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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Facebook, Twitter e a ira de Trump

O clima é tenso. E as duas maiores redes sociais estão lidando de formas muito diferentes com a coisa.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Leah Millis/Reuters

O céu fechou no mundo das redes sociais — e, nesta, Facebook e Twitter sacaram suas armas, um mirando o outro. Cá no Brasil, o Congresso Nacional estuda criar uma lei de fake news. Nos EUA, Donald Trump quer regular sobre como as redes podem ou não moderar conteúdo. Dependendo de quem o democrata Joe Biden escolher para vice, pode vir um processo antitruste aí. E o debate não ocorre apenas aqui ou nos EUA, é por toda parte. O clima é tenso. E as duas maiores redes sociais estão lidando de formas muito diferentes com a coisa.

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Se a tensão é generalizada no Vale, dentro do Facebook está pior. Na semana passada, Donald Trump publicou em suas redes uma frase que disparou esta crise — ‘quando os saques começam, os tiros acompanham’. É uma frase carregada de história, que vem de princípios do século 20, quando o racismo no sul americano era institucionalizado. Trump alega que não sabia deste histórico. Mas o fato é que negros compreendem bem seu significado. É chamamento à brutalidade, aos linchamentos, ao espírito da Ku Klux Klan.

Quando Trump publicou, o Twitter agiu. Pôs uma mensagem para quem quisesse ver alertando: o post do presidente da República violava as políticas contra incitação à violência da plataforma. Literalmente acusaram Trump de provocar violência. Além do alerta, a rede proibiu curtidas, retuítes ou comentários. Por ser o presidente, a mensagem ficava. Mas não poderia ser distribuída e interações foram proibidas.

No Facebook, a decisão foi distinta. Após consultas internas com seus principais executivos, Mark Zuckerberg tomou a decisão de não fazer nada. O Recode, importante site dedicado a análise do mundo digital, obteve os registros de uma teleconferência entre o líder e seus funcionários. “Eu sabia que seria cobrado”, afirmou Zuck. “Concluímos após muita pesquisa e muitas conversas de que a referência é um pedido a policiamento mais agressivo mas que não há história de a frase ser apito para cachorros.”

Dog whistle, a expressão americana. Aquele apito que faz um barulho que os cachorros ouvem mas humanos, não. Em inglês, é metáfora. Uma frase que um grupo capta pela referência cultural, mas que para outros não faz qualquer sentido. Ou seja, a acusação era de que Trump estava mandando uma mensagem para os brancos racistas, para os negros do sul, que no entanto para qualquer outro pareceria um tuíte hiperbólico e só. No Twitter, foi assim que consideraram ser. No Facebook, em decisão monocrática como costuma ocorrer, Zuckerberg decidiu que estava tudo bem.

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O encontro virtual, que reuniu 25 mil funcionários, teve tom duro. Na segunda, 400 funcionários cruzaram os braços em protesto. Uma carta aberta assinada por algumas das pessoas que ajudaram a fundar o Facebook reiterou a queixa. A empresa se voltou contra o CEO e, no entanto, é dado pelo contrato que rege a companhia que as decisões finais são de Zuck e só dele.

O jovem CEO paga um preço alto por sua estratégia de apaziguamento. Os grupos conservadores lá, cá e por todo o mundo, acusam as redes sociais de serem coordenadas por pessoas de esquerda que censuram suas vozes o tempo todo. Pois a política do CEO do Facebook é uma de não mexer no que políticos eleitos publicam. É uma decisão controversa. Mas a escolha de Jack Dorsey, CEO do Twitter, é igualmente controversa. Um número mirrado de empresas — Facebook (dona do Instagram), Twitter e Google (YouTube), no máximo Snap — controlam os espaços onde temos conversas sobre o que é público.

É um monopólio. Na ausência de diversidade, a tensão não irá embora tão cedo.

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