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Quem é a Palantir, a mais obscura gigante da tecnologia?

Com contratos com o governo dos EUA, startup deve ter maior abertura de capital da tecnologia desde o Uber

Por Cade Metz , Erin Griffith e Kate Conger
Atualização:
Engenheiros da Palantir é um dos diferenciais da empresa Foto: Peter DaSilva/The New York Times

A Palantir Technologies está se preparando para a maior abertura de capital de uma empresa de tecnologia desde o Uber, no ano passado. Mas muitos ainda se perguntam: o que essa empresa influente e pouco conhecida faz, exatamente?

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Com a oferta de software – e, igualmente importante, equipes de engenheiros que personalizam esses programas –, a Palantir ajuda as organizações a interpretar vastas quantidades de dados. Ela ajuda a reunir informações de diferentes fontes, como o tráfego da internet e registros de celular, e analisa essas informações. Essas peças aparentemente díspares são reunidas em um quadro que faça sentido para seus usuários.

Mas podem ser necessários muitos engenheiros e bastante tempo para fazer com que a tecnologia da Palantir funcione como os clientes esperam. E essa mistura de tecnologia e força de trabalho humana confunde Wall Street no momento de avaliar o valor de mercado da empresa. A Palantir é uma empresa de software, um setor tradicionalmente rentável, ou é uma consultoria, menos lucrativa? Ou seriam ambas as coisas? “Para investidores, a empresa é como um cubo mágico”, diz Daniel Ives, da consultoria Wedbush Securities.

Terroristas

Criada em 2003, a Palantir diz que a sua tecnologia é ideal para rastrear terroristas, reproduzindo um boato de que teria ajudado a localizar Osama Bin Laden. 

Financiada em parte pela In-Q-Tel, braço investidor da Agência de Inteligência dos EUA, a empresa desenvolveu sua principal tecnologia de software, batizada de Gotham, pensando em usá-la na CIA.

As tecnologias da Palantir também são capazes de localizar imigrantes vivendo nos EUA ilegalmente – a Agência de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) tem usado o recurso sob ordens da Casa Branca, segundo documentos federais. Nos últimos anos, a Palantir tentou crescer no setor privado, atendendo a grandes empresas como Airbus, Ferrari e o banco JPMorgan Chase.

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A empresa de 2,5 mil funcionários detém uma fatia de 3% de um mercado de análise de dados, que hoje movimenta US$ 25 bilhões, segundo a consultoria PitchBook.

A Palantir captou mais de US$ 3 bilhões em financiamento – investidores calculam que seu valor de mercado seja de US$ 20 bilhões, mas a empresa não lucrou desde a sua fundação. Em 2019, a receita da Palantir foi de US$ 742,5 milhões, alta de quase 25% em relação ao ano anterior. Mas a empresa perdeu mais de US$ 579 milhões, prejuízo comparável ao de 2018, segundo documentos divulgados recentemente.

Amigos no Pentágono

O governo dos EUA iniciou uma iniciativa chamada Project Maven para reformular a tecnologia militar do país por meio da inteligência artificial (IA). Para isso, valeu-se da experiência de mais de 20 empresas, incluindo a Palantir.

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No Project Maven, a Palantir ofereceu um software que lida com um vasto volume de imagens de vídeo feitas por drones operados pelo exército e pela Força Aérea. Os especialistas em IA usam esse software para desenvolver sistemas capazes de identificar automaticamente edifícios, veículos e pessoas.

O The New York Times obteve documentos internos do governo que acusam a liderança do Maven de burlar as regras do Pentágono e favorecer a startup, cujos funcionários desenvolveram relações de incomum proximidade com seus parceiros dentro das Forças Armadas. Os documentos mostram a considerável influência da empresa dentro do governo.

O Departamento de Defesa deu início a uma investigação formal do Project Maven, segundo duas fontes próximas ao assunto que não têm autorização para comentá-lo publicamente. O resultado ainda é desconhecido. Um porta-voz do departamento de defesa para o Project Maven não quis se pronunciar.

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O modelo de negócio da Palantir nem sempre se ajusta aos contratos militares. Embora ofereça uma mistura de software e consultoria, todos os custos são incluídos em uma única licença de software. Em outras palavras, o trabalho de consultoria é incorporado às taxas de software. Tipicamente, o governo paga por trabalhos de consultoria independentemente das licenças de software.

Isso significa que os clientes pagam por uma tecnologia que ainda não foi desenvolvida. Jeff Peters, diretor da Esri, empreiteira que presta serviços ao governo, diz: “O modelo de negócios é diferente da maioria das empresas de tecnologia.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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