As eleições presidenciais do Equador neste domingo, 7, acontecem em meio a crises de segurança, energia e dificuldades econômicas no país. Há 1 ano e 6 meses no cargo, o presidente Daniel Noboa concorre à reeleição contra 15 candidatos, dos quais a maior adversária é a advogada Luisa González, aliada do ex-presidente Rafael Correa.
Segundo analistas, o processo eleitoral deste ano é marcado por um sentimento de antipolítica dos equatorianos, causada por sucessivas crises e fracassos políticos, e urgência com o tema da violência. Desde janeiro do ano passado, algumas províncias do país, incluindo a capital, Quito, estão sob estado de exceção por causa de uma crise de segurança causada pelo narcotráfico que fez o índice de homicídio ser o maior da América Latina em 2023.
Noboa foi eleito em outubro daquele ano para um mandato-tampão após o presidente Guillermo Lasso ser deposto pela Assembleia Nacional. A eleição foi caracterizada pelo assassinato do candidato Fernando Villavicencio, e Noboa despontou como favorito após apresentar uma agenda repressiva para combater a violência - o que gerou comparações com o presidente Nayib Bukele, de El Salvador.

Após assumir o cargo em novembro e transferir os maiores líderes do narcotráfico no sistema prisional, os grupos criminosos iniciaram uma onda de incêndios nas ruas, rebeliões e chegaram a invadir uma emissora de TV ao vivo em janeiro de 2024. Noboa reagiu com o decreto de conflito armado interno e instaurou o regime de exceção. O controle das ruas foi retomado e os homicídios caíram nos dois primeiros meses, mas tiveram alta no restante.
Este ano, a Polícia Nacional do Equador registrou o janeiro mais violento de sua história. Foram 600 homicídios, contra 479 no ano passado - a maior cifra até então. Sequestros e extorsões também cresceram no último ano, incluindo contra políticos. No dia 13 janeiro, a parlamentar Yadira Bayas, do partido de Noboa, foi capturada por criminosos.
O conflito armado interno elevou a popularidade de Daniel Noboa, então no seu terceiro mês de governo. Os equatorianos avaliaram como uma resposta à altura da crise e em abril votaram a favor do governo em um referendo que endureceu o aparato repressivo. Com o retorno da violência nos meses seguintes, o índice de aprovação de Noboa caiu e chegou a 53% no último mês. Uma crise energética que causou apagões em todo o país e deixou a economia à beira de uma recessão também contribuíram para a queda.
Apesar disso, o presidente aparece como favorito nas pesquisas eleitorais para a eleição deste domingo. Na pesquisa Ipsos divulgada no dia 30, Noboa aparece com 45,5% das intenções dos votos. Em seguida, aparece a correísta Luisa González, com 31,3%. A eleição é decidida no primeiro turno se o vencedor obter mais de 50% dos votos ou ao menos 40% com uma diferença de 10 pontos porcentuais para o segundo colocado.
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Sentimento antipolítica
As sucessivas crises políticas dos últimos anos e o aumento da violência causaram um sentimento de descrença política nos equatorianos que está presente nestas eleições. Aos 37 anos, Daniel Noboa, proveniente de uma família de exportadores de banana e empresário, permanece visto como um novo rosto da classe política que pode causar alguma mudança. Ele é candidato pela Ação Democrática Nacional.
Sua principal adversária, Luisa González, por outro lado, foi parlamentar durante o governo de Rafael Correa - que permanece uma figura influente na esquerda do país, apesar de condenado por corrupção - e concorreu à presidência contra Noboa no segundo turno de 2023 pelo Movimento Revolução Cidadã, partido que permanece até hoje.

Adepto da direita, Noboa explorou na campanha a imagem de González como parte da classe política responsável pelas crises do país nos últimos anos. “O apelo (de Noboa) está em sua imagem como um jovem outsider político não contaminado pelo que ele se refere como a ‘velha classe política’”, afirmou o analista político Sebastián Hurtado, presidente do PróFitas, uma consultoria de risco político para negócios.
Com uma eleição fragmentada, outros candidatos também tentaram explorar o sentimento antipolítico para aproximar eleitores indecisos, mas não superam 5% das intenções de voto. Entre elas está Andrea González, ex-esposa de Fernando Villavicencio. “Como os outros 14 candidatos não conseguiram se converter na figura para romper a polarização, há gente que vai votar em Noboa somente para não dar voto à Revolução Cidadã (partido de Luisa González)”, afirmou o analista em política e segurança Kleber Carrion, professor de direito da Universidad Uniandes.
Ausência de soluções para a segurança
Com uma taxa de homicídios que se multiplicou por seis entre 2018 e 2023, o Equador se tornou o país mais violento da América Latina com uma taxa de 46,5 homicídios por 100 mil habitantes. Em comparação, a taxa do Brasil no mesmo ano foi de 23,1. A crise resultou dos conflitos territoriais dos grupos de narcotráfico, que passaram a explorar o país como rota de tráfico de cocaína para os Estados Unidos.
Apesar de hoje ser um problema central do país, os candidatos apresentaram poucos planos de segurança durante a campanha eleitoral, avaliou Carrion. Segundo ele, isso aumenta ainda mais a apatia dos equatorianos. “Na fragmentação política que temos, há planos muito genéricos. Ninguém explica como vai colocar em prática, de onde virão recursos”, acrescentou.

A maioria dos candidatos, incluindo Luisa González, não apresenta alternativas à política repressiva de Noboa, que inclui construção de novas prisões - uma delas prometida por ele no mandato-tampão, mas que não foi construída por falta de recursos. A advogada apoia a militarização de territórios em conflito, como Noboa, e pretende restabelecer os ministérios da Justiça e da Coordenação da Segurança, fechados no mandado de Lenín Moreno (2017-2021). “Ao encerrar esses ministérios, o Equador ficou sem capacidade de lutar contra o crime organizado”, afirmou a analista Glaeldys González Calanche, do centro de estudos Crisis Group.
Outros candidatos prometem posturas mais repressivas, como a legalização da pena de morte para certos delitos graves e o restabelecimento do serviço militar obrigatório.
A médio prazo, as crises no Equador podem se agravar com a deportação de migrantes que estavam nos Estados Unidos indocumentados. Segundo Kleber Carrion, muitos foram para os EUA após serem ameaçados ou expulsos de territórios em conflito e devem ter dificuldade para se reintegrar à sociedade equatoriana, já que os grupos de narcotraficantes continuam fortes. Há um risco de aumento de pobreza, desigualdade e violência.
Na avaliação de Robert Muggah, diretor do Instituto Igarapé, que monitora as políticas de segurança na América Latina, o governo equatoriano falhou em implementar políticas e programas complementares à repressão, que pudessem prevenir a violência. Ele cita, por exemplo, reformas para fortalecer o sistema judicial para acelerar os processos contra os criminosos. “São necessárias estratégias mais abrangentes para enfraquecer as estruturas e redes do crime organizado”, disse.