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THE ECONOMIST: Moradores da Faixa de Gaza esperam um novo conflito

Esperança de palestinos é que visão de jovens jogando pedras em soldados chame de novo a atenção do mundo

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Por Redação
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O céu da Cidade de Gaza fervilhava de drones no dia 30 de março. O Exército israelense monitorava dezenas de milhares de palestinos que marchavam para a fronteira, para jogar granadas de gás lacrimogêneo nos que chegassem mais perto. Quando alguém se aproximou demais, soldados abriram fogo, matando 21 e ferindo centenas. 

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Milhares de pessoas se aproximaram da cerca de segurançaem seis pontos da Faixa de Gaza, ao que o Exército de Israel respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e munição real Foto: AFP PHOTO / Jack GUEZ

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Três anos e meio depois da última guerra de Gaza, quando 2,3 mil palestinos e 74 israelenses foram mortos, a sitiada faixa costeira entra de novo em erupção. Não houve baixas do lado israelense, mas os protestos em massa representam um novo desafio para Israel. 

Os palestinos estão chamando o movimento de Marcha do Grande Retorno, uma alusão às terras em que seus avós viviam quando fugiram ou foram expulsos pelo recém-nascido Israel. Eles prometem continuar marchando por seis semanas. 

Da perspectiva de Israel, trata-se de “ações terroristas” para sabotar a cerca fronteiriça. Elas são orquestradas pelo Hamas, grupo islâmico que controla Gaza desde 2007, depois de vencer a eleição do ano anterior. Desde então, Israel e Egito impuseram um bloqueio total ao território de 1,8 milhão de habitantes. Os organizadores da marcha, porém, afirmam que não representam nenhum grupo e estão simplesmente protestando contra seu status de refugiados. 

Após sete anos de levantes pelo mundo árabe, a questão palestina perdeu força na agenda internacional. O governo do presidente Donald Trump apoia Israel. A condenação internacional das recentes mortes na fronteira foi discreta. Mesmo capitais árabes emitiram apenas declarações mornas. O príncipe saudita, que está em viagem pelos EUA, preferiu falar sobre uma parceria com Israel. 

Os palestinos, porém, estão determinados a chamar a atenção do mundo. Marchas foram marcadas para datas simbólicas. A primeira coincide com o Dia da Terra, que lembra um protesto com mortes em 1976, e com a Páscoa judaica.

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Outras marchas estão previstas em razão das comemorações dos 70 anos de Israel. O ponto alto será em 15 de maio, quando os palestinos lembram a Nakba (catástrofe), como se referem ao nascimento de Israel e à consequente perda de suas terras. 

O ministro israelense da Defesa, Avigdor Lieberman, advertiu que “qualquer um que se aproximar da cerca estará colocando a vida em risco”. Isam Hammad, um dos organizadores das marchas, admite que elas só terão êxito “se houver mobilização de palestinos em outras áreas e se a imprensa levantar a questão dos refugiados”. Ele sabe que o mundo está pouco interessado. Mas, como Gaza é o único território do Hamas, o grupo usa as marchas para reivindicar a liderança da causa palestina e para desafiar Israel. 

Analistas israelenses acreditam que o Hamas mudou de tática, embora não de ideologia. Após uma década aumentando sua força militar com milhares de foguetes e uma rede de túneis na fronteira, os líderes do grupo já sabem que suas armas não são eficazes.  Os foguetes lançados contra Israel são interceptados pelo escudo antimísseis Iron Dome. Os túneis são rotineiramente destruídos.

Assim, em lugar de provocar nova guerra e ser acusado por moradores de Gaza de causar ainda mais sofrimento, o Hamas vem procurando meios de romper seu isolamento. 

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Dois anos de negociações com Egito e Autoridade Palestina, ainda dominada pela facção rival Fatah, não levaram a um acordo que permitisse abrir os portões de Gaza. Assim, o Hamas está retornando à “luta popular” da Primeira Intifada (levante), de 1987. 

A esperança é que a visão de jovens jogando pedras em soldados israelenses armados traga de volta a atenção do mundo. O novo chefe do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, acredita que uma luta popular aumente suas chances na batalha para se tornar o novo líder palestino quando o impopular Mahmoud Abbas sair de cena. 

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, rejeitou propostas para uma solução pacífica ao impasse, temendo parecer fraco aos olhos da extrema direita que o apoia. Ele prefere confiar em Trump, nos aliados sauditas e egípcios, nas Forças Armadas israelenses e na fragmentação dos palestinos. Um novo e sangrento confronto, porém, pode estar à vista. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ  © 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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