WASHINGTON – O Relógio do Juízo Final, um instrumento simbólico criado por um grupo americano de cientistas atômicos em 1947 para indicar o quão perto a humanidade está da extinção, moveu os ponteiros pela primeira vez em três anos. A Guerra na Ucrânia fez com que o mundo esteja a 90 segundos da meia-noite do ‘apocalipse’, próximo como nunca antes.
O movimento, anunciado nesta terça-feira, 24, pelo Bulletin of the Atomic Scientists - responsável pela gestão do relógio desde a sua criação em 1947 -, foi motivado pelos “perigos crescentes” oferecidos pela guerra, de acordo com a presidente da entidade, Rachel Bronson. O relógio estava a 100 segundos da meia-noite desde 2020, devido ao aumento das tensões internacionais, à pandemia de coronavírus e às mudanças climáticas.
“Gostaríamos muito de voltar no tempo, mas temos que responder ao que está acontecendo no mundo”, disse à EFE o físico Daniel Holz, copresidente do conselho que decide a posição dos ponteiros a cada ano. “Se você olhar para o que está acontecendo na Ucrânia, os desastres climáticos, é muito difícil dizer que as coisas estão melhorando”, acrescentou.
O anúncio centrou na invasão russa da Ucrânia e no crescimento da ameaça nuclear após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarar no ano passado que usaria “todos os meios disponíveis” do seu país caso a integridade territorial da Rússia esteja sob risco. A declaração gerou uma preocupação sobre o uso de armas nucleares que fazem parte do arsenal russo.
Em outubro do ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já havia afirmado que as ameaças de Putin deixavam o risco de um “Armageddon nuclear” o mais alto desde a Crise dos Mísseis em 1962, em Cuba.
Os especialistas também alertaram que a desinformação russa sobre a possibilidade de que a Ucrânia esteja planejando ataques com armas biológicas “causa preocupação de que seja a Rússia que esteja considerando o uso de armas desse tipo”.
Esse aspecto, o da desinformação, é um dos fatores que mais pesou na decisão dos cientistas do Bulletin de adiantar a hora do relógio, não porque isso acarretará o fim da civilização, mas porque “afeta nossa capacidade de lidar com essas ameaças”, explicou Holz. “Se muitos russos nem sequer acreditam que há uma guerra, é muito preocupante porque eles não exercem a pressão adequada sobre seus líderes”, disse o especialista.
Apesar de a guerra ter sido o principal motivo para a mudança de horário, outros motivos, como o risco de novas pandemias após a covid-19, os perigos da crise climática e a falta de um acordo para voltar ao pacto nuclear com o Irã também contribuíram para a decisão, segundo mostra o boletim publicado nesta terça-feira.
O Relógio do Juízo Final foi criado por um grupo de cientistas, muitos dos quais trabalharam no projeto para construir a bomba atômica, mas se opuseram ao seu uso contra as pessoas.
A decisão sobre a hora que o relógio marca envolve o Conselho de Ciência e Segurança do Bulletin of Atomic Scientists - grupo criado por Albert Einstein e outros acadêmicos para alertar o mundo sobre o perigo das armas nucleares - e um conselho de patrocinadores, no qual há 11 ganhadores do Prêmio Nobel.
Desde 2007, o relógio inclui em suas avaliações a deterioração do planeta devido ao aquecimento global e à crise climática. /EFE