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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Pagar para usar o Facebook e o Instagram pode ser revolucionário para a internet

Meta pode transformar a internet ao cobrar para que usuários tenham redes sociais sem anúncios

Foto do author Pedro Doria

A Meta ainda não anunciou oficialmente, mas os usuários europeus de Facebook e Instagram devem ganhar a possibilidade de uma assinatura dessas redes sociais. Os assinantes ganham, em troca, pleno acesso a todos os serviços sem nenhuma publicidade. Será preciso esperar para ver o impacto — quantas pessoas terão interesse, se o negócio parecerá promissor para levar ao resto do mundo, ou mesmo quanto as redes se transformam quando deixam de ser gratuitas e passam a ser pagas. Muita gente aposta que pode ser revolucionário. Transformador. Que pode ser bom para todo mundo.

Há um aforismo corrente no Vale do Silício: se recebeu de graça, o produto é você. Quando a internet era bastante jovem, ali por princípios dos anos 2000, havia um debate imenso a respeito de que modelo de negócio sustentaria tantas empresas. A onda levou todos para um mecanismo no qual se construíam audiências na casa das dezenas e centenas de milhões, depois bilhões, e a partir daí se apresentava propaganda automatizada para todo mundo. É o mundo em que vivemos.

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Na internet, o produto não é a busca, não é a caixa de comentários ou o vídeo que alguém produziu. O que está sendo vendido nesses negócios é o olhar capturado pela busca, pela mensagem, pela distração. O produto vendido nos negócios digitais somos nós.

Se o produto fosse a busca, o comentário ou o filme, aí seria por isso que se pagaria. É o que a assinatura que a Meta planeja criar faz. A lógica do negócio se inverte.

Como seriam as redes sociais se fossem, realmente, sociais e não antissociais?

Lógicas de negócio são poderosas. Porque se decidiu vender nossa atenção para anunciantes de todos os tamanhos, foi preciso construir plataformas capazes de capturar atenção. Por isso, os algoritmos que regulam os sistemas são configurados para que tornemos e voltemos e, sempre nervosos, deslizemos o dedo pelas telas em busca daquela microinjeção de ânimo. Este algoritmo privilegia o sensacional, o que dá raiva, o que mobiliza emocionalmente. Nos engaja em brigas com familiares e vizinhos, divide países.

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Produto como as plataformas de streaming que vendem assinaturas oferecem uma sorte muito distinta de emoções. Engajam pela surpresa, pelo prazer coletivo de descobrir uma série e debater sobre ela. Promovem encontros, não desencontros. Então como seriam as redes sociais se, ao invés de venderem nossa atenção para anunciantes, vendessem a nós prazeres na forma de encontros. Se fossem, realmente, sociais e não antissociais?

Meta é a companhia-mãe do Facebook, Instagram e WhatsApp Foto: Dado Ruvic/Reuters - 2/11-2021

A Meta não confirma os planos de uma assinatura europeia. A notícia foi dada pelo New York Times, que a confirmou com quatro pessoas distintas diretamente envolvidas com os debates internos. A companhia, quando perguntada, tampouco negou a notícia. Para eles, faz todo sentido fazer o teste.

Será tarde demais? Ou um crescente número de pessoas dispostas a pagar poderia, aos poucos, mudar como as redes funcionam? O teste, parece, vai começar muito em breve.

Opinião por Pedro Doria
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