PUBLICIDADE

Polo de Manaus sente a crise com mais de 10 mil cortes

Por Tais Fuoco
Atualização:

A receita das empresas e a arrecadação de impostos podem não demonstrar, mas os dados do desemprego são sintomáticos do clima de apreensão que se instalou no Polo Industrial de Manaus (PIM) desde o final de 2008. No ano passado, o salto no número de demissões foi de 35 por cento sobre 2007. Além de reduzir oficialmente 4,5 mil postos de trabalho sobre o ano anterior, o sindicato local acredita que outros 6 mil empregos foram eliminados entre pessoas com menos de um ano de registro em carteira, já que esse tipo de rescisão não passa pelo sindicato. "Já temos alguns sinais de empresas com problemas", disse Oldemar Ianck, superintendente em exercício da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). "Até novembro, entretanto, nossos números não capturaram isso." De janeiro a novembro, último dado disponível na Suframa, as cerca de 400 empresas instaladas no polo acumularam receita de 28,57 bilhões de dólares, cifra 20 por cento superior aos 23,77 bilhões de dólares do mesmo período de 2007. O mês de novembro isoladamente, no entanto, já mostrou um recuo de 20,76 por cento em relação ao faturamento de outubro, dado que já acendeu a luz amarela na região. CORTES EM NOVEMBRO E DEZEMBRO O executivo da Suframa afirma que "é normal que os meses de novembro e dezembro tenham índices de demissão maior", já que outubro é o pico para essa indústria --que nesse período abastece os pedidos de Natal e, por isso, contrata um grande número de temporários. O próprio Ianck admite, no entanto, que a Suframa já detetou "cortes além da quantidade de temporários". Ele também aponta que "algumas (empresas) esticaram as férias coletivas e outras estão em negociação para redução da jornada de trabalho", mas prefere não citar nomes de companhias. O secretário de formação do Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, João Brandão, pondera que as demissões em 2008 foram muito mais amplas que 2007, mesmo levando em conta só os últimos meses do ano. Em novembro, segundo ele, foram 1.580 cortes, ante 680 do mesmo mês de 2007. "O número quase triplicou", disse. Em dezembro, por sua vez, as demissões foram de 2.732 pessoas, frente a 1.177 de dezembro do ano anterior. "A Suframa alega que o polo não foi afetado pela crise porque o faturamento e a arrecadação de impostos cresceu, mas o fato é que as empresas estão demitindo e não estão investindo", afirma o sindicalista. Por isso, na avaliação dele, "a crise já se instalou" e deve ser sentida com mais intensidade neste ano. NEGOCIAÇÕES COM ESFERAS ESTADUAL E FEDERAL Juntas, empresas e sindicato estão negociando com os governos estadual e federal contrapartidas tributárias para que as empresas assumam o compromisso de não demitir. No segmento de duas rodas, por exemplo, o governo do Estado do Amazonas reduziu o ICMS e ampliou o prazo de recolhimento do imposto, além de ter liberado as motocicletas emplacadas neste ano de pagar IPVA. "Fizemos indicação para estender esse acordo para a área de eletroeletrônicos, mas algumas empresas estão reticentes em assumir o compromisso de não demitir", explicou Ianck. Segundo ele, há casos de companhias que negociam três meses de férias com salários reduzidos e complementados pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Brandão explica que o sindicato não concordou com a proposta de redução salarial e, por isso, em algumas empresas acertou uma jornada de três dias por semana com o mesmo salário, sistema que começa a vigorar esta semana e deve durar até abril. Para o sindicalista, uma das áreas ainda pouco ou nada afetadas é a de celular. "A Nokia está vendendo bem e chegou a contratar 100 pessoas em dezembro", disse Brandão. Mas ele ressalta que, em meio às negociações com os governos, o sindicato foi surpreendido com a decisão de algumas companhias de fazer demissões em janeiro. "Nunca havia acontecido demissões em janeiro", destacou Brandão. Segundo ele, seis companhias decidiram demitir neste mês, promovendo algo como 800 cortes, dos quais 600 só entre a Sony Ericsson e a eVision. Brandão teme que, com o fim das férias coletivas de boa parte das empresas do polo, a partir de 22 de janeiro, a situação se agrave. Empresas e sindicato ainda tentam obter algum tipo de redução no PIS e Cofins, além de negociar a extensão dos benefícios oferecidos ao setor automobilístico para o segmento de duas rodas. "Os primeiros meses de 2009 serão cruciais", afirmou Brandão. A opinião é compartilhada por Ianck, para quem "se conseguirmos passar os primeiros três meses com os menores danos possíveis, no segundo trimestre deveremos ter uma recuperação".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.