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Por dentro da rede

Opinião|Vivemos as previsões de ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’

Evolução da internet e alertas de Arthur Clarke sobre conteúdo trivializado na rede ressaltam a necessidade de regulamentações para proteger direitos individuais diante do avanço da IA

Foto do author Demi  Getschko
Atualização:

A internet tem sua data de nascimento vinculada a quando a Arpanet, então ainda um projeto, conseguiu trocar seus primeiros pacotes de informação, em 29 de outubro de 1969. Um ano antes disso houve o lançamento do livro de Arthur Clarke (e do filme de Stanley Kubrick), “2001, uma odisséia no espaço”. Numa antevisão do que o nascente e poderoso meio de comunicação global poderia gerar, há uma frase no livro de Clarke que mereceria uma exegese detalhada. Diz que “quanto mais maravilhosos os meios de comunicação se tornarem, mais trivial, vulgar ou deprimente seu conteúdo tenderá a ser”. Um alerta que pode ter passado despercebido…

Sem dúvida é um enorme avanço o que temos hoje, quanto ao acesso, disponibilidade e geração instantânea de informação de e para todos, mas, sem dúvida, não se pode negar uma explosão do uso trivial, vulgar e leviano, com as respectivas consequências no tecido social.

Ainda não temos máquinas tão sofisticadas quanto HAL9000, mas alertas da obra são importantes  Foto: Reprodução

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Outra analogia que vem naturalmente do filme e de suas previsões, é o poder do computador de bordo, o HAL9000, e, com ele, os riscos que IA pode nos trazer. O HAL9000 seria um avançado equipamento digital, dotando de poderosa inteligência artificial (IA) e destinado a controlar a operação da nave em sua viagem a Júpiter. Ele exibe raciocínio estratégico para atingir, a qualquer custo, o objetivo da missão - chegar a Júpiter. A situação no ambiente na nave complica-se após o que teria sido uma inesperada e improvável falha de previsão do HAL, quanto a um problema de comunicação com o centro de operações.

A surpreendente falha gera tensão entre os tripulantes, que cogitam até em desligar o equipamento por terem perdido a confiança nele. Devido à sua condição quasi-humana, entretanto, o HAL, que usa até leitura labial para interpretar o diálogo dos tripulantes, passa a considerá-los um risco à missão. Decide desligar equipamentos de sustentação de vida e, ao final, há inclusive um diálogo em que HAL faz chantagem emocional contra seu possível desligamento.

Estamos muito longe de termos sistemas que exibam a complexidade de reações como as do HAL, que demostraria autoconsciência, raciocínio sofisticado e, até, emoções que emulam as de um humano, mas não podemos deixar de pontuar os avanços muito rápido e surpreendentes da tecnologia na área e, claro, os riscos que trazem a direitos individuais básicos. Aliás, na semana passada, foi apresentada uma versão revista do projeto de lei 2.338, que trata da regulação da IA.

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Estará aberta a comentários por mais uns 20 dias e é um texto alentado, que traz mudanças importantes quanto à sua versão anterior, indo mais ao encontro da legislação que se está defendendo na Europa e nos EUA. A preocupação em “proteger direitos” está expressa no projeto, e existe a percepção de não tolher a priori iniciativas e avanços tecnológicos na área. O risco, sempre, está em agirmos de afogadilho, premidos pela ansiedade que se manifesta. Sempre bom lembrar da máxima atribuída a Augusto, imperador romano da época de Cristo: festina lente - “apressa-te devagar”.

Opinião por Demi Getschko

É engenheiro eletricista

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