Na Venezuela, grupos criminosos usam comida para recrutar crianças, diz ONG
Organizações se aproveitam da crise econômica e da escassez de alimentos para cooptar crianças e adolescentes
Por Redação
Atualização:
CARACAS - Crianças e jovens de famílias pobres da Venezuela estão sendo recrutados por grupos criminosos em troca de alimentos, em meio à grave crise de desabastecimento que assola o país, afirmou na sexta-feira 2 o diretor da ONG Observatorio Venezolano de Violencia (OVV), Roberto Briceño León. "Há pouca comida para dividir", explicou o diretor ao canal Globovisión sobre o fato de as crianças receberem menos alimentos dentro de suas casas.
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"Chega o grupo criminoso e convida essa criança para ir até a sede do grupo tomar um suco ou mesmo a uma lanchonete comer um hamburguer e começa a cooptar a criança", detalha Briceño León.
O diretor acrescenta que o método de recrutamento começou a mudar. Houve uma época em que o atrativo, segundo ele, eram os "doces digitais", se referindo aos celulares e tablets, mas agora a comida se tornou o principal atrativo. "Percebemos que esse padrão mudou em razão da crise alimentar. As famílias não têm comida", afirmou.
A ONG OVV, formada por especialistas de oito universidades nacionais, divulgou um estudo no começo de outubro denunciando que três crianças morreram por dia em 2017 na Venezuela em razão da violência. O estudo, que teve como base informações publicadas em meios de comunicação impressos e dados de fontes oficiais, mostrou que 1.134 homicídios de crianças e adolescentes ocorreram no ano passado, ou seja, uma morte violenta a cada oito horas.
Inflação: Quanto se gasta para fazer compras na Venezuela
1 / 13Inflação: Quanto se gasta para fazer compras na Venezuela
Queijo: 7,5 milhões de bolívares
O preço equivale a US$ 1,14 e foi registrado em um mini-mercado em Caracas, capital da Venezuela, em 16 de agosto. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Pacote de absorventes: 3,5 milhões de bolívares
O preço foi registrado em um mini-mercado na vizinhança de Catia, em Caracas, e corresponde a US$ 0,53. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Um quilo de arroz: 2,5 milhões de bolívares
O preço corresponde a US$ 0,38 e foi registrado em 16 de agosto, na capital Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
500 g de margarina: 3 milhões de bolívares
O preço foi registrado em um mini-mercado informal na vizinhança de Catia, de baixa renda, em Caracas. O custo do produto corresponde a US$ 0,46. Foto:
1 quilo de cenouras: 3 milhões de bolívares
O custo corresponde a US$ 0,46 e foi registrado em um mercado informal em Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
1 quilo de farinha de milho: 2,5 milhões de bolívares
O preço equivale a US$ 0,38. O registro foi feito no dia 16 de agosto, em um mercado de Catia, região de baixa renda em Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Sabonete: 3,5 milhões de bolívares
No dia 16 de agosto, o preço foi registrado em um mini-mercado da capital venezuelana. O preço corresponde a US$ 0,53. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Pacote de fraldas: 8 milhões de bolívares
O custo equivale a US$ 1,22 e foi registrado no dia 16 de agosto, em Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
2,4 quilos de frango: 14,6 milhões de bolívares
O preço é o equivalente a US$ 2,22 e seu registro foi realizado no dia 16 de agosto. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Um rolo de papel higiênico: 2,6 milhões de bolívares
O preço foi registrado em um mini-mercado informal de um bairro de baixa renda, em Caracas. O valor corresponde a US$ 0,40. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
1 quilo de macarrão: 2,5 milhões de bolívares
O valor é equivalente a US$ 0,38 e foi registrado no dia 16 de agosto, em um mini-mercado informal. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
1 quilo de carne vermelha: 9,5 milhões de bolívares
O preço equivale a US$ 1,45 e foi registrado em mercado informal de Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
1 quilo de tomates: 5 milhões de bolívares
Preço é o equivalente a US$ 0,76 e foi registrado em um pequeno mercado informal no bairro de Catia, em Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Segundo a ONG, as crianças indígenas do Estado de Zulia, na fronteira com a Colômbia, entram para a criminalidade seduzidas por produtos desviados do programa de alimentos do governo conhecido como CLAP. "As crianças são usadas para contrabandear gasolina e transportar drogas", explica Briceño León.
O diretor disse ainda que, além da crise alimentar, o abandono da escola tem papel importante na entrada dessas crianças e jovens a grupos criminosos. Nesse sentido, ele recomenda ao governo de Nicolás Maduro pensar em soluções que mantenham as pessoas na escola. "O abandono dos estudos deixa as crianças à mercê dos criminosos".
Maduro afirmou na quinta-feira que a Venezuela tem uma taxa de escolaridade de 90% e a meta do governo é alcançar os 100%. O chavismo afirma que a crise econômica é resultado de um complô de setores da oposição aliados aos Estados Unidos. / EFE