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Estudo mostra que plantas choram, sim

Cientistas registraram ruídos de estalo que as plantas fazem em resposta a estresses como desidratação ou corte

Por Darren Incorvaia
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os humanos têm maneiras gloriosas de vocalizar o descontentamento: resmungamos, reclamamos, queixamo-nos, gememos, lamentamos. Pode-se pensar que expor reclamações requer, no mínimo, uma boca. Mas pesquisas recentes mostram que não é bem assim.

As plantas estressadas emitem sons audíveis que podem ser ouvidos a metros de distância, e o tipo de som corresponde ao tipo de problema que estão tendo. Os resultados foram publicados em 30 de março na revista Cell.

Plantas fazem queixas específicas, de acordo com o tipo de estresse a que estão submetidas Foto: Tuvik Beker/The New York Times

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Os pesquisadores suspeitam que o estalo nervoso seja um subproduto da cavitação, quando pequenas bolhas estouram e produzem mini ondas de choque dentro do sistema vascular da planta, como o que acontece nas articulações quando você estala os dedos.

“A cavitação é a explicação mais provável, pelo menos para a maioria dos sons”, disse Lilach Hadany, bióloga da Universidade de Tel Aviv, em Israel.

As plantas interagem com organismos que produzem sons o tempo todo – como abelhas zumbindo – e também se comunicam com outras formas de vida, incluindo outras plantas, emitindo substâncias químicas, chamados voláteis. Mas havia pouca pesquisa sobre plantas detectando - ou produzindo - sons audíveis.

Depois que a dra. Hadany conheceu Yossi Yovel, que estudava os sons dos morcegos em Tel Aviv, eles decidiram se unir para enfrentar a questão dos sons das plantas juntos. Eles se concentraram em plantas de tomate e tabaco porque são fáceis de cultivar e têm uma genética bem compreendida.

As plantas foram colocadas em caixas à prova de som com dois microfones apontados para seus caules, prontos para gravar qualquer coisa. Os pesquisadores descobriram que as plantas não apenas emitiam sons, mas também faziam muito mais barulho quando estavam desidratadas ou com os caules cortados (simulando um ataque de herbívoro).

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Os sons das plantas são muito agudos para os humanos ouvirem. Mas estão dentro do alcance auditivo de outros animais Foto: Neil Hall/EFE/EPA

Os pesquisadores também conseguiram captar os mesmos sons das plantas em uma estufa. Desde então, eles detectaram sons produzidos por outras plantas, como videiras e trigo.

A vegetação irritada fez queixas específicas que correspondiam ao tipo de estresse a que estava submetida. Um programa de aprendizado de máquina poderia dizer com 70% de precisão se a planta estava com sede ou em risco de decapitação.

“O fato de as plantas emitirem ruídos diferentes que contêm alguma informação parece ser a principal contribuição deste estudo”, disse Richard Karban, ecologista da Universidade da Califórnia, em Davis, que não participou da pesquisa.

Os sons das plantas são muito agudos para os humanos ouvirem. Mas os sons estão dentro do alcance auditivo de outros animais, como ratos e mariposas. Há também a questão de saber se outras plantas poderiam estar ouvindo o drama de suas vizinhas.

O grupo da dra. Hadany mostrou anteriormente em um artigo de 2019 que algumas flores respondem ao som de polinizadores se aproximando produzindo mais néctar. Descobrir se outros organismos respondem aos ruídos produzidos por plantas estressadas, bem como usar potencialmente as informações que esses ruídos sugerem sobre as condições das plantas, é um próximo passo importante. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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