Quando Ronald Reagan retornou à Casa Branca, duas semanas após sofrer uma tentativa de assassinado, os médicos receitaram uma dieta especial para ele se recuperar da ferida causada por uma bala no peito. Eram ordens médicas, disseram os chefes de cozinha da Casa Branca na época.
“Ele estava em condições físicas muito piores do que antes. Quando ele voltou, sua dieta era praticamente sem gordura, mas rica em proteína e ferro para ajudar sua convalescença”, lembrou Frank Ruta, membro da equipe de cozinha durante o governo Reagan.
Agora, 37 anos depois, a equipe médica do presidente Donald Trump também recomendou que ele se submeta a uma dieta. A ordem foi dada pelo médico e contra-almirante Ronny Jackson, durante uma entrevista coletiva após o primeiro exame médico oficial do presidente, em janeiro. Foi naquela coletiva que Jackson, espontaneamente, anunciou que o presidente estava “mentalmente bem”.
O presidente pesa mais de 104 quilos. O que significa que Trump, com um 1,90 metro de altura, tem um Índice de Massa Corporal (IMC) de 29, e tecnicamente é uma pessoa com sobrepeso. Com um IMC em 30, ele seria oficialmente obeso.
Algumas pessoas, naturalmente, insinuaram que ele estava falsificando os números para ficar fora do alcance de William Howard Taft (o presidente mais gordo dos Estados Unidos, cujo mandato foi de 1909 a 1913).
Seria benéfico para ele se submeter a uma dieta pobre em gordura e carboidratos e se exercitar”, disse Jackson. “Conversamos muito sobre dieta e exercício. Ele se entusiasmou mais com a dieta e menos com o exercício, mas vamos partir para os dois.”
Segundo uma recente reportagem da Bloomberg Politics, Trump tem seguido os conselhos do médico. Fontes disseram que ele reduziu a ingestão de alimentos considerados “junk food”, assim descritos por seu ex-coordenador de campanha Corey Lewandovski. “No avião com Trump havia McDonald’s, Kentucky Fried Chicken e Diet Coke”.
Uma pessoa disse que a última vez que viu o presidente comendo um hambúrguer foi há três semanas”, escreveu o jornalista da Bloomberg no início de março.
Todo mundo sabe que Trump não sai muito para jantar, salvo quando visita uma churrascaria dentro do hotel que leva seu nome em Washington ou então come no restaurante de seu resort de Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida. Do contrário, faz suas refeições na Casa Branca, sob o comando da chef Cristeta Comerford.
Então, como os cozinheiros da Casa Branca criam os novos cardápios com baixo teor de gordura? E Trump ainda consegue trapacear? Estas eram perguntas que eu desejava fazer a Comerford, mas não consegui passar pela equipe de imprensa da Casa Branca.
Assim, fui em busca de antigos chefs de cozinha da Casa Branca. Segundo eles, os cozinheiros da presidência têm muita liberdade para criar os cardápios, mesmo os sujeitos a restrições dietéticas. Os cozinheiros gastam muita energia tentando imaginar o que o presidente, a primeira-dama e seus filhos gostariam de comer.
Segundo Roland Mesnier, chef francês que serviu cinco presidentes diferentes, os cozinheiros têm de inspecionar os pratos que voltam para a cozinha para determinar quais foram um sucesso e quais não.
Embora aos poucos descubram os gostos da família, os chefs preparam seus cardápios semanalmente, que são submetidos à aprovação da primeira-dama. Ela faz algumas correções e os envia de volta, ou não muda nada. Tudo depende de como está envolvida nos hábitos alimentares da família presidencial. “Na maior parte não são feitas mudanças”, disse Ruta.
Mesmo quando o médico do presidente aconselha uma dieta especial, como o contra-almirante Ronny Jackson recomendou para Trump, ainda compete aos cozinheiros criarem menus que incorporem as novas orientações.
Durante os anos de Barack Obama, Bill Yosses, confeiteiro da Casa Branca de 2006 a 2014, lembra que ele precisava reduzir o colesterol. Yosses, então, criou sobremesas à base de frutas ou com baixo teor de gordura, mas a sobremesa preferida de Obama eram as tortas. “Era difícil reduzir o conteúdo de gordura”, disse. Então, ele passou a servir a torta em fatias menores, um método que os atuais cozinheiros da Casa Branca podem usar para reduzir o teor de gordura, carboidratos e calorias de Trump.
Mas um presidente submetido a uma dieta pode beliscar alguma coisa entre as refeições impunemente? É uma questão complicada. Do lado residencial da Casa Branca, a cozinha não fornece muitos petiscos. “Na geladeira, há frutas e legumes”, disse Ruta. Mas cada governante tem seus petiscos preferidos, como as balas de goma de Ronald Reagan, as rosquinhas de Bill Clinton ou a predileção de todos por biscoitos e M&M’s.
Mas no geral, é difícil os presidentes enganarem os chefs que estão encarregados de vigiá-los. Afinal, eles são pagos para alimentar o presidente e cuidar de sua saúde. Mas, no caso do mordomo-chefe da Casa Branca, a história é bem diferente. O presidente o chama e pede Doritos e um molho de queijo. Mas e se não tiver nada disso na Casa Branca? “Bem, ele sai e vai comprar”, afirmou Ruta. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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