangfu (à esq.), e o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, participam de uma sessão da 11ª Conferência de Moscou sobre Segurança Internacional (MCIS) durante o Fórum Técnico-Militar Internacional Exército-2023, realizado no Parque Patriota em Kubinka, nos arredores de Moscou, Rússia, em 15 de agosto de 2023.  Foto: Yuri Kochetkov / EFE

Há apenas seis semanas, Xi substituiu os dois comandantes mais experientes da Força de Foguetes do Exército de Libertação Popular, que supervisiona os mísseis nucleares da China. As demissões abruptas sugeriram que Xi estava tentando reafirmar seu controle sobre as forças armadas e eliminar a corrupção, a deslealdade e a disfunção percebidas em suas fileiras, segundo analistas.

Muitos especialistas acreditam que os comandantes militares podem ser acusados de corrupção, embora alguns tenham dito que suspeitas de deslealdade para com o Xi dentro do Exército de Libertação Popular, podem estar envolvidas. Em julho, a China também demitiu o ministro das Relações Exteriores, Qin Gang — outra autoridade que havia crescido rapidamente sob o comando de Xi — sem explicação. As duas autoridades americanas, que falaram sob condição de anonimato, disseram acreditar que o General Li havia sido colocado sob investigação por suspeita de corrupção.

Xi ainda parece politicamente incontestável, com a liderança do Partido Comunista, o alto escalão militar e os serviços de segurança repletos de membros leiais a ele. Mesmo assim, a queda repentina desses funcionários de alto escalão expôs as armadilhas de um sistema dominado por um único líder e levantou dúvidas sobre o julgamento de Xi, já que os funcionários sob escrutínio foram promovidos por ele.

Su Tzu-yun, especialista no Exército Popular de Libertação do Instituto de Defesa Nacional e Pesquisa de Segurança, um think tank em Taipei que é financiado pelo governo de Taiwan, disse que tinha mais de 90% de certeza de que o General Li havia sido removido de seu posto.

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“Para Xi Jinping, isso é uma perda de prestígio e, nas forças armadas chinesas e em toda a China, as pessoas vão perceber, mesmo que não digam isso abertamente”, disse Su. “Isso não vai forçá-lo a deixar o poder, mas vai prejudicar seu prestígio como governante.”

O General Li, de 65 anos, foi promovido a Ministro da Defesa Nacional em março, depois de entrar, no final do ano passado, para a Comissão Militar Central, o conselho liderado por Xi por meio do qual o partido controla as forças armadas.

O presidente chinês Xi Jinping participa da sessão plenária da Cúpula do BRICS de 2023 no Centro de Convenções Sandton em Joanesburgo, África do Sul, em 23 de agosto de 2023. Foto: Gianluigi Guercia / via Reuters

A última aparição pública do General Li foi no final de agosto, quando ele falou em um fórum em Pequim com a presença de autoridades de países africanos. Não é incomum que os comandantes do exército chinês fiquem longe dos holofotes públicos, embora, como principal diplomata das forças armadas, as ausências do ministro da Defesa sejam mais perceptíveis.

A agência de notícias Reuters informou na sexta-feira, citando fontes anônimas, que o General Li não compareceu às conversas agendadas na semana passada com autoridades vietnamitas — uma ausência incomum que sugeriu que algo poderia estar errado.

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Os oficiais podem estar “entregando seus colegas em troca de clemência, ou então os quadros estão atacando preventivamente os rivais”, disse Drew Thompson, ex-oficial de defesa dos EUA que há muito tempo estuda as forças armadas da China e agora é bolsista da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, em Cingapura. “A ideologia e a lealdade são a questão central, mas a anticorrupção é a ferramenta usada para alcançar o estado final de Xi e a segurança política do partido.”

Durante grande parte de sua carreira, o General Li esteve profundamente envolvido no desenvolvimento e na aquisição da crescente variedade de foguetes, mísseis e outras armas avançadas do exército. Ele parecia ter a confiança do Xi como um especialista em armas que, assim como Xi, era filho de um veterano das forças revolucionárias de Mao Zedong.

Engenheiro por formação, o General Li acumulou um currículo brilhante em foguetes, desenvolvimento de armas e no programa espacial tripulado. Ele foi nomeado vice-comandante inaugural da Força de Apoio Estratégico, criada por Xi no final de 2015 como parte de uma ampla reorganização das forças armadas chinesas. A Força de Apoio Estratégico reúne os esforços da China em novas áreas de rivalidade militar, como espaço, operações cibernéticas e espionagem, comunicações avançadas e guerra psicológica.

Em 2017, o general Li foi nomeado diretor do Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos das forças armadas chinesas, e foi seu papel nesse departamento que o tornou alvo de sanções do governo dos EUA no ano seguinte. Citando seu papel na aquisição de aviões de combate e mísseis terra-ar russos, Washington impediu o General Li de, entre outras coisas, obter um visto dos EUA.

A China recusou convites dos Estados Unidos para conversas entre o general Li e o secretário de defesa, Lloyd J. Austin III, dizendo que o governo Biden deveria primeiro suspender as sanções.

Soldados do Exército de Libertação Popular (PLA) são vistos diante de uma tela gigante enquanto o presidente chinês Xi Jinping discursa no desfile militar que marca o 70º aniversário de fundação da República Popular da China, em seu Dia Nacional, em Pequim, China, em 1º de outubro de 2019.  Foto: Jason Lee / Reuters

“Como diz a letra de uma conhecida canção chinesa, quando os amigos visitam, traga o vinho fino. Quando chacais e lobos nos visitarem, traga a espingarda”, disse o general Li em uma reunião anual de segurança em Cingapura este ano.

O aparente escrutínio oficial sobre o General Li levanta questões sobre o destino de outras autoridades chinesas de alto escalão, especialmente nos setores de armamentos e aeronáutica, onde ele subiu na hierarquia.

O general Ju Qiansheng, comandante da Força de Apoio Estratégico do Exército de Libertação Popular — onde o general Li serviu anteriormente — não é visto pelo público há meses e não compareceu a uma recepção para oficiais militares no final de julho, levantando a possibilidade de que ele também possa fazer parte de uma investigação.

“Acho que os casos que vimos agora são provavelmente apenas a ponta do iceberg”, disse Su, o pesquisador em Taipei. “O sistema de aquisição de armamentos do Exército de Libertação Popular geralmente lida com o mercado, portanto, a proporção de oficiais técnicos que se envolvem em problemas é bastante alta.”

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