Você também odeia impressoras? Tem gente que paga para destruí-las com marretadas

No entanto, quebrar eletrônicos pode ser prejudicial à saúde, dizem especialistas

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Por Tatum Hunter

THE WASHINGTON POST - Três homens adultos contra uma impressora não era uma luta justa. Mas Armando Islas e seus amigos não se importavam. Os homens estavam celebrando o fim de seus exames de Direito no Bay Area Smash Room, uma unidade no subsolo onde os clientes pagam US$ 120 ou mais para quebrar coisas por 30 minutos.

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Esmagar a impressora seria bom, disseram eles, como uma vingança contra os equipamentos de baixa qualidade do campus que os atormentaram durante os últimos seis semestres da pós-graduação.

Esse tipo de raiva contra a máquina gerou uma indústria inteira. Por todo os EUA, os clientes podem reservar sessões em salas de destruição e pagar dezenas a centenas de dólares para quebrar pratos, móveis e — acima de tudo — impressoras.

Acontece que, no entanto, quebrar impressoras é meio perigoso.

Esse ritual agora controverso remonta pelo menos 24 anos ao cultuado filme “Office Space” de Mike Judge, no qual trabalhadores de escritório frustrados levam uma impressora para um campo e a destroem com tacos de beisebol. Desde 2016, aproximadamente, as salas de destruição têm fornecido um espaço onde pessoas comuns podem viver suas fantasias de “Office Space”, e todo esse ato de destruição é bom para o espírito, dizem os proprietários e clientes.

Por que os americanos odeiam tanto as impressoras a ponto de pagar dinheiro de verdade para esmagá-las com marretas? São vários os motivos, dizem os participantes. As impressoras travam e ficam sem tinta, confundem os estagiários, sem falar em problemas mais graves como suas peças insubstituíveis e ciclos de vida curtos. A HP, a maior fabricante de impressoras por remessas, recusou-se a comentar.

Impressoras viraram alvo da raiva dos usuários  Foto: Monique Woo / The Washington Post

A vingança é um motivo comum para os clientes das salas de destruição, diz Miguel Moises, que é proprietário e opera a Bay Area Smash Room no distrito financeiro de São Francisco. E quando os visitantes fazem questão de solicitar itens específicos para esmagar, há uma boa chance de pedirem uma impressora, diz ele.

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“Às vezes, nós hospedamos festas corporativas e eles só querem computadores e impressoras”, disse Moises. “Eles enlouquecem. Você nem reconhece os itens que eles quebraram depois.”

Problemas

Mas há problemas nesse paraíso movido à raiva. Os metais, gases e baterias dentro dos eletrônicos de consumo são ruins para nossos corpos, dizem especialistas ambientais. Agora, alguns governos locais estão proibindo as salas de destruição de quebrar eletrônicos em geral, deixando os proprietários desses locais à procura de novos objetos para os clientes direcionarem sua ira.

Peter Wolf, que possui uma sala de destruição em Los Angeles, EUA, chamada Rage Ground, teve que parar de oferecer impressoras completamente depois que o governo local impediu negócios como o dele de quebrá-las. Wolf mudou de estratégia e começou a dar aos clientes mais pratos e móveis, mas no início foi difícil atrair clientes sem prometer a eles tecnologia para destruir, diz.

“Todas essas salas de destruição são pequenas empresas individuais, então cabe a cada uma delas encontrar uma solução que funcione para elas em termos de obtenção de um inventário que não seja eletrônico por um preço que as pessoas queiram destruir e quão criativas elas se tornam em resolver esse problema”, disse Wolf. “Alguns serão capazes de se ajustar, e outros irão fracassar.”

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A maneira como lidamos com eletrônicos envelhecidos ou com mau funcionamento afeta não apenas nossas comunidades, mas o mundo inteiro, disse Carlton Waterhouse, professor de direito na Universidade Howard e diretor do Centro de Justiça Ambiental e Climática da escola de direito.

Muitos de nossos gadgets emitem produtos químicos perigosos quando são destruídos, e qualquer coisa com uma bateria de ferro de lítio corre o risco de pegar fogo ou explodir. Pessoas que entram em contato com eletrônicos reciclados de forma inadequada — incluindo pessoas vulneráveis no exterior que vasculham lixões em busca de peças para revender — estão em risco de efeitos adversos à saúde, disse Waterhouse.

Os operadores de salas de destruição podem mitigar esses riscos retirando as baterias e placas-mãe dos eletrônicos com antecedência ou pedindo aos consumidores para evitar esmagar pedaços recicláveis de carros ou computadores.

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Larry Franklin, coproprietário do Lose It Rage Room em Woodbridge, EUA, disse que sua empresa sempre retira das placas-mãe, baterias e outras peças perigosas dos eletrônicos antes de oferecê-los aos clientes. Ele não ouviu nenhum boato de seu governo local regulando a destruição de impressoras, mas se isso acontecesse, ele está confiante de que o negócio ainda estaria bem, ele disse.

“Na verdade, não importa desde que eles tenham algo para atacar”, disse Franklin. “Eles querem gritar, berrar e chorar. Essa é basicamente a essência disso.”

Mas o maior problema, disse Waterhouse, é que as empresas de eletrônicos propositalmente projetam produtos que quebram. Depois, esses eletrônicos se acumulam em aterros sanitários — ou salas de destruição.

Precisamos de um novo modelo para reutilizar ou reformar nossas impressoras no fim da vida, disse Waterhouse. E se isso acontecer, também podemos precisar de um novo alvo para nossa agressão. /TRADUZIDO POR ALICE LABATE

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