Não deixe que a pandemia de covid-19 te impeça de tomar outras vacinas

Mesmo enquanto adultos mais velhos anseiam pela pela vacina contra o coronavírus, muitos deles estão deixando de tomar outras imunizações. Isso não é prudente, afirmam especialistas na área da saúde

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Por Paula Span
Atualização:

Peggy Stein, de 68 anos, professora aposentada de Berkeley, na Califórnia, não tomou a vacina contra a gripe em 2020. O raciocínio dela: “Como eu posso pegar gripe se estou sendo tão incrivelmente cuidadosa por causa da covid?”. Karen Freeman, 74 anos, sempre pensa em se vacinar contra herpes-zóster, mais ainda não o fez. A administradora de faculdade aposentada de St. Louis brincou: “A negação tem funcionado bem para mim há muitos anos”.

Sheila Blais, que vive em uma fazenda em West Hebron, Nova York, nunca recebeu nenhuma vacina para adultos. Ela também nunca ficou gripada. “Sou tão introvertida que quase não saio da fazenda, assim, não me exponho”, afirmou Sheila, 66 anos, artista plástica que trabalha com fibras. “O que não está quebrado não precisa de conserto”.

Ilustração de Chris Lyons/The New York Times. 

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Enquanto adultos mais velhos anseiam pela vacinação contra a covid-19, autoridades de saúde pública também se preocupam com sua abstenção, seu esquecimento ou simplesmente sua falta de conhecimento a respeito dessas outras vacinas — recomendadas para adultos, conforme envelhecemos e nosso sistema imunológico enfraquece.

“Podemos melhorar muito nesse sentido”, afirmou o médico Ram Koppaka, diretor-associado para imunização de adultos dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Todos os anos, campanhas pedem aos adultos mais velhos que se protejam contra doenças infecciosas evitáveis. Afinal, a influenza matou de 12 mil a 60 mil americanos anualmente ao longo da última década — a maioria deles, com 60 anos ou mais — e foi responsável pela internação de 140 mil a 810 mil pessoas por ano.

A pandemia do coronavírus introduziu outra urgência. Os hospitais estão se enchendo rapidamente com pacientes de covid-19; em muitos lugares, já estão lotados, com as equipes sobrecarregadas e exaustas.

“Sabendo o quão sobrecarregado o sistema de saúde está, a prevenção é a chave”, afirmou  a infectologista Nadine Rouphael, pesquisadora de vacinas da Universidade Emory. “Enquanto registramos recordes de mortes, por que iríamos a hospitais para tratar doenças que as vacinas ajudariam a evitar?”

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Ainda assim, faz tempo que o trabalho de vacinação voltado para as crianças nos EUA é muito melhor do que aquele voltado para os idosos. As estatísticas mais recentes, de 2017, mostram que aproximadamente um terço dos adultos com mais de 65 anos não tinha tomado vacina contra gripe no ano anterior. Cerca de 30% não tinham tomado vacina antipneumocócica.

A proporção dos que tomaram vacina contra herpes-zóster, adicionada recentemente à lista, aumentou, mas, até 2018, somente 34,5% das pessoas com mais de 60 anos tinham sido vacinadas.

Além disso, Koppaka ressaltou: “Quando analisamos mais profundamente, vemos diferenças persistentes profundas e significativas na proporção de adultos negros e hispânicos sendo vacinados, em comparação aos brancos da mesma faixa etária. Isso é realmente inaceitável”. Cerca de 40% de brancos não hispânicos foram vacinados contra herpes-zóster, por exemplo, contra menos de 20% de negros e hispânicos.

É de se esperar que um grupo que consiga se lembrar do medo causado pela poliomielite e pelos surtos de coqueluche seja menos hesitante em se vacinar do que pessoas de menos idade. “Você provavelmente tem um conceito diferente a respeito de vacinação do que alguém que nunca viu o que uma doença viral grave é capaz de fazer”, afirmou Koppaka.

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Tratando-se da vacina contra a covid-19, por exemplo, somente 15% das pessoas com mais de 65 anos afirmam que, definitivamente ou provavelmente, não a tomariam, contra 36% das pessoas com idades entre 30 e 49 anos, mostrou uma pesquisa da Kaiser Family Foundation (Peggy, Sheila e Karen afirmam que aceitariam alegremente tomar a vacina contra covid).

Para outras doenças, porém, as taxas de adesão à vacinação diminuem. Mas qual a razão para a diferença na cobertura, dado que pessoas mais velhas são mais vulneráveis às doenças evitadas pelas inoculações?

Clínicos gerais e especialistas em outras áreas da medicina para o tratamento de adultos promovem as vacinas com menos insistência que os pediatras, afirmou o infectologista William Schaffner, da Universidade Vanderbilt. Pacientes mais velhos, que costumam frequentar consultórios de vários especialistas, também podem ter dificuldade em lembrar quando tomaram cada vacina.

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Especialistas temem que as taxas de vacinação tenham caído ainda mais entre as pessoas mais velhas durante a pandemia, como ocorreu entre as crianças, caso os idosos, receosos de ir ao consultório do médico ou às farmácias, tenham deixado de tomar as doses devidas.

Nos EUA, obstáculos financeiros e burocráticos também prejudicam esforços de vacinação. O Medicare Part B abrange três vacinas: contra gripe, antipneumocócica e, quando indicada, contra hepatite B.

As vacinas tríplice bacteriana e contra herpes-zóster, porém, são cobertas pela Part D, o que pode complicar o reembolso para os médicos; é mais fácil obter essas vacinas em farmácias. Nem todos os beneficiários do Medicare adquirem a Part D — e, para aqueles que pagam por essa categoria, a cobertura varia conforme o plano e pode incluir restituições e pagamentos conjuntos.

Ainda assim, adultos mais velhos conseguem obter acesso às vacinas mais recomendadas grátis ou pagando pouco, por meio de consultórios médicos, farmácias, supermercados e departamentos de saúde locais. Para o benefício de todos, é isso que eles deveriam fazer. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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