No momento da escrita desta coluna, a tragédia climática do Rio Grande do Sul já causou pelo menos 149 mortes e afetou diretamente mais de 2 milhões de pessoas. A crise teve início com o alerta vermelho de volume elevado de chuva emitido em 29 de abril pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No dia seguinte, 30 de abril, foram registradas as primeiras cinco mortes causadas pelas chuvas.
As origens naturais do desastre são atribuídas em primeiro lugar às ondas de calor no Sudeste e Centro-Oeste. Quando combinadas com as consequências do El Niño no Oceano Pacífico, essas condições criaram um corredor de intensa umidade em direção ao Rio Grande do Sul.
As causas e as consequências das mudanças climáticas têm sido estudadas pela ciência há muitas décadas, com consensos já bem estabelecidos. O primeiro é que o planeta está passando por um aquecimento significativo. A última década foi a mais quente já registrada, com cada novo ano frequentemente estabelecendo recordes de temperatura.
O segundo grande consenso é que a maior parte do aquecimento global das últimas décadas pode ser atribuída às atividades humanas, principalmente à queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) e ao desmatamento de nossas florestas.
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A ciência não apenas identifica os culpados, mas também desenvolve as soluções, que incluem inovações tecnológicas como energias renováveis, técnicas de captura e armazenamento de carbono, aumento da eficiência energética, reflorestamento e melhorias na gestão de resíduos.
Além disso, novas tecnologias como o uso de algoritmos de inteligência artificial (IA) podem também contribuir para a resposta a essas tragédias, por meio do monitoramento de eventos climáticos extremos, da gestão adequada dos recursos hídricos, da simulação de possíveis impactos climáticos e da predição do efeito de estratégias de mitigação.
Para garantir a implementação eficaz dessas soluções, é necessário um investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento. Empresas, governos, e instituições de ensino devem colaborar para promover a inovação e a aplicação prática das descobertas científicas. Além disso, formar profissionais capacitados é essencial para enfrentar os desafios climáticos com soluções inovadoras e eficazes.
A realidade, entretanto, é que temos seguido na direção oposta. Na semana passada, o atual governo de São Paulo divulgou a Lei Orçamentária Anual de 2025, que permite uma redução de até 30% no orçamento da Fapesp. Essa decisão revela um desconhecimento sobre o Estado de São Paulo e o fato de que todas as regiões desenvolvidas do mundo são sustentadas por uma base sólida de investimentos em ciência e tecnologia.
Escolher o caminho errado em um momento de grandes inovações tecnológicas terá graves consequências para nosso futuro e para as pessoas que vivem em regiões de risco. O negacionismo não é mais uma opção diante das tragédias climáticas. Como diz um cartaz comum em manifestações ambientalistas: não é por acaso que todo filme de desastre começa com um cientista sendo ignorado.
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