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A prévia do PIB e a insegurança

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Por Redação
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O mau estado da economia brasileira, com a indústria empacada e o desemprego em alta, foi mais uma vez confirmado pelo Banco Central (BC), com a divulgação, na quinta-feira passada, de seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br). O indicador caiu 1,07% de fevereiro para março, e ficou 2,7% abaixo do apurado um ano antes, na série livre de efeitos sazonais. Foi a terceira queda mensal consecutiva. No mesmo dia, um novo aumento da desocupação, de 6,2% em março para 6,4% em abril, foi informado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse dado corresponde à pesquisa realizada mensalmente nas seis maiores áreas metropolitanas. Os números são novos, mas nenhuma das duas más notícias surpreendeu.No primeiro trimestre, o índice de atividade baixou 0,81% em relação aos três meses finais de 2014. O tombo chegou a 1,18% em 12 meses. A tendência negativa combina, de modo geral, com as informações parciais publicadas nos últimos meses pelo IBGE e por entidades privadas, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para analistas do mercado, o IBC-Br vale como prévia do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado a cada três meses pelo IBGE.A estimativa oficial do PIB do primeiro trimestre deve ser divulgada no fim do mês. Economistas da área financeira e de consultorias têm projetado números negativos. Os cálculos do BC reforçam suas apostas. O número que o IBGE divulgará nos próximos dias será com certeza muito ruim.Se for positivo, hipótese hoje considerada improvável, deverá ser pouco maior que zero. Em qualquer caso, comporá o quadro geral de uma crise iniciada bem antes do aperto fiscal programado pela nova equipe econômica e dos últimos aumentos de juros. Em sua nova edição, as contas nacionais, sintetizadas na variação do PIB, ainda mostrarão os efeitos dos erros iniciados no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e agravados a partir de 2011.A publicação do IBC-Br coincidiu também com o lançamento da nova sondagem de atividade da CNI. Segundo a pesquisa, a deterioração do cenário continuou em abril, com nova queda dos principais indicadores do setor. O índice de evolução da produção caiu para 39,7 pontos e ficou 8,5 pontos abaixo do calculado para março. Valores abaixo de 50 apontam piora das condições. Também houve recuo nos indicadores de uso da capacidade instalada e do emprego. Os dados sobre a utilização do potencial produtivo são especialmente instrutivos.Em abril de 2011 - no começo, portanto, do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff -, os informantes da pesquisa mencionaram um nível de uso correspondente ao habitual. As respostas, nas sondagens seguintes, sempre indicaram um quadro pior. Com algumas oscilações, a distância entre o dado efetivo e o usual sempre tendeu a aumentar. No levantamento de abril, a diferença entre as respostas (35,6 pontos) e o padrão usual (50) chegou a 14,4 pontos. Foi a maior distância registrada a partir de 2010.Também na quinta-feira a Fundação Getúlio Vargas publicou a prévia da sondagem de maio das condições da indústria. O índice de confiança caiu 0,7% em relação ao nível final de abril. O indicador da situação atual diminuiu 1,1% e chegou a 75,3 pontos. O de expectativas baixou menos, apenas 0,3%, mas chegou ao menor nível da série, 69,4 pontos.As pesquisas sobre a confiança do empresariado - avaliação das condições presentes e evolução das expectativas - produzem uma informação especialmente importante. O inadiável ajuste das contas públicas é apenas parte do enorme conserto programado pela equipe econômica. Pôr em ordem as finanças do governo é condição para se evitar um rebaixamento da nota de crédito do País. Se esse rebaixamento ocorrer, o acesso ao crédito ficará mais difícil e o financiamento das contas públicas se tornará mais caro. Os defensores de uma política mais frouxa parecem desconhecer ou menosprezar esse risco. A arrumação fiscal, no entanto, é só um passo para a retomada do crescimento. A confiança dos empresários será um ingrediente indispensável. Por enquanto, esse ingrediente está em falta.