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Sul-coreanos sentem tristeza e raiva pela morte de antigo líder

Acusação de corrupção foi peso enorme para ex-presidente.

Por John Sudworth
Atualização:

Roh Moo-hyun teve uma vida memorável, surgindo de uma família humilde para assumir a presidência da Coréia de Sul. As circunstâncias de sua morte, um aparente suicídio na manhã deste sábado, são igualmente chocantes. Jornais estão publicando edições especiais dedicadas à sua carreira, legado político e o que se sabe até o momento sobre sua morte. No centro da capital Seul, foi montado um altar improvisado e centenas de pessoas, algumas chorando, se enfileiraram pacientemente aguardando sua vez de se ajoelhar, prestar homenagem e depositar flores. Raiva e remorso Eom Hee-ok me disse que não se considerava muito fã de Roh quando ele era presidente. "Mas fiquei muito triste pelo homem quando vi as imagens na televisão", disse. "O sentimento de remorso me tocou e tive que vir prestar homenagem." Além de tristeza, alguns sentem também raiva. "Ninguém é perfeito, ele pode ter tido falhas", disse Boo Hang, de 49 anos de idade. "Mas as acusações de corrupção que ele enfrentava eram motivadas politicamente, é por isso que eu tenho raiva", falou. Peso Muitos coreanos, claro, apoiavam as investigações, acreditando que Roh deveria responder as alegações. O que ninguém questiona é que o processo representou uma pressão imensa sobre o homem, que sentiu duramente ter tido sua reputação manchada. Ele chegou ao poder prometendo livrar a Coreia do Sul de sua tradição de corrupção em cargos públicos. Teve início, portanto, um grande escândalo quando surgiu a notícia de que sua família havia recebido US$ 6 milhões em propinas de um rico empresário. Quando deixou sua residência no sul do país para ser interrogado em Seul, todos os 400 km da viagem foram mostrados ao vivo pela TV. "O que me resta até o fim da vida é ser um peso aos outros", estaria escrito em seu bilhete suicida. Consequência O porta-voz de seu sucessor, o presidente atual, Lee Myung-bak, falou de um profundo sentimento de choque, chamando a morte de "realmente inacreditável e profundamente triste" Se o governo atual vai pagar algum preço político por causa desta tragédia vai depender do quanto for profunda e compartilhada a sensação de injustiça. Politicamente, Lee Myung-bak está no lado oposto a Roh. Desde que assumiu no ano passado, ele desmontou muito da estratégia de reconciliação com a Coreia do Norte. Durante seus cinco anos de gestão, Roh aumentou a generosa ajuda e as ligações comerciais com o antigo inimigo e até foi recepcionado com tapete vermelho na capital norte-coreana durante um raro encontro bilateral. Mas as relações entre os dois países se deterioraram rapidamente na administração Lee. Alguns analistas dizem que o incidente deve aumentar a popularidade de políticos mais liberais e diminuir a da atual administração, considerada conservadora. O processo de corrupção contra Roh será arquivado. Não se sabe com certeza como será seu funeral, mas de acordo com a mídia do país, sua nota suicida dá instruções. "Por favor, me cremem. E deixem, por favor, um pequeno memorial de pedra perto da minha casa. Tenho pensado há tempos sobre isso", estaria escrito nela. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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