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Mochilas tecnológicas tornam possível ‘escutar’ música por estímulos na pele

Desenvolvimento de trajes podem beneficiar pessoas surdas ou com perda auditiva

Por Sarah Bahr

THE NEW YORK TIMES - Jay Alan Zimmerman, compositor e músico surdo, estava acostumado a se posicionar perto das caixas de som em clubes e baladas, esforçando-se para sentir as vibrações das músicas que não podia ouvir.

Então, quando foi convidado para testar uma nova tecnologia, ele ficou empolgado Trata-se de uma espécie de mochila, conhecida como “traje háptico”, que permite experimentar a música por meio de estímulos táteis e vibrações na pele — é como ter um bumbo nos tornozelos ou uma caixa de bateria na coluna.

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O traje háptico que Zimmerman, que começou a ficar surdo aos 20 anos, se tornou mais acessível ao público após uma década de testes. Os dispositivos estavam disponíveis em eventos como shows, festivais de tecnologia e até uma noite de “discoteca silenciosa”, evento no Lincoln Center em Nova York no qual as pessoas dançam enquanto ouvem música por meio de fones de ouvido sem fio.

Desenvolvido pela startup Music: Not Impossible, o dispositivo é composto por duas faixas no tornozelo, duas faixas no pulso e uma mochila que se prende com alças duplas sobre o tórax. Vestir isso é como receber um grande abraço de uma cadeira de massagem.

Mochila tecnológica da Music: Not Impossible permite "escutar" música pela pele Foto: Mohamed Sadek/The New York Times

Trajes hápticos, que também são usados em realidade virtual e videogames, existem há várias décadas. No entanto, os trajes da Music: Not Impossible são únicos porque os dispositivos transformam notas individuais de música em vibrações específicas. Outras empresas também estão produzindo produtos hápticos projetados para capturar as experiências sonoras de vários eventos. Exemplos incluem o estalo de um taco de beisebol em um evento esportivo transmitido por assentos vibratórios, ou experiências mais cotidianas como o som de um cachorro latindo traduzido por meio de um padrão de zumbidos em uma pulseira inteligente.

“Há uma revolução na tecnologia háptica acontecendo agora”, diz Mark D. Fletcher, pesquisador da Universidade de Southampton na Grã-Bretanha, que estuda o uso de hápticos para apoiar pessoas surdas ou com perda auditiva.

O desenvolvimento dos trajes beneficiou-se dos recentes avanços em microprocessadores, tecnologia sem fio, baterias e inteligência artificial, disse ele, todos componentes-chave no emergente mercado de dispositivos hápticos vestíveis.

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Desenvolvimento

Mick Ebeling, fundador da Not Impossible Labs, foi inspirado a experimentar trajes hápticos em 2014 quando viu um vídeo de um evento apresentando um DJ surdo, com música de graves potentes pulsando através de alto-falantes voltados para o chão e pessoas dançando descalças. O Sr. Ebeling queria encontrar uma maneira melhor para as pessoas surdas experimentarem música.

Daniel Belquer, compositor com mestrado em teatro, logo se juntou ao projeto com o objetivo de criar uma experiência tátil da música que estivesse disponível para todos, incluindo pessoas sem perda auditiva. Ele estava não apenas interessado em ajudar a comunidade surda, mas também intrigado como compositor.

Mochila tecnológica em ação em "discoteca silenciosa" em Nova York Foto: Mohamed Sadek/The New York Times

Ele trabalhou com engenheiros da Avnet, uma empresa de eletrônicos, para produzir um sistema de feedback háptico mais matizado para uso com experiências musicais, que cria uma sensação de toque por meio de vibrações e transmissão sem fio sem atraso. Mas os primeiros protótipos eram pesados e não sensíveis o suficiente para realmente traduzir a música.

Assim, ele ele solicitou feedback de membros da comunidade surda, incluindo Zimmerman, Mandy Harvey, uma cantora e compositora surda e a intérprete de língua de sinais Amber Galloway.

Zimmerman diz que a primeira versão do dispositivo que ele testou foi “não satisfatória”.

“Imagine ter sete ou oito celulares diferentes presos a várias partes do seu corpo, conectados a fios”, afirmou ele. “E depois eles todos começam a disparar aleatoriamente.”

Belquer aperfeiçoou a tecnologia até conseguir reunir 24 instrumentos ou elementos vocais em uma música pudessem ser traduzidos pontos diferentes no traje.

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Discoteca silenciosa

O Lincoln Center disponibilizou os trajes hápticos da Music: Not Impossible em duas de suas noites de discoteca silenciosa. Os participantes também ouviram música em fones de ouvido sem fio.

Atualmente, a Music: Not Impossible fornece os trajes para organizações como parte de um pacote completo, que inclui até 90 trajes; uma equipe de funcionários no local que ajudará as pessoas a colocá-los, responder perguntas e solucionar problemas com a tecnologia; bem como uma equipe de “DJs vibro” treinados para personalizar os locais de transmissão de vibração para cada música em um set.

Traje também envia estímulos para calcanhares e pulsos  Foto: Mohamed Sadek/The New York Times

Os preços começam a partir de alguns milhares de dólares para uma “experiência básica”, diz Belquer, que inclui alguns trajes e um DJ vibro - e podem chegar a seis dígitos para experiências que absorvem uma parte significativa do inventário de 90 trajes da empresa americana.

“A única exigência que fazemos nesse aspecto é que os surdos e deficientes auditivos nunca sejam cobrados por nossa experiência”, diz Belquer.

A falta de acessibilidade para a maioria dos consumidores é uma razão pela qual os trajes hápticos, embora promissores, atualmente sejam uma opção impossível para a maioria dos indivíduos que são surdos ou têm perda auditiva. /TRADUÇÃO POR BRUNO ROMANI

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