Era um erudito que gostava dos Stones e do Pink Floyd

Impressionado, ele decorou várias falas do filme The Wall

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Por Ubiratan Brasil
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Jorge Luis Borges era fascinante não apenas como escritor, mas também pelas predileções heterodoxas. "Ele se sentia vitalizado pela música de Pink Floyd e Rolling Stones, que transmitia uma força que o tango sentimental e chorão não o fazia sentir", contou Maria Kodama, viúva e herdeira do escritor, à rede Deutsche Welle, durante a Feira de Livros de Frankfurt, ocorrida há duas semanas. "Borges até decorou diversas falas do filme The Wall, pois se impressionava com a enorme força das canções."Kodama participou da apresentação da Argentina como país convidado à edição de 2010 da feira, na qual Borges despontou como um dos grandes nomes da cultura nacional, encarnando a identidade argentina de raízes europeias. Ela também acompanhou o lançamento de um atlas relativo à obra do escritor. Na entrevista, ela se lembrou de um momento singular, que aconteceu em um hotel em Madri.O casal aguardava por uma pessoa que o levaria para jantar quando Mick Jagger se aproximou de Borges, tomou-lhe as mãos e disse: "Eu o admiro muito." Como não via com quem estava falando, o escritor perguntou quem era. Ao ouvir o nome de Jagger, Borges respondeu: "Ah, um dos Rolling Stones." Segundo Kodama, o músico ficou surpreso e perguntou como o conhecia. "Graças a Maria." "Eu havia contado a Borges que, no filme Performance (dirigido por Nicolas Roeg e Donald Cammell em 1970), aparecia uma grande foto dele e, se não me engano, Jagger surgia em uma cena lendo um livro de Borges."Kodama lembrou da importância dos sonhos para o escritor. Em um deles, Franz Kafka lhe ditou o poema Um Sonho. "Estávamos nos Estados Unidos. Ele se levantou e disse que queria me ditar algo." E, apesar de sempre corrigir e modificar sua obra, Borges manteve intacto esse poema. Quando Kodama quis saber os motivos, ele respondeu, com graça, que não podia fazê-lo, até que Kafka "diga que corrija, em outro sonho".

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