WASHINGTON - Os EUA denunciaram neste domingo, 8, o uso de armas químicas contra mulheres e crianças em um ataque do regime sírio a Duma, nos arredores de Damasco, reduto de rebeldes radicais sunitas que lutam contra Bashar Assad. O presidente americano, Donald Trump, ameaçou o governo sírio após o massacre que deixou pelo menos 49 mortos. “Pagarão um preço alto”, escreveu no Twitter.
Horas depois, a Síria disse ter sofrido um ataque aéreo em uma base militar e que, segundo a agência estatal Sana, isso “se parecia com uma agressão americana”. Oficiais americanos negaram o ataque à Síria e a própria agência estatal retirou posteriormente a menção aos EUA.
Pelo menos 14 militares e combatentes aliados sírios morreram no ataque de mísseis contra a base militar T-4, na província de Homs, na região central do país, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. Uma fonte de inteligência baseada na região foi ouvida pela agência Reuters e não descarta um possível envolvimento israelense no suposto ataque contra base. Questionado, o exército de Israel se recusou a comentar o ocorrido.
+ Ataque químico na Síria mata ao menos 40 pessoas
No ataque do regime sírio, ocorrido no sábado, as vítimas sufocaram até a morte, segundo moradores e rebeldes. Testemunhas relataram também queimaduras nos olhos e problemas de respiração. O fato de moradores da região estarem se refugiando em porões para se proteger dos bombardeios do regime teria contribuído para acentuar o risco de asfixia.
O ataque ocorre às vésperas de Assad, apoiado pela Rússia e por milícias iranianas, retomar completamente o controle do país, sete anos após o início da guerra civil. O regime sírio tenta retomar um grupo de cidades nos subúrbios de Damasco, conhecidos como Ghouta Oriental. Essas cidades constituem um enclave rebelde desde o início da guerra e são usadas por eles, segundo o governo, como base para atacar civis em Damasco.
A ação do regime sírio coloca o presidente americano em um dilema, pressionado a agir depois de ter prometido na semana passada deixar a Síria “em breve”. Há um ano, ele ordenou o uso de 59 mísseis Tomahawk contra alvos sírios após registros semelhantes de uso de armas químicas, na Província de Idlib, com 74 mortos.
“Muitos mortos, entre eles crianças e mulheres neste ataque sem sentido na Síria”, escreveu Trump. “A área dessa atrocidade está cercada pelo Exército sírio e é inacessível. O presidente Putin, a Rússia e o Irã são responsáveis por apoiar o animal Assad.” Foi a primeira vez que Trump nomeou o presidente russo em suas críticas ao ditador sírio.
Por meio da imprensa estatal, o regime sírio negou que tenha usado armas químicas contra a população. A Rússia, que apoia a ofensiva de Assad no país, também disse que armas químicas não foram usadas. O Irã alegou que os EUA usam o episódio como desculpa para uma ação militar.
ONU
O Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunirá hoje, a pedido dos EUA e de oito outros integrantes, para discutir uma resposta ao possível uso de armas químicas na Síria. O pedido do grupo foi feito ontem, um minuto depois de a Rússia, aliada de Assad, também solicitar uma reunião para discutir “ameaças internacionais à paz e à segurança”, provavelmente referindo-se à ameaça de ataque americano.
O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, disse estar “particularmente alarmado pelo aparente uso de armas químicas mais uma vez na Síria”.
A União Europeia afirmou, por meio de sua chancelaria, que há indícios de um novo ataque com armas químicas na Síria e pediu que a Rússia e o Irã ajam para conter Assad. O Reino Unido também condenou o ataque. / EFE, Reuters, AFP e NYT
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.