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Caso entre Elizabeth Taylor e Richard Burton vira peça de teatro

O ganhador do prêmio Pulitzer Lawrence Wright leva aos palcos a relação amorosa que se tornou um escândalo nos anos 1960 e foi condenada pelo papa

Por Michael Hoinski
Atualização:

AUSTIN, Texas - Lawrence Wright, autor e escritor de longa data da revista New Yorker, não é tão sério quanto parece. Ele não é obcecado com terrorismo e religião, como sugere seu mais recente trabalho. Às vezes ele só quer um escândalo sexual picante.

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De fato, antes de escrever “O Vulto das Torres - A Al-Qaeda e o Caminho até o 11/9”, ganhador do Prêmio Pulitzer de 2007 por não ficção, e “A prisão da fé: Cientologia, celebridades e Hollywood”, um finalista do National Book Award de 2013, Wright estava trabalhando em “Cleo”, uma peça sobre o amor sórdido entre Elizabeth Taylor e Richard Burton durante as filmagens do épico de 1963 “Cleópatra”.

Wright começou a escrever "Cleo" há cerca de 20 anos, mas foi prejudicado pelos ataques terroristas do 11 de Setembro. A peça foi programada para estrear em 6 de abril no Alley Theatre, em Houston. A produção, dirigida pelo ator Bob Balaban, saciou um dos primeiros desejos de Wright.

"O caso de Elizabeth e Burton coincidiu com a minha puberdade, então eu estava especialmente sintonizado com o que estava acontecendo", disse Wright. “Esse relacionamento - a paixão e a luxúria se espalharam pelo mundo todo. Certamente despertou minha atenção”.

Em agosto passado, Wright se sentou em casa, em West Austin, e na tela de seu computador, havia um documento aberto para o rascunho de número 78 de "Cleo". Ele estava se preparando para a estreia da peça em setembro. Então o furacão Harvey atingiu Houston e danificou o Alley, provocando o atraso.

Lawrence Wright disse que o 11 de Setembro atrasou a produção de 'Cleo'. Foto: Ben Sklar para The New York Times

Nesses sete meses, Wright escreveu mais nove rascunhos, ao mesmo tempo em que atuou como produtor-executivo da nova série da plataforma de streaming Hulu, baseada em “O Vulto das Torres”, e na conclusão de um novo livro sobre a política do Texas. "Cleo" é, agora, uma peça drasticamente diferente do que quando Wright a concebeu, mas o tema continua o mesmo.

“É, de certo modo, uma investigação sobre o amor, e como isso é perigoso, e ainda assim é essencial", disse ele. "Estamos condenados a ter esse elemento desenfreado e perturbador em nossas naturezas e não entendemos isso".

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Os atores Lisa Birnbaum e Richard Short interpretam Elizabeth e Burton. Eles foram escalados, segundo Balaban, por sua capacidade de incorporar tanto a tragédia quanto a comédia.

Burton e Elizabeth, cujo relacionamento destruiu seus casamentos, não conseguiram manter seus desejos em segredo, e os primeiros paparazzi capturaram cada minuto descarado de seus banhos de sol e carinhos. "Houve indignação", disse Wright. “Ninguém jamais havia visto esse tipo de coisa acontecendo em público antes".

O papa condenou o casal, e uma congressista da Geórgia propôs proibir Elizabeth, uma cidadã naturalizada americana, de retornar depois das filmagens. A fidelidade era um forte valor americano, mas a dupla persistiu em flagrante desafio e, na opinião de Wright, ajudou a desencadear a revolução sexual.

"A peça termina com uma cena bastante brutal - uma luta grande e desarticulada que você pensaria que destruiria Elizabeth e Burton, mas, na verdade, é o que acaba consolidando o relacionamento deles", disse Balaban. "Queríamos apresentar algo que provavelmente fosse como o que realmente aconteceu".

Em 17 de abril, Wright publicará o livro (ainda sem tradução para o português) “God Save Texas: A Journey Into the Soul of the Lone Star State”, baseado em reportagens que fez para a revista The New Yorker. David Remnick, o editor, pediu a Wright que explicasse seu estado natal; o escritor “de brincadeira” lembrou ao editor que ele é pago pela palavra.

Remnick assumiu o risco. "O segredo de Wright é que ele escreve apenas sobre o que chama completamente sua atenção e imaginação", disse Remnick. “Ele faz o que vai fazer. E os resultados são invariavelmente surpreendentes”.

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