PUBLICIDADE

Empreendedora americana preenche lacuna da indústria de produtos de beleza para negros

Após anos sem conseguir encontrar uma maquiagem que ficasse boa em sua pele, Diarrha N'Diaye-Mbaye criou a Ami Colé

PUBLICIDADE

Por Sandra E. Garcia

Durante anos, Diarrha N'Diaye-Mbaye misturou e combinou bases e corretivos para criar um tom que combinasse com sua linda pele. No entanto, por mais que experimentasse, geralmente saía decepcionada das lojas de produtos de beleza.

Ela não era a única. Embora marcas como a Fashion Fair e a Iman Cosmetics tenham, há muito tempo, desenvolvido produtos para tons de pele mais escuros, os consumidores de pele negra e parda ainda têm uma gama limitada de opções. A Fenty Beauty, da cantora Rihanna, revolucionou o mercado atual quando iniciou suas operações em 2017.

Cansada de não encontrar produtos de beleza para sua pele, Diarrha N'Diaye-Mbaye resolveu desenvolver sua própria marca de maquiagem. Foto: Elianel Clinton/The New York Times

PUBLICIDADE

Em 2018, N'Diaye-Mbaye, de 32 anos, decidiu criar o produto que havia tanto procurava: uma base líquida leve, respirável e que fosse parecida com a pele, mas ainda melhor. No ano passado, em meio à pandemia, N'Diaye-Mbaye lançou a Ami Colé, linha de maquiagem específica para a pele com bastante melanina. O nome foi dado em homenagem à sua mãe.

No fim do ano, N'Diaye-Mbaye recebeu o prêmio de revelação do ano da revista Women's Wear Daily, um prêmio da revista de moda e beleza Glossy e o prêmio de inovação em beleza do site Refinery29. O rímel da marca foi apontado como a "escolha da editora de beleza" pela Allure.

"Aprendi com a autoexploração. Quanto menos maquiagem eu usava, mais confiante me sentia. Olhar-se no espelho e conseguir ter essa confiança - eu sabia que precisávamos disso e que tal coisa não existia", disse N'Diaye-Mbaye em entrevista no salão de cabeleireiro de sua mãe no Harlem, em Nova York. Ela sabia da importância de atender mulheres negras, porque cresceu prestando atenção no efeito que esse cuidado causa.

Trilhando um caminho

N'Diaye-Mbaye cresceu em Little Senegal, reduto de imigrantes da África Ocidental em Nova York. Passava a maior parte das tardes no Aminata Hair Braiding, salão que sua mãe abriu em 1989. "Estou aqui desde que me entendo por gente", comentou, enquanto gesticulava, no salão que pouco a pouco ia ficando cheio de clientes.

Publicidade

N'Diaye-Mbaye geralmente terminava a lição de casa sentada perto de uma janela ao lado de uma pia, geralmente vestindo o uniforme escolar: blusa branca, suéter azul-marinho e meia-calça branca opaca. Um pequeno rádio lhe fazia companhia. Fotos de mulheres com diferentes estilos de trança - cornrow, box braid, twists, nagô - cobriam as paredes.

Ela via as mulheres negras saírem do salão um pouco curadas, munidas de uma grande autoestima e de vários apliques de Kanekalon nos cabelos. N'Diaye-Mbaye quis reproduzir aquela experiência para as pessoas insatisfeitas com os produtos oferecidos pelas empresas de cosméticos.

Em 2011, depois de se formar em inglês pela Universidade de Syracuse, ela voltou para o Harlem. Depois de vários estágios e um emprego na Temptu, empresa que produz uma maquiagem que é aplicada com aerógrafo, N'Diaye-Mbaye começou a trabalhar como estrategista de mídia social na L'Oréal Paris, em 2016. "Como você pode imaginar, tudo era muito monolítico, a forma como pensavam a beleza."

Em 2018, foi recrutada por Emily Weiss, fundadora da empresa de maquiagem Glossier, para trabalhar na equipe de desenvolvimento de produtos. Weiss estava interessada na maneira como N'Diaye-Mbaye abordava sua comunidade e a ajudou a desenvolver ideias próprias. "Eu me lembro de pensar: 'Vamos ver se ela está interessada em desenvolver produtos'", escreveu Weiss em um e-mail.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A Glossier atuou como uma espécie de incubadora para a Ami Colé, porque a empresa desenvolve seus produtos com base nas necessidades dos clientes, e estas, por sua vez, são aferidas por meio de pesquisas de consumo.

"A indústria da beleza, como qualquer indústria com mais de cem anos, diz muito: 'Não, não é assim que se faz. É preciso fazer assim para vencer.' Ir contra isso e fazer algo diferente é bastante desafiador e não necessariamente ajuda a fazer muitos amigos. Mas a indústria não é sua amiga; o cliente é que é seu amigo. Você não está aqui para impressionar a indústria; está aqui para inspirar as pessoas, criar novos caminhos, aprender muito e passar esse conhecimento para a frente", disse Weiss.

N'Diaye-Mbaye descreveu seu tempo na Glossier como um campo de treinamento no qual aprendeu o máximo possível sobre o processo de desenvolvimento de produtos. "Tive uma curva de aprendizado realmente acentuada. Foi uma ótima experiência, mas ainda faltava alguma coisa para preencher a alma. Eu estava perdendo a conexão com aquilo que literalmente faz com que eu me veja", explicou ela enquanto jogava suas longas tranças pretas para trás do ombro.

Publicidade

Ela saiu da Glossier em 2019 e passou a se dedicar inteiramente à criação da Ami Colé. Participou da convenção Cosmoprof, feira que reúne produtores, distribuidores e fabricantes da indústria da beleza. Lá, procurou por fornecedores que pudessem criar a fórmula que ela queria, com base em pesquisas feitas com mais de 400 mulheres. A maioria dos fornecedores não foi receptiva. "Alguns me diziam: 'Fenty é nosso próximo compromisso, não nos faça perder tempo.'"

N'Diaye-Mbaye finalmente conseguiu o contato de um formulador da Itália e, depois de oito meses, finalmente recebeu algumas amostras, que usou enquanto buscava investidores. Até que, em 2020, a pandemia interrompeu seus planos. "Pensei: 'É óbvio que ninguém vai me dar dinheiro agora porque o mundo está fechado.' Eu simplesmente não sabia o que fazer."

Diarrha N'Diaye-Mbaye e sua mãe, Ami Cole, no salão de Cole, no Harlem. Foto: Elianel Clinton/The New York Times

Ponto de virada

Meses depois, quando George Floyd foi assassinado em maio de 2020 e os protestos se espalharam por todo o país, ela descobriu que os investidores também estavam interessados em fazer alguma coisa. "De repente, começaram a responder aos e-mails. As pessoas que me disseram não em 2019 estavam me dando atenção."

Ela estava pronta para atender as chamadas. Por fim, conseguiu levantar US$ 1,69 milhão com investidores-anjo. A maior parte do capital institucional veio da Imaginary Ventures e da Debut Capital, fundo que trabalha especificamente com empreendedores negros, latinos e indígenas.

Hoje, a Ami Colé oferece uma base líquida respirável, um iluminador que ajuda a dar uma aparência úmida e um óleo labial. Os produtos custam entre US$ 19 e US$ 32. "Tudo de que eu precisava era acesso. Eu vinha pedindo acesso havia anos e isso nunca tinha sido concedido a mim. As pessoas fazem você se sentir louca ou delirante por oferecer algo a mais", comentou N'Diaye-Mbaye.

É uma frustração compartilhada por Olamide Olowe, fundadora da empresa de cuidados com a pele Topicals. Em 2015, enquanto frequentava a Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Olowe, de 25 anos, cofundou a marca de beleza SheaGIRL, em parceria com a empresa SheaMoisture. Segundo Olowe, a SheaGIRL foi um experimento para que a marca aprendesse a falar com a Geração Z. "Depois daquilo, eu sabia que não queria mais um emprego."

Publicidade

Assim como N'Diaye-Mbaye, Olowe queria preencher algumas lacunas da indústria da beleza criando os produtos que ela poderia comprar. Mas, quando começou a buscar investimentos e a apresentar seu produto a varejistas, influenciadores e investidores, encontrou resistência. "Muita gente, que simplesmente não conseguia ver a importância daquilo, questionou se a ênfase em oferecer produtos que funcionassem para tons de pele mais escuros era mesmo tão importante", explicou Olowe.

Por fim, ela obteve US$ 2,6 milhões em financiamento para fundar a Topicals. "As pessoas sempre costumavam me perguntar: 'Como você, uma jovem negra, conseguiu descobrir isso e esses grandes players, com pesquisas de ponta, não conseguiram?'", contou Olowe, acrescentando que se tratava de um elogio indireto.

N'Diaye-Mbaye também teve de justificar a necessidade de sua linha de produtos para possíveis investidores que não conseguiam entender uma linha de produtos de beleza cujo foco central era a pele escura. Ela frequentemente analisa novos investidores para se certificar de que estão alinhados com a marca. "Odeio tokenismo. Acabo me perguntando: 'Isso é autêntico?'" Ela disse que precisa se beliscar de vez em quando e que ainda encontra respostas para novas questões no dia a dia.

"Estou tão sobrecarregada. Eu quis tanto que isso acontecesse e por tanto tempo. Para mim, é uma loucura ser mencionada na mesma frase que cita Rihanna ou Fenty!", afirmou com certa melancolia, enquanto sua mãe olhava para ela no salão, a cabeça envolta em um lenço de seda preto.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.