O desastroso legado de Zuma

Ramaphosa assumirá uma África do Sul afetada pela cultura do suborno, que está em pior estado do que uma década atrás

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Por THE ECONOMIST
Atualização:

Jacob Zuma foi desafiador até o fim, mesmo enfrentando 783 acusações de corrupção, depois que um tribunal considerou que a decisão de arquivar o caso era “irracional”. 

Jornais sul-africanos noticiam a renúncia de Zuma Foto: Reuters

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Sua expulsão do poder é um triunfo para Cyril Ramaphosa, que foi eleito líder do Congresso Nacional Africano (CNA) em uma reunião do partido em dezembro. Mas Ramaphosa terá de fazer uma poderosa limpeza.

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Na maioria das avaliações, a África do Sul está em pior agora do que há uma década, quando Zuma se tornou líder do CNA, antes de ser eleito presidente, em 2009. O crescimento econômico sofreu uma desaceleração e o país rapidamente mergulhou em recessão no ano passado. O desemprego está em 36%, na conta que inclui as pessoas que abandonaram a busca de empregos.

Uma maior parcela de cidadãos estava na pobreza em 2015 (a pesquisa mais recente) do que quatro anos antes e a dívida pública subiu às alturas. A desigualdade é escancarada e os serviços públicos são deprimentes. Uma tabela da OCDE, o clube constituído por países ricos, classificou o sistema educacional da África do Sul em 75.º lugar entre 76 países. 

Seu sistema de saúde foi responsável recentemente pela vergonhosa morte de 143 pacientes com doenças mentais, que morreram de fome e sede depois de serem transferidos de um hospital bem gerido para lares não regulamentados de cuidados básicos.

Antes que Ramaphosa possa começar a enfrentar muitos dos problemas estruturais que impedem o crescimento, tais como uma força de trabalho pouco instruída e um mercado de trabalho inflexível, ele terá de sanear um governo maculado pela corrupção em todos os níveis. Eliminar a podridão não será tão simples quanto remover Zuma.

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Ramaphosa também terá de enfrentar poderosas facções no topo do partido no poder, para demitir ministros incompetentes e combater uma cultura de suborno que se infiltrou diretamente nos conselheiros locais. Ele corre o risco de estragar a festa caso se mova rápido demais.

Mas quando Ramaphosa ocupar a presidência poderá utilizar a profunda boa vontade que conquistou em suas carreiras anteriores, como sindicalista e depois como empresário. 

Em menos de dois meses desde que Ramaphosa se tornou chefe do partido, a moeda da África do Sul aumentou para seu nível mais elevado em relação ao dólar em quase três anos. A perspectiva de sua presidência já inspirou algum otimismo que se compara ao recebido por Nelson Mandela, eleito presidente em 1994, que queria Ramaphosa como seu sucessor.

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Depois que Ramaphosa perdeu para Thabo Mbeki, eleito presidente em 1999, ele disse a amigos que não seria enganado de novo. Seu histórico como negociador, liderando o lado do CNA em conversações para acabar com o apartheid, o marcou como homem paciente e prudente, e ele recorreu aos dois atributos na sua longa luta para depor Zuma. 

Sul-africanos otimistas especulam que ele pode levantar o manto de Mandela. Mas e quanto a Zuma? Poucos vão lamentar o prematuro fim da presidência de um homem cujo nome do meio, Gedleyihlekisa, é traduzido do zulu como “aquele que sorri enquanto lhe causam mal”. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO  © 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM