Paris critica posição de Trump sobre Israel

Em conferência sobre conflito palestino-israelense, França condena mudança da embaixada dos EUA para Jerusalém

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PARIS - O chefe da diplomacia francesa, Jean-Marc Ayrault, advertiu neste domingo, 15, contra o projeto do presidente eleito americano, Donald Trump, de transferir a embaixada dos Estados Unidos em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, à margem de uma conferência em Paris sobre o conflito palestino-israelense. 

Países condenam proposta de Trump de mudar embaixada americana em Israel para Jerusalém Foto: EFE/EPA/BERTRAND GUAY

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Os 70 países reafirmaram que apenas uma solução de dois Estados poderá resolver o conflito e advertiram que não reconheceriam quaisquer medidas unilaterais tomadas por alguma das partes que possam prejudicar as negociações.

“Nenhum presidente americano se deixou levar por esta decisão”, declarou Ayrault à rede France 3. “Teria pesadas consequências. Quando se é presidente dos EUA, não se pode ter, sobre esta questão, uma posição tão unilateral, é preciso criar as condições para a paz.”

As declarações refletem a preocupação provocada na comunidade internacional pela imprevisibilidade de Trump sobre o conflito.

Durante a campanha eleitoral, o bilionário republicano prometeu reconhecer Jerusalém como capital de Israel e mudar a embaixada americana. Com isso, ele romperia com a histórica política dos EUA e de grande parte da comunidade internacional, para quem o status de Jerusalém, também reivindicada pelos palestinos como capital de seu futuro Estado, deve ser decidido em negociações.

Os palestinos reagiram à notícia, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, ameaçou voltar atrás no reconhecimento de Israel.

A transferência da embaixada “não só privaria os EUA de toda legitimidade na resolução do conflito, como reduziria a nada a solução de dois Estados”, declarou Abbas ao jornal francês Le Figaro.

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Apesar das declarações de Ayrault, o comunicado final da conferência de paz no Oriente Médio evitou explicitamente criticar os planos de Trump sobre a transferência da embaixada. Uma nova conferência deve ocorrer até o final do ano. Não compareceram à reunião de ontem nem representantes de Israel nem dos palestinos.

Ridicularizada por Israel, que na sexta-feira disse que seria uma “farsa”, a conferência de Paris faz parte de uma iniciativa francesa lançada há um ano para mobilizar a comunidade internacional em torno de um dos conflitos mais antigos do mundo e encorajar os dois lados a retomar o diálogo.

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, classificou ontem a conferência como “fútil”. O governo israelense não esconde sua empolgação com o futuro governo americano porque Trump se mostrou, até o momento, muito mais favorável aos interesses israelenses.

Cinco dias antes de Trump assumir a presidência dos EUA, o encontro em Paris foi visto como uma plataforma para que os países enviassem um sinal forte ao novo presidente de que uma solução de dois Estados para o conflito não pode ser comprometida.

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Os participantes “apelaram a ambas as partes para que se abstenham de medidas unilaterais que prejulguem o resultado das negociações sobre questões relativas ao estatuto definitivo, incluindo, nomeadamente, sobre Jerusalém, as fronteiras, a segurança e os refugiados”, disse o comunicado. Paris declarou que o encontro não pretendia impor nada a Israel ou aos palestinos e apenas negociações diretas podem resolver o conflito.

Uma fonte diplomática francesa disse que houve negociações difíceis nesse ponto. “É um parágrafo tortuoso e complicado para passar uma mensagem subliminar para a administração Trump.”

As relações entre EUA e Israel ficaram estremecidas durante o governo de Barack Obama, atingindo um ponto baixo no mês passado, quando Washington rejeitou vetar uma resolução da ONU exigindo o fim dos assentamentos israelenses nos territórios ocupados. Trump havia pedido o veto.

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Alguns dias mais tarde, o secretário de Estado americano, John Kerry, denunciou novamente os assentamentos e reiterou os parâmetros de referência para a solução do conflito.

O novo presidente americano promete perseguir mais políticas pró-Israel. / AFP e REUTERS

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