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A volta do permanente nos cabelos, tendência no TikTok e entre estrelas do k-pop

Transformações de cabelos masculinos viralizaram na rede social com inspiração em artistas coreanos famosos

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Por Wilson Wong

O permanente masculino moderno faz bastante barulho para um penteado tão suave. No TikTok, a hashtag #menperm, que se refere a uma das últimas tendências nascidas no aplicativo, já acumulou mais de 20,7 milhões de visualizações.

Oscar Alba depois de fazer seu permanente.  Foto: Jessica Chou/The New York Times

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Os vídeos geralmente começam com um homem em uma cadeira de salão, retratado do ombro para cima. A câmera orbita a cabeça pouco antes de uma foto final da “coroa”: ondas sedosas e volumosas, laqueadas ao estilo das boy bands de K-pop.

“Eu me deparei com um influencer asiático de cabelo encaracolado no TikTok e pensei: ‘Isso não confere; a maioria dos asiáticos têm cabelo liso.’ Então pesquisei e descobri que ele tinha feito permanente’”, disse Brandon Dhakhwa, 20, estudante de Durham, na Inglaterra.

Anteriormente popular sobretudo entre os coreanos e coreano-americanos, a influência do penteado se expandiu aos poucos para além desses grupos nos últimos quatro anos - graças, em parte, à ascensão meteórica do TikTok e do K-pop. Embora não seja novidade na Coreia do Sul, a adoção mais ampla do permanente significa uma mudança perceptível desde o início dos anos 2000, quando o termo “metrossexual” - usado para descrever homens esteticamente antenados - se tornou popular.

Na Coreia do Sul, os padrões de beleza estão intimamente ligados à indústria da música, “simbolizados pelo ídolo do K-pop com pele e cabelo perfeitos, imaculadamente vestido”, afirmou S. Heijin Lee, que, como professora assistente de estudos sobre mulheres, gênero e sexualidade na Universidade do Havaí, em Manoa, pesquisa a cultura pop, a beleza e a mídia digital coreanas.

Essas mesmas características reverenciadas - ou, nesse caso, o permanente masculino - passam então a circular por meio das redes sociais.

Brendan Noji, de 25 anos, prestador de serviços para jovens LGBTQ que mora em Los Angeles, tropeçou no penteado on-line durante a quarentena nos primeiros dias da pandemia. Antes de ir ao salão, fez o trabalho de casa: reuniu uma coleção de referências, que incluía Gong Yoo, ator de “Squid Game”, Lee Minho, estrela de “Pachinko”, e o grupo de K-pop BTS. E, desde seu primeiro permanente, em junho de 2020, Noji se submeteu ao tratamento mais dez vezes: “Amo meus cachos. Eu me sinto muito mais autoconfiante. As ondas acrescentam uma personalidade muito mais próxima da minha.”

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Vistoso, mas não descaradamente chamativo

O permanente, claro, não é estranho aos americanos. Bandas de cabeludos. Laca no cabelo. Jubas exuberantes. A década de 1980 foi uma das eras mais memoráveis nos Estados Unidos em matéria de cabelo. Se você ligasse a TV, lá estavam eles: cachos rijos em penteados volumosos, que pareciam danificados e exigiam hidratação.

Ao contrário do primo americano com excesso de laca e gel, o “permanente coreano” é muito mais sutil. É quase imperceptível, para parecer natural.

Ben Duong, estudante de 19 anos de Greenville, na Carolina do Sul, descreveu seus cachos soltos como “vistosos, mas não exageradamente chamativos”. O penteado até convenceu dois amigos, que o acompanharam no segundo tratamento, a experimentá-lo também.,

“Estamos em um momento, pelo menos nos Estados Unidos, em que as gerações mais jovens são muito críticas a algo como a masculinidade tóxica”, disse S. Heijin Lee, professor assistente de estudos sobre mulheres, gênero e sexualidade na Universidade do Havaí em Manoa, que pesquisa cultura pop coreana, beleza e mídia digital. Foto: Jessica Chou/The New York Times

Segundo Tyler Jung, de 26 anos, analista de Nova York, existem apenas dois tipos de pessoas no mundo: quem entende e quem não entende o permanente. “Tem gente que não repara ou não presta atenção, o que pode ser interpretado como: ‘O permanente não deu certo.’ Mas, de certa forma, isso significa que não está parecendo artificial ou estranho, que é a pior sensação que você pode ter em relação a um novo corte de cabelo.”

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O perm coreano (“perm” é a abreviação de “permanent wave”) se distingue por outras razões: os cachos superiores são macios e soltos; é versátil e pode ser penteado ou usado com franja; e as laterais e a parte de trás da cabeça são desbastadas com máquina ou tesoura. Pagando mais, uma pessoa pode escolher um permanente para baixo, que relaxa e achata os fios teimosos que ficam “espetados”, criando uma aparência mais suave.

Embora não se saiba a origem desse estilo moderno de permanente, algumas das celebridades masculinas coreanas mais conhecidas, incluindo o jogador de futebol Ahn Jung-hwan e o ator Bae Yong-joon, do K-drama “Winter Sonata”, levam os créditos por tê-lo popularizado em um primeiro momento, de acordo com Sehwa Jin, cabeleireira e proprietária do Naamza, salão de Los Angeles especializado em penteados populares entre os homens coreanos.

Desde então, surgiram “vários estilos de ‘wave perm’” (permanente ondulado), incluindo os que são usados pela Geração Z e pelos millennials hoje, informou Mujin Choi, cabeleireiro sul-coreano que trabalhou com o BTS.

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Jin acrescentou que várias interpretações dos permanentes masculinos existem há décadas no Japão e na Coreia do Sul, mas as diferenças residem na moda e no estilo de cada país. Os métodos e ferramentas por trás desse permanente, no entanto, não são tão diferentes daqueles das jubas americanas que dominaram o fim do século 20.

Ambos usam soluções químicas e bobes de plástico e podem aplicar calor, dependendo da aparência desejada, mantendo a ondulação por dois a seis meses, dependendo dos cuidados posteriores, que incluem hidratar, evitar a umidade e usar produtos para cabelos quimicamente tratados. E, pegando emprestada uma frase de Elle Woods em “Legalmente Loira”, todos seguem a mesma regra fundamental: “É proibido molhar o cabelo por pelo menos 24 horas depois de fazer um permanente.”

K-pop, K-drama, K-tudo

Se você desenhar um gráfico medindo a proliferação dos permanentes masculinos, ele provavelmente corresponderá ao da popularidade de grupos de K-pop e dos K-dramas nos Estados Unidos. A prevalência dessas exportações pode ser vista em dois períodos distintos, que também convergem com o surgimento de vários aplicativos de mídia social.

No início dos anos 2010 - quando o Instagram não tinha anúncios e os millennials ainda usavam o Facebook -, havia as boy bands BigBang e SHINee, bem como Psy, o cantor de Gangnam Style, e a série dramática Meninos Antes de Flores. Na década de 2020, que trouxe a explosão do streaming de TV e a pandemia, foi a vez do TikTok, do BTS, do grupo feminino de K-pop Blackpink e de Round 6.

Segundo Lee, no fim dos anos 1990 e no início dos anos 2000, os principais meios de comunicação e apresentadores de talk shows se concentravam nos coreanos que queriam fazer plástica para “parecer brancos” (por exemplo, alguns americanos eram obcecados com a cirurgia de pálpebras duplas dos asiáticos). “Avancemos rapidamente para o momento atual, em que vemos todas essas tendências para ‘parecer coreano’. Acho que essa mudança revela de fato como a cultura pop coreana explodiu e virou sensação global.”

O impulso para o permanente de Eric Ambriz foi o desejo de experimentar algo novo. “Como tenho cabelo muito grosso e liso, fazer cachos foi muito divertido. Você se sente outra pessoa”, observou Ambriz, de 32 anos, que é mexicano-americano e trabalha na empresa de caminhões da família em Oxnard, na Califórnia.

Jung, que gasta cerca de US$ 300 no cabeleireiro a cada três meses, questiona: “Se você tem condições financeiras, por que não parecer um ídolo coreano?”

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