Ucrânia distribui pílulas de iodo em meio a temores de vazamento nuclear na usina de Zaporizhzhia

Medida foi tomada um dia depois da usina ter sido temporariamente desligada da rede elétrica por causa de danos provocados por incêndio em uma linha de transmissão

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Por Redação
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Autoridades da Ucrânia começaram a distribuir comprimidos de iodo para moradores nos arredores da usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, nesta sexta-feira, 26. Em meio aos combates perto do complexo, cresce também os temores de que um possível vazamento de radiação cause uma catástrofe.

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A medida foi tomada um dia depois da usina ter sido temporariamente desligada da rede elétrica do país por causa de danos provocados por um incêndio em uma linha de transmissão. O incidente aumentou o temor de um desastre nuclear em um país ainda assombrado pela explosão do reator da usina de Chernobyl, em 1986. A rede foi reativada nesta sexta-feira, mas os riscos continuam, segundo as autoridades ucranianas.

Bombardeios contínuos foram relatados na área durante a noite, e imagens de satélite do Planet Labs mostraram incêndios queimando ao redor do complexo – a maior usina nuclear da Europa – nos últimos dias.

Imagem aérea mostra usina nuclear de Zaporizhzhia. Foto: Planet Labs PBC/Handout via REUTERS - 13/08/2022

Comprimidos de iodo, que ajudam a bloquear a absorção de iodo radioativo pela tireoide em caso de acidente nuclear, foram distribuídos na cidade de Zaporizhzhia, controlada pela Ucrânia, a cerca de 45 km da usina.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU está tentando enviar uma equipe para inspecionar e ajudar a proteger a usina. Autoridades disseram que os preparativos para a viagem estão em andamento, mas ainda não está claro quando ela pode acontecer.

Zaporizhzhia foi ocupada por forças russas, mas continua a ser administrada por funcionários ucranianos desde os primeiros dias da guerra. Os dois lados se acusaram de bombardear o local.

No incidente de quinta-feira, a Ucrânia e a Rússia culparam-se mutuamente pelos danos na linha de transmissão que derrubou a usina da rede elétrica.

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Não está claro o que exatamente aconteceu, mas o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, disse que os geradores a diesel de emergência da usina tiveram que ser ativados para fornecer eletricidade para operar o complexo - a usina requer energia para operar os sistemas vitais de resfriamento dos reatores. Uma perda de resfriamento pode levar a um colapso nuclear.

A Ukrenergo, operadora do sistema de transmissão da Ucrânia, informou na sexta-feira que duas linhas principais danificadas que abastecem a usina com eletricidade retomaram a operação, garantindo um fornecimento de energia estável.

Usina nuclear de Zaporizhzhia está no centro do temor de um desastre na Ucrânia. Foto: Alexander Ermochenko/ REUTERS

A agência de energia nuclear do país, Energoatom, disse que a usina foi reconectada à rede e estava produzindo eletricidade “para as necessidades da Ucrânia”.

“Os trabalhodores nucleares da usina de Zaporizhzhia são verdadeiros heróis! Eles sustentam incansavelmente e com firmeza a segurança nuclear e radiológica da Ucrânia e de toda a Europa em seus ombros”, disse a agência em comunicado.

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Autoridades instaladas pela Rússia na região de Zaporizhzhia, no entanto, disseram que a usina estava fornecendo eletricidade apenas para áreas do país controladas pela Rússia e não para o resto da Ucrânia.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que uma visita da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU deve ocorrer “muito rapidamente”, alertando: “A energia nuclear civil não deve ser um instrumento de guerra”.

Lana Zerkal, conselheira do ministro da Energia da Ucrânia, disse à mídia ucraniana que a logística para uma visita da AIEA ainda está sendo elaborada. Zerkal acusou a Rússia de tentar sabotar a visita.

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A Ucrânia alegou que a Rússia está usando a usina como um escudo, armazenando armas lá e lançando ataques ao seu redor. Moscou, por sua vez, acusa a Ucrânia de disparar imprudentemente contra o local.

Os reatores de Zaporizhzhia são protegidos por grossas cúpulas de contenção de concreto armado que, segundo especialistas, podem resistir a um projétil de artilharia errante. Muitos dos temores se concentram em uma possível perda do sistema de resfriamento, e também no risco de que um ataque às lagoas de resfriamento onde são mantidas as barras de combustível usado possa espalhar material radioativo.

O contínuo bombardeio russo de Nikopol, uma cidade do outro lado do rio Dnieper a partir da usina Zaporizhzhia, danificou 10 casas, uma escola e uma unidade de saúde, mas não causou feridos, disse o governador de Dnipropetrovsk, Valentin Reznichenko./ AP

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