‘Há uma chance de sermos forçados a desmembrar o Instagram’: julgamento mostra preocupação de Zuck

CEO da Meta prestou depoimento novamente em caso de monopólio na justiça dos EUA, que começou nesta segunda, 14

PUBLICIDADE

Foto do author Bruna Arimathea

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, compareceu ao tribunal novamente para prestar depoimento no segundo dia do julgamento que pode decidir se a gigante de tecnologia será obrigada a vender suas operações do Instagram e do WhatsApp. Respondendo perguntas sobre o processo de compra dos apps, Zuckerberg negou que tenha feito as aquisições para eliminar a concorrência no setor de redes sociais e afirmou que considerou tornar o Instagram uma operação separada em 2018.

PUBLICIDADE

Um e-mail exibido à corte durante o depoimento de Zuckerberg no tribunal americano de Columbia, em Washington, mostrou que o executivo comentou com colegas sobre a possibilidade de o Instagram ter uma operação separada à do Facebook como empresa.

“Embora a maioria das empresas resista às separações, o histórico corporativo mostra que a maioria das empresas realmente têm um desempenho melhor depois de terem sido separadas”, disse o CEO na mensagem em 2018.

Zuckerberg destacou que gostaria de ter desenvolvido apps semelhantes ao Instagram e o WhatsApp dentro da empresa, mas que nem todos os projetos deram resultados Foto: Jason Andrew/NYT

A ideia já era uma antecipação do que a empresa poderia enfrentar no futuro, caso alguma ação judicial colocasse a companhia em escrutínio em relação a sua operação de redes sociais. Na época, o primeiro mandato de Donald Trump já abria alguns processos contra Big Techs, em especial em relação a possíveis monopólios.

Publicidade

“(Existe) uma chance não trivial de sermos forçados a desmembrar o Instagram e talvez o WhatsApp nos próximos 5 a 10 anos”, afirmou Zuckerberg no e-mail O CEO ainda instruiu diretores mais próximos de que “devemos ter em mente que há uma chance real de que todo o nosso trabalho para criar uma família de aplicativos possa ser algo que não possamos manter”.

“Não é muito difícil imaginar o aumento dos apelos para desmembrar as empresas de tecnologia e (imaginar) o próximo presidente democrata tomando medidas para isso”, escreveu Zuckerberg em 2018. “Nesse momento, enfrentaremos uma pressão extremamente alta, danos à marca e distração”.

Um dos fundamentos para o caso da FTC contra a Meta é uma troca de mensagens entre Zuckerberg e outros executivos, onde o bilionário afirma que é melhor fazer aquisições de empresas do que competir com elas - argumento utilizado para sustentar a lógica monopolista. No tribunal, o CEO da Meta tentou diminuir o peso da declaração, afirmando que esse movimento é natural quando se faz uma compra do tipo.

Desde o primeiro dia de depoimento, Zuckerberg destacou que gostaria de ter desenvolvido apps semelhantes ao Instagram e o WhatsApp dentro da empresa, mas que nem todos os projetos que começaram a ser trabalhados internamente deram resultados. A Meta - ainda chamada Facebook - comprou o Instagram em 2012 por US$ 1 bilhão, e o WhatsApp em 2014 por US$ 19 bilhões.

Publicidade

“Criar um novo aplicativo é difícil. Provavelmente tentamos criar dezenas de aplicativos ao longo da história da empresa, e a maioria deles não deu certo”, apontou o CEO.

“Entendo o valor comercial de ter o Instagram e o Facebook juntos, por isso não levanto essa questão levianamente”, afirmou o CEO em um e-mail em 2018. “Também não estou sugerindo que esse seja o resultado provável. Mas também não acho que seja tão louco quanto pode parecer inicialmente.”

Snapchat na mira

Zuckerberg também comentou sobre a concorrência com o Snapchat e a oferta de compra que fez pela rede social. “Pelo que vale, acho que se tivéssemos comprado a empresa (Snapchat), provavelmente teríamos acelerado seu crescimento”, afirmou Zuckerberg. “Mas isso é obviamente uma especulação”.

No início dos anos 2010, a empresa reconheceu o potencial de usuários do Snapchat e considerou como o app entraria na estratégia da Meta.

Publicidade

PUBLICIDADE

“Precisamos levar a sério essa nova dinâmica, tanto como um risco competitivo quanto como uma oportunidade de produto para adicionar funcionalidades que muitas pessoas claramente adoram e querem usar diariamente.” Por causa do Stories, ele escreveu, “o Snapchat agora é mais um concorrente do Instagram e do Feed de notícias do que jamais foi para mensagens”.

Em 2013, Zuckerberg abordou o CEO do Snapchat para tentar uma oferta de US$ 6 bilhões e alertou o seu time que se preparassem caso a movimentação tivesse valores vazados na imprensa. “Entreguei a oferta a Evan [Spiegel, CEO da Snap] e ele pareceu aceitá-la bem”, escreveu Zuckerberg. No mesmo dia, Spiegel devolveu a oferta com uma recusa. “Ele diz que a oferta é o que ele quer, mas ele só quer construir a empresa por conta própria”, explicou Zuckerberg no tribunal.

No mesmo ano, uma outra oferta, de US$ 3 bilhões, pelo Snapchat foi amplamente divulgada, mas o negócio não foi para frente. O Instagram lançou os Stories, publicações temporárias semelhantes ao formato do Snapchat em 2016.