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Ucrânia acusa Rússia de cinismo por comboio de ajuda; número de mortes dispara

Por NATALIA ZINETS E DMITRY MADORSKY
Atualização:

A Ucrânia descreveu o envio de um comboio de ajuda da Rússia, atualmente a caminho de sua fronteira, como um ato cínico que objetiva insuflar a rebelião pró-Moscou, que a ONU informou nesta quarta-feira já ter cobrado quase mil vidas de combatentes e civis em duas semanas. Kiev declarou que o comboio não terá permissão para passar, mas mais tarde um porta-voz presidencial sugeriu que um acordo pode ser alcançado, colocando-o sob o controle do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (ICRC, na sigla em inglês). "Primeiro eles mandam tanques, mísseis Grad e bandidos que atiram em ucranianos, e depois mandam água e sal", declarou o primeiro-ministro, Arseny Yatseniuk, sobre o conflito que matou mais de duas mil pessoas desde meados de abril. "Não há limites para o cinismo russo". As declarações refletiram as suspeitas em Kiev e em capitais ocidentais de que a entrada do comboio em território ucraniano possa se tornar uma ação militar disfarçada para ajudar os separatistas do leste, que vêm perdendo terreno para as forças do governo. A Rússia, que vê os ucranianos que falam russo do leste sob ameaça de um governo que considera chauvinista, afirmou que qualquer insinuação de uma ligação entre o comboio e um plano de invasão é absurda. O comboio de caminhões partiu da região de Moscou na terça-feira e viajou cerca de 500 quilômetros até a cidade de Voronezh, no sudoeste russo. Lá parou em uma base aérea, de acordo com um repórter da Reuters. Uma porta-voz da ICRC em Genebra disse que a Rússia forneceu uma "lista generalizada" de bens no comboio para a entidade e as autoridades ucranianas, mas a agência necessita de um inventário detalhado. "Uma série de temas importantes ainda precisa ser esclarecida entre os dois lados, como os procedimentos de cruzamento da fronteira, liberação na alfândega e outros", disse Anastasia Isyuk. A lista dos 260 caminhões fornecida por Moscou inclui alimentos, garrafas de água e geradores de energia, disse ela. A porta-voz de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Cécile Pouilly, declarou que o número estimado de mortes saltou de 1.129 em 26 de julho para 2.086 em 10 de agosto. As cifras incluem soldados ucranianos, grupos rebeldes e civis, mas trata-se de "estimativas bastante conservadoras". "Isto corresponde a uma tendência clara de escalada", disse ela à Reuters. Não ficou claro se os números refletem um agravamento nos combates ou atrasos na coleta de dados de governo e agências locais. (Reportagem adicional de Stephanie Nebehay, em Genebra; Jason Bush, em Moscou; e Pavel Polityuk e Alessandra Prentice, em Kiev)

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