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Saiba quais são os dados que o Facebook armazena de você

Repórter do ‘New York Times’ fez a experiência de baixar o arquivo que contém as informações coletadas pela rede social – os resultados foram surpreendentes

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Por Brian X. Chen
No Congresso dos EUA, Mark Zuckerberg disse repetidas vezes que os usuários podem baixar seus dados do Facebook. O que esses arquivos contém é revelador sobre como a empresa coleta informações. Foto: Lawrence Jackson/NYT

Quando baixei uma cópia dos meus dados do Facebook na semana passada, não esperava ver muita coisa. Meu perfil é escasso, eu raramente publico algo no site e raramente clico em anúncios. Mas quando fui ver meu arquivo, foi como abrir a caixa de Pandora.

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Com alguns cliques, fiquei sabendo que cerca de 500 anunciantes tinham minhas informações de contato, que podiam incluir meu endereço de e-mail, telefone número e nome completo. Alguns deles eram totalmente desconhecidos para mim: como a Bad Dad, uma loja de peças de motocicleta, e Space Jesus, uma banda de música eletrônica. O Facebook também tinha minha lista telefônica inteira, incluindo o número para ligar para a campainha do meu apartamento. 

A rede social tinha até mantido um registro permanente das cerca de 100 pessoas que eu havia deletado da minha lista de amigos nos últimos 14 anos, incluindo minhas ex-namoradas. O Facebook sabia muito sobre mim – muito mais do que eu queria saber. Mas depois de olhar para a totalidade do que a empresa do Vale do Silício obteve sobre mim, decidi tentar compreender melhor como e por que meus dados foram coletados e armazenados. Também procurei descobrir o quanto dos meus dados poderia ser removido.

A forma como o Facebook coleta e trata informações pessoais foi um dos principais temas da semana, na qual Mark Zuckerberg, o executivo-chefe da empresa, respondeu a perguntas no Congresso sobre privacidade de dados e suas responsabilidades em relação aos usuários. Durante seu depoimento, Zuckerberg disse repetidamente que o Facebook tem uma ferramenta que permite aos usuários fazerem o download de seus dados que “permite que as pessoas vejam e retirarem todas as informações que colocaram no Facebook”.

Mas isso é um exagero. A maioria das informações básicas, como a data do meu aniversário, não pôde ser excluída. Mais importante, os dados em relação aos quais tenho objeções, como o registro de pessoas que deletei, também não puderam ser removidos do Facebook. “Eles não excluem nada, e essa é uma política geral”, disse Gabriel Weinberg, fundador da DuckDuckGo, empresa que oferece ferramentas de privacidade na Internet. Ele acrescentou que os dados foram mantidos para ajudar as marcas a veicular anúncios direcionados.

Beth Gautier, uma porta-voz do Facebook, explicou desta forma: “Quando você exclui algo, nós removemos isso para que não fique visível ou acessível no Facebook”. Ela acrescentou: “Você também pode excluir sua conta no momento em que quiser. Pode levar até 90 dias para excluir todos os backups de dados em nossos servidores.”

Explorar os seus arquivos do Facebook é um exercício altamente recomendável se você se preocupa com a forma como suas informações pessoais são armazenadas e usadas. Aqui está o que eu fiquei sabendo. 

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Exploração. Quando você baixar uma cópia dos seus dados do Facebook, verá uma pasta contendo várias subpastas e arquivos. O mais importante é o arquivo “index”, que é essencialmente um conjunto de dados brutos da sua conta do Facebook, onde você pode clicar em seu perfil, lista de amigos, linha do tempo e mensagens, entre outros recursos.

Uma parte surpreendente do meu arquivo de índice foi uma seção chamada Informações de contato. Ela continha os 764 nomes e números de telefone de todo as pessoas que estavam no catálogo de endereços do meu iPhone. Após uma inspeção mais minuciosa, descobriu-se que o Facebook tinha armazenado toda a minha lista telefônica porque eu fizera o upload dela ao configurar o aplicativo de mensagens do Facebook, o Messenger.

Isso era inquietante. Eu esperava que o Messenger usasse minha lista de contatos para encontrar outras pessoas que também estavam usando o aplicativo com as quais eu poderia me conectar com facilidade – e manter as informações de contato relevantes apenas para as pessoas que estavam no Messenger. No entanto, o Facebook manteve a lista completa, incluindo os números de telefone do meu mecânico, o número da campainha da porta do meu apartamento e de uma pizzaria.

O Facebook também manteve um histórico de cada vez que abri o Facebook nos últimos dois anos, incluindo qual dispositivo e navegador da Web eu usei. Houve dias, nos quais registrei minha localização, como quando eu estava em um hospital há dois anos ou quando visitei Tóquio no ano passado.

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A rede social mantém um registro desses dados como uma medida de segurança para sinalizar logins suspeitos de dispositivos ou locais desconhecidos – da mesma forma como os bancos enviam um alerta de fraude quando o número do seu cartão de crédito é usado em um lugar suspeito. Essa prática parecia razoável, então eu não tentei excluir essas informações.

Mas o que me incomodou foram os dados que eu havia explicitamente excluído, mas que permaneciam à vista. Na minha lista de amigos, o Facebook tinha um registro de “Amigos removidos”, um dossiê das 112 pessoas que eu removi junto com a data em que cliquei no botão “Excluir”. Por que o Facebook se lembra das pessoas que eliminei da minha vida?

A explicação do Facebook foi insatisfatória. A empresa disse que pode usar minha lista de amigos excluídos para que essas pessoas não apareçam no meu feed com o recurso “Neste dia”, que traz de volta memórias de anos passados ​​para ajudar as pessoas a lembrar. Eu prefiro ter a opção de excluir a lista de amigos excluídos para sempre.

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Anúncios. O que o Facebook reteve sobre mim não é nem de longe tão assustador quanto o grande número de anunciantes que têm informações minhas em seus bancos de dados. Descobri isso quando cliquei na seção Anúncios no meu arquivo do Facebook, que trouxe um histórico dos doze anúncios em que eu tinha clicado enquanto navegava na rede social.

Mais abaixo, havia uma seção intitulada “Anunciantes com suas informações de contato”, seguida por uma lista de aproximadamente 500 marcas, com a maioria esmagadora das quais eu jamais havia interagido. Algumas marcas pareciam obscuras e incompletas - uma delas era chamada de “Microfone Check”, que acabou sendo um programa de rádio. Outras marcas eram mais familiares, como Victoria's Secret Pink, Good Eggs ou AARP (uma revista para aposentados).

O Facebook disse que anunciantes desconhecidos podem aparecer na lista porque eles podem ter obtido minhas informações de contato de outros lugares, compiladas a partir de uma lista de pessoas que eles visavam. As marcas podem fazer o upload de suas listas de clientes em uma ferramenta chamada públicos-alvo personalizados (Custom Audiences), o que os ajuda a encontrar os perfis do Facebook dessas mesmas pessoas para veicular anúncios.

O resultado? Mesmo alguém que só circule pelo Facebook – como eu, que mal cliquei em qualquer anúncio digital – pode ter suas informações pessoais expostas a um enorme número de anunciantes. Isso não foi totalmente surpreendente, mas ver a lista de marcas desconhecidas que possuíam minhas informações de contato no arquivo do Facebook foi uma “dose de realidade”.

Tentei entrar em contato com alguns desses anunciantes, como o Very Important Puppets, um fabricante de brinquedos, para perguntar a eles o que fizeram com meus dados. Eles não responderam.

E o Google? Vamos ser claros: o Facebook é apenas a ponta do iceberg quando se trata do que as empresas de tecnologia da informação coletaram sobre mim.

Sabendo disso, também fiz o download de cópias dos meus dados do Google com uma ferramenta chamada Google Takeout. Os conjuntos de dados eram exponencialmente maiores que os meus dados do Facebook. Somente para minha conta de e-mail pessoal, o arquivo de meus dados do Google mediu 8 gigabytes, o suficiente para armazenar cerca de 2 mil horas de música. Em comparação, meus dados no Facebook eram de cerca de 650 megabytes, o equivalente a 160 horas de música.

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Aqui estava a maior surpresa do que o Google coletou sobre mim: em uma pasta chamada Anúncios, o Google manteve um histórico de muitos dos artigos de notícias que eu havia lido, como uma reportagem da Newsweek sobre funcionários da Apple andando entre paredes de vidro e uma reportagem do New York Times sobre o editor da nossa coluna Modern Love. Não cliquei em anúncios de nenhuma dessas histórias, mas a gigante de pesquisa registrou-as porque os sites tinham anúncios veiculados pelo Google.

Em outra pasta, chamada Android, o Google tinha um registro de aplicativos que eu abri em um telefone com sistema Android desde 2015, junto com a data e a hora. Isso parecia um nível extraordinário de detalhes.O Google não respondeu imediatamente a uma solicitação de comentário.

Em uma nota mais animadora, eu baixei um arquivo dos meus dados do LinkedIn. O conjunto de dados tinha menos de meio megabyte e continha exatamente o que eu esperava: planilhas de contatos e informações do LinkedIn que eu havia adicionado ao meu perfil. No entanto, isso traz pouco consolo. Fique sabendo: assim que você vir a grande quantidade de dados coletados sobre você, não poderá voltar atrás e esquecer. / Tradução de Claudia Bozzo

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