Trump diz que Estados devem decidir sobre monitorar mulheres grávidas e punir abortos

Declarações são consistentes com a estratégia de mostrar moderação sobre o tema; campanha de Joe Biden à reeleição reagiu: ‘não confia nas mulheres. Eu confio’

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Por Redação
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PALM BEACH, EUA - A seis meses da eleição americana, as pesquisas sugerem que o ex-presidente Donald Trump pode voltar à Casa Branca. No que diz respeito ao aborto, isso significaria que os Estados devem decidir se proíbem, a partir de quantas semanas, qual seria a punição e até mesmo se monitoram mulheres grávidas.

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Em entrevista à Time o republicano foi evasivo responder sobre o assunto e insistiu: “Eu não tenho que estar confortável ou desconfortável. Os Estados que vão decidir”. Trump costuma tomar para si o crédito pela derrubada da Roe versus Wade, a jurisprudência que garantiu o acesso ao aborto no país por mais de cinco décadas, mas frustrou os conservadores do movimento pró-vida este mês ao descartar a proibição nacional.

Na longa entrevista intitulada “Quão longe Trump iria”, que aborda os planos do líder republicano para o eventual segundo mandato, ele respondeu a várias questões repetindo que a decisão cabe aos Estados. Em outras, evitou se comprometer sobre o tema do aborto, que tem sido explorado do outro lado pela campanha do democrata Joe Biden.

“Roe v. Wade era sobre, não se tratava tanto de aborto quanto de trazê-lo de volta aos Estados. Portanto, os Estados negociariam acordos. A Flórida vai ser diferente da Geórgia e a Geórgia vai ser diferente de outros lugares”, disse.

Donald Trump discursa para apoiadores na Pensilvânia, 13 de abril de 2024. Foto: Eduardo Munoz/Reuters

A ideia foi repetida por Trump quando questionado sobre punição para mulheres que abortam. Ou se os Estados deveriam monitorar as gestantes para saber se a gravidez for interrompida.

Dados de localização já foram usados para enviar mensagens antiaborto a mulheres que visitaram clínicas em 48 dos 50 Estados americanos. A campanha massiva foi revelada este ano por uma investigação do senador democrata Ron Wyden e os defensores do aborto temem que as mesmas ferramentas de vigilância sejam usadas em investigações criminais.

“Eu acho que eles [os Estados] podem fazer isso. Novamente, você terá que falar com os Estados individualmente”, insistiu ao responder sobre o monitoramento de mulheres grávidas.

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Embora tenha descartado a proibição nacional, Trump não se comprometeu em vetar um eventual projeto com restrições para o aborto em todo país. Ele disse que o Partido Republicano não teria os votos necessários para avançar com uma lei nesse sentido, mesmo que consiga aumentar a bancada nas eleições. “Não preciso me comprometer com isso [o veto] porque, em primeiro lugar, nunca vai acontecer”, disse.

O republicano evitou as perguntas sobre o acesso a mifepristona, pílula abortiva que está no centro de uma batalha legal nos Estados Unidos. Ele se limitou a dizer que tem uma opinião e que fará um pronunciamento nos próximos dias.

Trump também não respondeu como pretende votar, enquanto residente do Estado da Flórida, no referendo que pode reverter a proibição do aborto a partir das seis semanas, lei que entra em vigor nesta quarta-feira, 1. Ele disse anteriormente e repetiu na entrevista que seis semanas é muito “severo”, mas sem revelar se ou como votará.

As declarações à revista Time são consistentes com a estratégia de mostrar moderação sobre o aborto. Após a derrubada da Roe v. Wade, o tema ajudou a impulsionar os democratas nas eleições de meio de mandato, em 2022, frustrando a “onda vermelha” que Trump prometia para o Partido Republicano.

Este ano, um em cada oito americanos considera que esse será um tema prioritário na eleição presidencial e 55% defende que o acesso ao aborto deve ser garantido nacionalmente, segundo o instituto independente de pesquisas em saúde KFF.

A campanha de Joe Biden tem atacado essa frente e repercutiu a entrevista. Em seu perfil no X (antigo Twitter) o democrata reagiu ao trecho em que o republicano fala sobre o monitoramento de mulheres. “Isso é repreensível. Donald Trump não confia nas mulheres. Eu confio”, escreveu.

“Os últimos comentários de Donald Trump não deixam dúvidas: se eleito, ele assinará uma proibição nacional do aborto, permitirá que as mulheres que fizerem aborto sejam processadas e punidas, permitirá que o governo invada a privacidade das mulheres para monitorar suas gestações e colocará a fertilização in vitro e a contracepção em risco em todo o país”, disse Julie Chavez Rodriguez, que lidera a campanha de Biden à reeleição.

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Os democratas também têm explorado declarações passadas de Trump. Em 2016, ele chegou a defender punição para mulheres que abortam, mas a sua equipe se apressou em mudar de rota diante da repercussão e disse que a questão deveria ser resolvida pelos Estados.

Na presidência, Trump indicou três juízes conservadores que formaram maioria para a Suprema Corte reverter a Roe versus Wade. No começo do mês, ele disse orgulhoso por isso.

Invasão do Capitólio e violência política

Na entrevista, Trump disse ainda que “absolutamente” consideraria perdoar todas as pessoas que tivessem sido condenadas ou se declarassem culpadas de acusações relacionadas à invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Trump ignorou as perguntas sobre violência política em novembro, sugerindo que sua vitória era inevitável. Mas quando pressionado sobre o que poderia acontecer se ele perdesse novamente a eleição, não descartou essa possibilidade.

“Acho que vamos ganhar. E se não ganharmos, você sabe, depende. Sempre depende da imparcialidade de uma eleição”, disse. “Não acredito que eles serão capazes de fazer as coisas que fizeram da última vez. Não creio que eles conseguirão escapar impunes”, acrescentou insistindo na tese falsa de que a última eleição teria sido roubada.

Apoiadores de Donald Trump invadem o Capitólio e interrompem a certificação da vitória de Joe Biden, 6 de janeiro de 2021.  Foto: John Minchillo/Associated Press

Imigração

Em outro ponto da entrevista, Trump disse que poderia usar a Guarda Nacional e as tropas americanas como parte do esforço para reprimir a imigração nos Estados Unidos, que inclui uma operação massiva de deportação das pessoas que chegam ao país ilegalmente.

“Acho que a Guarda Nacional seria capaz de fazer isso. Se eles não pudessem, então eu usaria os militares”, disse ele. Questionado na sequência se reverteria a lei que proíbe que militares sejam mobilizados contra civis, respondeu: “Não são civis. São pessoas que não estão legalmente em nosso país. Isso é uma invasão”./Com AP e NY Times

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