Tortura e morte de bebê abrem debate sobre rede social britânica

Criança foi usada como 'saco de pancadas'; médicos não notaram coluna quebrada.

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Por Da BBC Brasil
Atualização:

O caso de um bebê de 17 meses que foi brutalmente assassinado depois de ser submetido à tortura chocou a Grã-Bretanha e abriu um debate sobre o papel dos assistentes sociais no país. A criança - identificada como "Bebê P", pela polícia - morreu no dia 2 de agosto de 2007 no distrito de Haringey, no norte de Londres, mas os detalhes do caso só vieram à tona neste ano, com o julgamento dos culpados. A autópsia revelou que o bebê foi usado como um "saco de pancadas" e que teve a sua coluna e oito de suas costelas quebradas. Apesar das constantes agressões ao bebê durante meses, os assistentes sociais que visitavam a casa duas vezes por semana não perceberam a gravidade do caso e não impediram a sua morte. Um médico não teria percebido, um dia antes da morte, que a coluna e as costelas do bebê estavam quebradas. No julgamento, a mãe da criança, de 27 anos, declarou-se culpada de provocar a morte e receberá a sentença em dezembro. Nesta terça-feira, o namorado dela, de 32 anos, e um hóspede que morava com o casal e a criança, Jason Owen, 36, foram condenados pela morte. A Justiça inocentou os assistentes sociais, que levaram uma advertência da subprefeitura de Haringey. Um relatório está sendo encomendado para determinar como o sistema de proteção de crianças está operando na Inglaterra. Coluna e costelas quebradas Durante o julgamento, o júri só viu imagens computadorizadas das lesões sofridas pelo bebê, porque as fotografias reais foram consideradas fortes demais. Além da coluna e das costelas quebradas, o bebê tinha vários cortes e machucados, inclusive com parte de sua orelha rasgada. Algumas das suas unhas foram arrancadas e um de seus dentes foi encontrado no seu estômago. Em setembro de 2006, a mãe disse ao seu médico que a criança "se machucava com facilidade". No mês seguinte, ela surgiu no consultório dizendo que o bebê havia caído de uma escada. Em dezembro, em nova consulta, o médico constatou mais lesões no "Bebê P". Pediatras do hospital de Whittington disseram então que as lesões pareciam ser "não acidentais" e os assistentes sociais do distrito de Haringey foram acionados para acompanhar o bebê. A polícia começou a investigar o caso. A mãe chegou a perder a custódia, mas reconquistou o direito de cuidar da criança em janeiro. O julgamento revelou que a polícia e os pediatras se opuseram à decisão, mas que os assistentes sociais argumentaram que a volta do bebê aos cuidados da mãe facilitaria a reintegração familiar. A mãe também mentiu aos assistentes sociais que nenhum homem estava morando com ela. O bebê voltou a ser levado ao hospital duas vezes, em abril e junho de 2007, com novas lesões. Na última visita de um assistente social, poucos dias antes da morte, a mãe sujou o rosto do bebê com chocolate, para disfarçar as marcas de agressões. Uma investigação posterior revelou que em uma nova consulta médica, no dia anterior à morte, um médico do hospital St. Ann não detectou que o bebê estava com a coluna e as costelas quebradas. Investigações Uma investigação interna da subprefeitura de Haringey culpou um dos advogados do órgão, que decidiu não tirar a custódia da mãe. O advogado e dois assistentes sociais receberam advertências. A instituição disse que houve "vários exemplos" de boas práticas dos assistentes sociais durante o caso, mas muitas "fraquezas" na transferência de informação entre as partes prejudicaram o trabalho coletivo. "O fato triste é que nós não conseguimos impedir pessoas que estão determinados a matar crianças", disse Sharon Shoesmith, do conselho de proteção das crianças de Haringey. Em 2000, assistentes sociais do mesmo distrito de Londres também não conseguiram impedir o assassinato de outra criança que foi torturada. Na época, um inquérito público foi aberto para identificar o papel de todos os envolvidos no caso da morte de Victoria Climbie. O relatório criticou a falta de comunicação entre as diferentes instituições e um fracasso "grosseiro e inexplicável". Mor Dioum, diretor da Fundação Victoria Climbie, que foi criada após o caso, disse que o incidente envolvendo o "Bebê P" é ainda pior que a morte ocorrida em 2000. Uma nova revisão do sistema de proteção às crianças na Inglaterra está sendo encomendada e deve ser conduzida pelo mesmo juiz que investigou o caso Climbie. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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