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Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

A economia britânica está perdendo ritmo, mas apenas um número reduzido de economistas demonstra preocupação

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Atualização:

O Partido Conservador passou grande parte da campanha eleitoral fazendo propaganda dos bons resultados econômicos obtidos por seu governo e atribuindo a última recessão à inépcia dos trabalhistas. O premiê David Cameron diz que "salvou" a economia e pôs a Grã-Bretanha "novamente em pé". Portanto, foi um pouco de azar que no dia 28 o Escritório Nacional de Estatísticas tenha divulgado dados indicando forte desaceleração econômica.O PIB do país cresceu 0,3% no primeiro trimestre, segundo estimativas preliminares. Se o número estiver correto, será a menor taxa de crescimento desde 2012, além de assinalar o quarto trimestre consecutivo de desaquecimento da economia. Os dados lançam luz somente sobre o lado da oferta - aquilo que os britânicos produzem no trabalho, e não o que gastam nas lojas. Deste ângulo, a desaceleração foi maior na chamada "City", a área no centro de Londres que concentra instituições financeiras e empresariais. Banqueiros, advogados e consultores (que os estatísticos incluem na categoria "serviços corporativos e finanças", ao lado de arquitetos e investidores do setor imobiliário) tiveram 18 meses fantásticos. Mas a alegria chegou ao fim mais ou menos na época do Natal. Esse desaquecimento, combinado com a retração do setor de construção, travou o crescimento.Apenas um número reduzido de economistas demonstra preocupação. Estimativas preliminares do PIB são sabidamente pouco precisas; o banco Goldman Sachs calcula que o crescimento deve ter sido o dobro do sugerido pelos números oficiais. Levantamentos recentes com o empresariado indicam um ritmo de crescimento um pouco menor, mas nada como a freada brusca mostrada pelo escritório de estatísticas. E a Grã-Bretanha continua a gerar grande número de empregos. Em sua reunião de abril, as autoridades que administram as taxas de juros do Banco da Inglaterra não deram mostras de preocupação com esse princípio de ano decepcionante. Chegaram até a insinuar que os juros podem subir antes que o esperado.Os conservadores também não vão se atormentar. Seu partido tem 18 pontos de vantagem sobre os trabalhistas na avaliação que os eleitores fazem de sua capacidade de gerir a economia britânica, e não será um único número ruim que encurtará essa diferença (os trabalhista já não batem na tecla de que é preciso impulsionar o crescimento). Além do mais, os eleitores andam menos apreensivos com a economia. Há dois anos, três quartos deles diziam que a economia era sua maior prioridade. Hoje, só metade pensa assim. Algumas manchetes desfavoráveis podem até desestimular os eleitores a arriscar uma mudança de governo. Já há até mesmo políticos conservadores tentando incutir esse raciocínio na cabeça do eleitorado: alegam que o baixo crescimento deste início de ano é uma advertência de que seu trabalho não está terminado.Mas nem os economistas, nem os políticos deveriam dar muita sopa para o azar, e isso por dois motivos. Em primeiro lugar, os setores da economia que apresentam taxas de crescimento mais robustas são justamente aqueles que pagam os salários mais baixos: distribuição, hotéis e restaurantes cresceram 1,2% no primeiro trimestre. A média dos salários em hotéis e restaurantes é de apenas 11,2 mil libras (US$ 17,2 mil) ao ano, frente às 22 mil libras na economia como um todo. Trata-se de um padrão inquietante para aqueles que esperam que a nova legislatura seja acompanhada de uma alta mais substancial dos salários.Em segundo lugar, a enxurrada de novos postos de trabalho, que impulsionou o crescimento reduzindo o desemprego, não vai durar para sempre - como o próprio Banco da Inglaterra observou este mês. Em breve, o crescimento terá de vir de algum outro lugar. Será um novo desafio para o novo governo.© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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