Arsênico na água ameaça 140 milhões, dizem cientistas

Pesquisadores alertam para risco de envenenamento, principalmente na Ásia.

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Por Richard Black
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Cerca de 140 milhões de pessoas, principalmente em países em desenvolvimento, estão sendo envenenadas por arsênico na água potável, de acordo com pesquisadores. Cientistas afirmaram, durante o encontro anual da Royal Geographical Society (RGS) em Londres, que a contaminação vai causar um número maior de casos de câncer no futuro. Regiões como o sul e o leste da Ásia concentram mais da metade dos casos de contaminação conhecidos no mundo. Consumir grandes quantidades de arroz cultivado em áreas afetadas também pode ser um risco para a saúde, segundo os cientistas. "É um problema global, presente em 70 países, provavelmente até mais", disse Peter Ravenscroft, pesquisador associado de geografia da Universidade de Cambridge. "Se você trabalhar com os padrões de água potável usados na Europa e na América do Norte, então verá que cerca de 140 milhões de pessoas em todo o mundo estão acima desses níveis e correndo riscos", acrescentou. O consumo de arsênico causa números maiores de alguns tipos de casos de câncer, incluindo no pulmão, bexiga e pele, além de outros problemas no pulmão. Alguns destes efeitos são percebidos apenas décadas depois da primeira exposição ao arsênico. "No longo prazo, uma em cada dez pessoas com altas concentrações de arsênico na água potável vai morrer devido a esta contaminação", disse Allan Smith, da Universidade da Califórnia em Bekerley. A resposta internacional, segundo o cientista, não está à altura da escala do problema. "Não conheço nenhuma agência de governo que deu (a este assunto) a prioridade que merece", acrescentou. Os primeiros sinais de que a água contaminada com arsênico poderá se transformar em uma grande questão em saúde apareceram na década de 1980, com a documentação de comunidades envenenadas em Bangladesh e em uma região da Índia. Para evitar beber a água da superfície, que pode estar contaminada com bactérias que causam diarréia e outras doenças, agências de ajuda promoveram a escavação de poços, sem suspeitar que água de poços podem vir com níveis elevados de arsênico. O metal está presente naturalmente no solo. Desde a década de 80, a contaminação em larga escala foi encontrada em outros países asiáticos como China, Camboja e Vietnã, na América do Sul e na África. O problema é menor na América do Norte e na Europa, onde a maior parte da água é fornecida por serviços públicos. Os cientistas reunidos em Londres afirmaram que os governos deveriam ter como prioridade a realização de exames na água de todos os poços para avaliar a ameaça que o arsênico representa para comunidades. "A África, por exemplo, provavelmente é menos afetada do que outros continentes, mas, com o pouco conhecimento, recomendamos o exame (da água)", disse Peter Ravenscroft. A equipe de Ravenscroft, em Cambridge, desenvolveu modelos por computador para prever quais regiões terão os maiores riscos, levando em conta geologia e clima. "Temos avaliações das bacias dos rios Ganges e Brahmaputra, por exemplo, e então procuramos por bacias semelhantes", disse. "Existem áreas semelhantes na Indonésia e nas Filipinas e poucos testes realizados nestas regiões. Mas ocorreram análises em Aceh (província indonésia), por exemplo. E foram encontrados sinais de arsênico", afirmou. Países asiáticos usam água para a agricultura e para beber, e esta pode ser uma fonte de contaminação por arsênico. O arroz geralmente é cultivado em campos inundados, com água dos poços. O arsênico é absorvido pelos grãos que são usados para alimentação. Andrew Meharg, da Universidade de Aberdeen, afirma que a transferência de arsênico do solo para o arroz é cerca de dez vezes mais eficiente do que em outras lavouras de grãos. Isso cria um problema em países como Bangladesh, onde o arroz está na base na alimentação. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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