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Polícia do Egito detém Mubarak por acusações de corrupção e massacre

Decretada um dia depois de o ex-ditador ser internado em hospital por suposta ''crise cardíaca'', prisão atinge também seus filhos Gamal e Alaa; governo militar interino vinha sendo acusado por manifestantes de ser complacente com ''ex-chefe''

Atualização:

CAIROA polícia do Egito prendeu ontem o ex-ditador Hosni Mubarak, de 82 anos, e seus filhos Gamal e Alaa, sob acusações de corrupção e responsabilidade pela morte de 800 opositores durante os distúrbios do início do ano. A prisão ocorre em meio à crescente pressão sobre a junta militar que governa o Egito, acusada de tentar blindar seu antigo chefe. Os dois filhos de Mubarak já estão na prisão de Tora, na periferia do Cairo. Ambos desempenharam funções diretivas no governo e Gamal era tido como sucessor "natural" do ditador. Mas Mubarak se encontra sob a custódia da polícia no hospital onde está internado desde segunda-feira, quando supostamente sofreu uma "crise cardíaca". Ontem, havia informações contraditórias sobre o estado de saúde do ex-presidente - que, depois de governar por 30 anos, acabou deposto em 11 de fevereiro. Um médico indicado pela Justiça examinaria Mubarak para decidir se ele pode deixar Sharm el-Sheikh, balneário onde ele permanece desde que foi destituído, para ser interrogado. A agência egípcia de notícias Mena noticiou que, se o médico der o sinal verde, Mubarak será imediatamente transferido a um centro de detenção.Um procurador público havia convocado Mubarak a prestar esclarecimentos no domingo sobre as mortes de civis e as acusações de corrupção. Em um discurso transmitido pela TV egípcia no mesmo dia, o ex-ditador negou as acusações e prometeu cooperar com a Justiça.A detenção de Mubarak é mais uma reviravolta na revolução que varreu o Egito entre janeiro e fevereiro. O comando militar que assumiu o poder com a queda do ditador, prometendo abrir caminho para uma sucessão democrática, vem sendo duramente criticado pela demora na transição política e pela persistente violência contra opositores.Volta a Tahrir. Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que, só nos últimos dez dias, os militares egípcios espancaram e torturaram cerca de 200 pessoas. Dois opositores foram mortos por soldados no sábado, enquanto participavam de um ato contra o governo interino.Ontem, centenas de milhares de egípcios voltaram à Praça Tahrir - palco dos protestos que culminaram com a queda de Mubarak - para pedir que o ex-ditador seja julgado. A multidão trazia cartazes contra o marechal Mohamed Hussein Tantawi, que chefia o poder interino no Cairo - após ter sido ministro da Defesa de Mubarak por 20 anos.O Conselho Militar Provisório tentou se esquivar das acusações, culpando partidários do ex-ditador pelos distúrbios. Por meio de sua página no Facebook, a cúpula das Forças Armadas afirmou que aliados de Mubarak teriam incitado a violência na Praça Tahrir, no domingo."O conselho militar moveu-se rapidamente por pressão dos manifestantes na (Praça) Tahrir. Nas últimas semanas, cresceram as críticas a Tantawi e à junta militar pela lentidão e por tratar Mubarak como seu comandante", disse Shadi Ghazali Harb, integrante de um movimento de jovens pró-democracia.Na prisão de Tora, para onde foram levados os irmãos Mubarak, estão vários integrantes do alto escalão do antigo regime. Habib el-Adly, ministro do Interior que ordenou a repressão contra os manifestantes, e Ahmed Nazif, ex-premiê do ditador, aguardam julgamento no centro de detenção.O jornal egípcio Al-Ahram noticiou ontem que os filhos de Mubarak chegaram à prisão com roupas simples e barba por fazer. "Não parecia o Gamal que estávamos acostumados a ver na TV", disse o diário. / REUTERS e NYTSAÚDE FRÁGIL"Coma" - Dois dias após Mubarak anunciar que entregaria o poder, em 11 de fevereiro, a imprensa árabe chegou a noticiar que o ex-ditador havia entrado em coma. A informação, porém, era falsaPólipo - Em março de 2010, o então presidente egípcio passou por cirurgia para retirar um pólipo da vesícula biliar em Heidelberg, sul da AlemanhaCâncer - Acredita-se que o ex-líder tenha câncer em estágio avançado, embora provavelmente não no pâncreas, como noticiado na imprensaAVC - Em 2009, após a morte de um neto de Mubarak, cresceram os rumores de que o ditador teria sofrido um derramePARA LEMBRARDe herói de guerra ao banco dos réusPelos serviços prestados na Guerra do Yom Kippur, em 1973, Hosni Mubarak, então comandante da Força Aérea, foi alçado à vice-presidência do Egito e tornou-se apadrinhado do presidente Anwar Sadat. Após a derrota para Israel, o Cairo desistiu de tentar recuperar pela força a Península do Sinai, trocou a aliança com a URSS pela aproximação com os EUA e negociou a paz com os israelenses - o que significou a sentença de morte a Sadat. Em 1981, o presidente foi assassinado por radicais e Mubarak era a opção mais óbvia para manter a estabilidade do Egito. Após assumir a presidência, ele decretou estado de emergência - que só foi revogado após sua queda, em fevereiro. Mubarak preparava o terreno para emplacar seu filho Gamal como sucessor, mas a onda de manifestações frustrou seus planos. O ditador, que há três meses parecia intocável, hoje senta no banco dos réus.

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